Randolfe
Rodrigues apresentou documentos sobre ações do vice-presidente
Senador engana Janaina e faz com que ela apoie
impeachment de Temer
Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado / CP
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) esperou até 1h desta sexta-feira
para poder pregar uma peça na autora do pedido de impeachment, Janaina
Paschoal, na sessão dedicada a ouvir os denunciantes na comissão
especial. Ele fez uma explanação apresentando a edição de decretos de
créditos suplementares específicos e pediu, em seguida, a opinião da jurista
sobre esses documentos.
A jurista defendeu que os créditos suplementares sem a autorização do
Congresso Nacional configuram crime de responsabilidade e devem ser punidos com
o impeachment. "Muito bem, fico feliz com sua opinião, porque a
senhora acabou de concordar com o pedido de impeachment do
vice-presidente Michel Temer", disse Randolfe. "Essas ações que eu li
foram tomadas pelo vice".
A professora ficou constrangida e tentou se explicar. Apenas algumas
horas antes ela havia dito que não havia indícios suficientes para pedir o
impeachment de Temer. "O Vice-presidente assina documentos por
ausência do presidente, por delegação. Neste caso, não há o tripé de
crimes continuados e intercalados entre si", tentou justificar.
Bronca
Já perto da meia-noite, quando a sessão já andava morna, a denunciante
Janaina Paschoal se exaltou com o senador Telmário Mota (PDT-RR) depois que ele
questionou se ela era advogada do procurador da República Douglas
Kirchner, demitido pelo Conselho Nacional do Ministério Público por
suspeita de agredir e torturar a esposa. "Não quero! Não vou
admitir", gritou.
Ela levou uma bronca do presidente da comissão, senador Raimundo Lira
(PMDB-PB). "Por favor, vamos falar em um tom compatível com o ambiente em
que nós estamos".
Convidada ao lado do advogado Miguel Reale Jr. para detalhar o pedido de
impeachment que tramita no Congresso, Janaína rebateu que "seu cliente
nunca bateu na mulher" e que a autoria das agressões é de uma tia da
vítima. "Tudo tem limite, meus clientes são sagrados",
protestou, retirando-se da sala.
O senador Telmário Mota treplicou que fez várias perguntas técnicas
sobre o embasamento jurídico da denúncia contra Dilma e que a questão sobre o
procurador era secundária. "Respondeu porque quis", alfinetou,
recebendo críticas do líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima
(PSDB-PB). "Lamento essa intimidação. Querem transformar em ré a pessoa
que acusa", afirmou o tucano.
Janaína retornou à mesa e pediu desculpas ao presidente pelo
comportamento. Antes de sair do plenário, Telmário Mota também pediu desculpas
discretas à denunciante, que sorriu e seguiu ouvindo o orador seguinte,
senador José Pimentel (PT-CE), líder do governo no Congresso.
'Camisa 11'
Quando chegou a vez de o senador Romário (PSB-RJ) falar, oito horas
depois do início da sessão da comissão especial, o ex-jogador comparou Janaína
Paschoal a si próprio. "Você me lembra muito um jogador que usava a
camisa 11 no passado da Seleção Brasileira e que não se intimidava com
tamanho do zagueiro. Era destemido e teve muito sucesso em sua carreira",
disse, elogiando a advogada e, claro, a si próprio.
Foi a primeira intervenção do senador na comissão, da qual é titular. Em
sua fala, declarou-se favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.
"Tomei essa decisão baseado na letra da Constituição Federal",
afirmou, sustentando que Dilma abriu créditos suplementares sem
autorização do Congresso Nacional.
O ex-atleta continuou destacando "a coragem, a determinação e o
conhecimento jurídico" de Janaina Paschoal. "Estou
impressionado". A jurista respondeu: "O senhor se refere àquele
atacante que ficava ali, na boca, só esperando para fazer o gol? Olha,
e cada gol bonito... Não é rasgação de seda, mas não dá para esquecer.
Independentemente de time ou de se declarar favorável ao meu pedido, parabenizo
a Vossa Excelência pela carreira e também por ter entrado na
política."
Romário se despediu do plenário desejando bom dia aos companheiros, uma
vez que já havia passado da meia-noite.
ESTADÃO conteúdo
Correio
do Povo
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