Na outra fatia, 15% ainda não fazem ideia de quem
deve ser o sucessor e alarmantes 35% já admitem: ninguém irá ficar no campo.
Embora compartilhe das mesmas dificuldades de tantos jovens do interior que acabam migrando para a cidade, Leonardo Piccoli, 17 anos, nem pensa em sair da propriedade rural da família.Foto: Daniela Xu / Agência RBS
Mais do que
tranquilidade, a calmaria do interior denota uma preocupação latente: o êxodo
rural e a falta de sucessores nas lavouras, algumas já praticamente
abandonadas. Das 4.948 propriedades rurais de Caxias, 1.739 são ocupadas por
apenas duas pessoas (ou seja, o restante da família, normalmente os filhos,
acabou migrando para a cidade), apontam dados do último censo.
O
dado preocupante não é exclusivo de Caxias: cerca de 35% das propriedades
rurais do Estado não têm sucessor e 15% ainda não sabem quem deve assumir a
produção. A informação integra pesquisa apresentada pelo presidente da
Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Elton
Weber, na última sexta-feira, em audiência pública na cidade sobre sucessão
rural, durante o 5º Horti Serra Gaúcha.
—
Apenas metade das propriedades já visualizam claramente quem continuará no
interior, o que é alarmante — destacou.
A
falta de garantia de renda é o principal motivo para a saída do jovem do campo,
seguida pela dificuldade em acessar créditos e pela falta de diálogo com os
pais, aponta levantamento:
—
Às vezes pensamos que apenas programas públicos resolverão o problema, mas as
questões intrafamiliares também influenciam muito. Em alguns casos, os pais
querem pagar R$ 50 por semana para o jovem e não tentam entender as
necessidades dessa geração — explicou Weber.
Uma
queixa comum dos jovens que moram no interior é a dificuldade de comunicação
existente em algumas localidades afastadas. Sinal de celular e internet, itens
essenciais para boa parte da juventude, funcionam mal em inúmeros pontos do
interior, comprometendo a qualificação profissional.
—
Aí o filho quer fazer faculdade, mas não tem nem internet para fazer os
trabalhos. Isso é muito desestimulante para o jovem — ilustra Rudimar
Menegotto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul,
que também esteve no encontro de sexta-feira.
Embora
compartilhe das mesmas dificuldades de tantos jovens do interior que acabam
migrando para a cidade, Leonardo Piccoli, 17 anos, nem pensa em sair da
propriedade rural da família. Morador de São Luiz, localidade de Farroupilha, o
rapaz ajuda o pai, Itacir, 50, desde que era criança.
Juntos,
os dois cultivam diariamente mudas de alface, repolho e tomate em um dos 20
hectares da propriedade. A mãe, Lidia, 49, cultiva e vende flores. A falta de
mão de obra é um dos fatores que faz a produção da família não ser maior:
—
Está complicado encontrar pessoas para trabalhar no interior, mas tenho certeza
que de qualquer forma quero continuar na agricultura — destaca.
As
irmãs de Leonardo, porém, não seguiram o mesmo caminho que ele e farão parte
das estatísticas dos jovens que abandonaram o campo. A mais velha, de 31 anos,
já nem mora mais no interior e, a de 22 anos, estuda Direito e pretende sair da
propriedade após se formar.
Fonte:
PIONEIRO
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