Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS
Invisíveis eles não são mais. Um mês
depois que tiveram suas histórias publicadas no Diário Gaúcho, na série de
reportagens que retratou a pobreza em Porto Alegre, sete famílias das regiões
periféricas da cidade tiveram mudanças positivas, que acabaram atingindo também
a vizinhança.
Uma pesquisa está sendo realizada por
especialistas da Ufrgs e da Pucrs, a Defensoria Pública da União foi à Restinga
e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores deu encaminhamentos
para alguns problemas de cada família.
Perfil da
pobreza
Motivados pela série do Diário, um grupo
de 20 alunos dos cursos de Economia e de Psicologia da Ufrgs e professores da
instituição e da Pucrs recomeçou, sábado passado, a pesquisa que há cinco anos
estudou a pobreza em Porto Alegre. O levantamento começou pela Ilha Grande dos
Marinheiros.
Com olhar inicialmente desconfiado, Sandra
da Cruz Rodrigues, 21 anos, atendeu ao chamado do professor Flávio Comim. Ao
aceitar responder as questões por 15 minutos, Sandra passou a fazer parte de
uma pesquisa que pretende ouvir, pelo menos, mil moradores de Porto Alegre para
traçar o novo perfil da pobreza.
- Vamos mapear a cidade, a partir das
regiões visitadas pelo Diário Gaúcho (Restinga, Mario Quintana e Partenon).
Nossa ideia é visitar as áreas mais vulneráveis durante um mês. O resultado da
pesquisa deverá ser divulgado no final do primeiro semestre - ressaltou Flávio.
Uma das primeiras a responder as
perguntas, Sandra, que tem uma renda mensal de R$ 450 para sustentar três
filhos, fez questão de ressaltar a vergonha que sente por ser pobre.
- Muitas vezes já me senti excluída,
injustiçada e humilhada por ser pobre. Não quero que meus filhos passem por
isso - ressaltou.
Trabalho
nas vilas
A presidente da Comissão de Defesa do
Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana da Câmara, Fernanda Melchionna
encontrou a família de Adão, providenciando documentos e agilizando
cadastramentos em programas sociais. Um relatório foi encaminhado ao Secretário
de Direitos Humanos, Luciano Marcantônio. Então, o Demhab entrou em ação.
- O próximo passo é a solicitação de água
encanada - revelou a vereadora.
Vanessa Cruz Barbosa, 30 anos, na
Restinga, está recebendo o acompanhamento da comissão para conseguir o
benefício da aposentadoria: ela sofre de doença degenerativa. Desde a matéria,
ela passou a receber ajuda de anônimos.
- Ganhei uma cama nova. Muitas roupas e
calçados dividi com os vizinhos - disse Vanessa, mãe de Laion, seis anos, e
Lorenzo, dois.
DPU na
comunidade
Os olhos marejados do ex-jóquei Adão Jesus
César de César, 58 anos, da Vila Chácara do Banco, na Restinga, deram lugar a
um sorriso. Desde que ele e a família tiveram a história estampada no jornal, a
vida tomou um novo rumo. De cara, recebeu uma enxurrada de doações. Um
empresário doará uma casa a Adão, que vive com a mulher e os quatro filhos num
estábulo.
Na quarta passada, Adão e a família
participaram de um evento promovido pela Defensoria Pública da União no RS na
sua vila. Dois defensores prestaram atendimento jurídico aos moradores, tirando
dúvidas previdenciárias. A decisão de visitar o bairro surgiu a partir da série
Invisíveis.
De acordo com a defensora Fabiane Lima
Monte, foram abertos quatro processos para a família de Adão relativos a
benefício assistencial de deficiente para a Maria Helena, regularização da
situação fundiária da área e a situação com o Dmae (a partir daí, poderia ser
construída uma nova casa) e enquadramento da família nos benefícios assistenciais
federais.
- Não pensava que isso tudo poderia
ocorrer. Estou muito feliz - revelou Adão.
AÇÃO
VOLUNTÁRIA
Uma rede de solidariedade formada por
leitores se formou desde o primeiro dia de reportagens. Os grupos de
voluntários Corrente do Bem-RS/Brasil e Espírito de Solidário farão, em 9 de
junho, uma ação para arrecadar alimentos e produtos de higiene e limpeza. O
mutirão será na Redenção (Monumento ao Expedicionário).
- Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós
juntos. Estamos projetando uma visita a todas regiões antes de fazermos a ação
- contou Luiza Baleeiro Sant'Anna, uma das organizadoras do evento.
E as
outras famílias?
- Núbia Nunes Cordeiro, 24 anos, Vila Elo
Perdido, Restinga - Já não divide uma cama de solteiro com os quatro filhos.
Ganhou um beliche para as crianças e comprou, a prazo, uma cama de casal.
Também começou a fazer a parede do banheiro. Mas continua sem água e tomando
banho de balde na rua.
- Marco Antônio Marcelino Rolim, 45 anos,
Ilha do Pavão - Recebeu a visita do Demhab para ver a situação da residência.
Comissão de Direitos Humanos está acompanhando a família.
- Tamires da Rosa Ferreira, 25 anos, Vila
Montepio, Mário Quintana - Apesar de estar no Bolsa Família, deve ser
cadastrada no Brasil Sem Miséria. Caso está com a Fasc.
- Fabiana Nunes da Silva, 32 anos, Ilha do
Pavão - Conseguiu um emprego. Demhab prometeu auxílio.
- Vanessa Oliveira Bandeira, 25 anos,
Maria da Conceição, Partenon - Obteve emprego e será amparada pelo Cras.
Reveja a
reportagem especial sobre Os Invisíveis:
Fonte:
Aline Custódio | DIÁRIO GAÚCHO
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