Produtora cultural tinha 94 anos
Eva Sopher faleceu nesta quarta-feira | Foto:
Paulo Nunes / CP Memória
A presidente da Fundação Theatro São Pedro, Eva
Sopher, morreu nesta nesta quarta-feira, aos 94 anos. Ela estava no Hospital
Moinhos de Vento, que informou que Dona Eva faleceu às 19h10min após ter dado
entrada em decorrência de uma broncopneumonia, que evoluiu para falência
orgânica múltipla e parada cardiorrespiratória.
Informações sobre velório e sepultamento serão
divulgadas pelo Theatro São Pedro. Funcionários do local, que estavam em
recesso, foram até o teatro na noite desta quarta para definir as homenagens.
Dona Eva, como era conhecida no meio cultural,
estava há mais de quatro décadas à frente do Theatro São Pedro. Em meados dos
anos 70, assumiu a direção do icônico centro cultural gaúcho. Até 1984, também
foi responsável por coordenar a restauração e reconstrução do espaço como
monumento histórico-cultural, preservando-o de uma possível demolição. Um ano
depois, reuniu 18 amigos e juntos fundaram a Associação Amigos do Theatro São
Pedro, que atualmente tem mais de mil associados.
Amor ao
Theatro São Pedro
“Eu amo o
Theatro São Pedro. Amo este espaço cênico. Foi amor à primeira vista, apesar da
condição precária em que o vi pela primeira vez, em 1960. Em 1975, quando fui
convidada para coordenar sua restauração, primeiramente recusei – estava demasiado
envolvida com outros projetos culturais. Mas meu esposo Wolf convenceu-me com o
alerta de que eles então certamente demoliriam o São Pedro, assim como haviam
feito com o teatro do outro lado da rua. Neste ponto eu aceitei a tarefa de
adotar aquele 'templo secular' como parte de minha vida”, contou ela no
prefácio do catálogo “Theatro São Pedro: 150 anos – Porto Alegre”.
Nascida
em 18 de junho de 1923, em Frankfurt, na Alemanha, Eva Sopher e seus pais
fugiram do nazismo para o Brasil nos anos 30. Em 1960, ela fundou em Porto
Alegre uma filial da “ProArte Sociedade de Artes Letras e Ciências”, iniciativa
que começou em São Paulo e organizava eventos culturais internacionais. Em
pouco tempo, o resultado já apareceu e ela conseguiu promover temporadas com até
24 espetáculos do mais alto nível na capital gaúcha. Já com o Theatro São
Pedro, a empreendedora cultural instituiu na região um espaço excepcional para
artistas locais iniciantes e estrelas internacionais.
Ao longo
de sua vida, Dona Eva recebeu diversas homenagens locais por seu trabalho, como
os títulos de “Personalidade do Ano” (Porto Alegre) e “Cidadã Honorária do
Estado” (Rio Grande do Sul). Mas sua atuação também foi reconhecida
internacionalmente e já em 1970 ela foi condecorada pelo presidente da Alemanha
por promover difusão cultural entre Brasil e Alemanha com a
Bundesverdienstkreuz Erster Klasse (Cruz de Honra ao Mérito da República
Federal da Alemanha, Primeira Classe).
Dentre as
demais distinções que recebeu ainda estão a Ordre des Arts et des Lettres
(Medalha de Letras e Artes), na França, e o Prêmio “Preservação da Memória”, no
Brasil – entregues, respectivamente, em 1978 e 1995. Em 2015, ela também foi
agraciada com a Medalha Goethe, concedida pelo governo alemão a personalidades
que se destacaram de maneira especial na promoção do intercâmbio cultural
internacional. Em função da idade avançada, que a impediu de fazer uma longa
viagem, ela não pôde receber o prêmio pessoalmente.
“Exemplo”
Diretor
artístico do Theatro São Pedro, Dilmar Messias exaltou o trabalho de Dona Eva:
“Foi uma figura, uma pessoa muito importante para a cultura da cidade. Além da
restauração do Theatro São Pedro e da construção do Multipalco, ela deixou uma
marca de administração, de cuidado com o público, de cuidado com o espaço
cênico. É um exemplo de mulher dedicado à cultura”, afirmou.
Fonte:
Correio do Povo
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