Waldemir Barreto/Agência Senado
O
presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou que a comissão especial que
analisará o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff será instalada
na próxima segunda-feira (25), quando elegerá presidente e relator. Os blocos
partidários têm até o fim desta semana para indicar seus 21 representantes — e
igual número de suplentes. Veja aqui os
representantes que já foram indicados.
O
anúncio deu início à tramitação oficial do impeachment no Senado. Na sessão
plenária desta terça-feira (19), o 1º Secretário da Casa, senador Vicentinho
Alves (PR-TO), fez a leitura da denúncia de crime de responsabilidade contra a
presidente Dilma e da autorização da Câmara dos Deputados para abertura do
processo.
Foi
aberto também o prazo de 48 horas para indicação dos membros da comissão
especial, que se estenderá até sexta-feira (22) devido ao feriado do dia 21 de
abril. Renan fez um apelo para que os líderes partidários entreguem os nomes o
mais rápido possível e avisou que, caso as indicações não cheguem no prazo, ele
mesmo preencherá as vagas restantes.
STF
O
presidente do Senado ressaltou ainda que o processo de impeachment será regido
por uma hierarquia de normas, começando pela Constituição Federal e seguindo
pelo acórdão do Supremo Tribunal Federal (STF) de dezembro de 2015, pela Lei
dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/1950), pelo Regimento Interno do
Senado e pelo rito adotado no caso do ex-presidente Fernando Collor, em 1992.
—
Aqueles que querem apressar o processo, independentemente dessa hierarquia de
regras, cometem o equívoco de poder colaborar com a anulação do próprio
processo — observou.
Renan
informou também que antecipará a participação do presidente do STF, Ricardo
Lewandowski. Uma vez aprovada a admissibilidade do impeachment, todas as
questões e dúvidas sobre o processo deverão ser dirigidas a Lewandowski. O
presidente do tribunal também comandará as votações em Plenário posteriores à
admissibilidade, e não apenas o julgamento final.
Discussão
A
oposição contestou a concessão do prazo para indicações à comissão especial. Os
senadores José Agripino (DEM-RN), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Ricardo Ferraço
(PSDB-ES) argumentaram que o Regimento Interno dispõe que o colegiado deve ser
constituído no mesmo dia em que a denúncia é lida no Plenário. Além disso, eles
pediram rapidez no andamento do processo para não agravar a situação do país.
— A
economia se deteriora a passos largos, com grande impacto social. Não há espaço
para a procrastinação de um processo de tamanha urgência e relevância — disse
Ferraço.
O
senador Lindbergh Farias (PT-RJ) pediu cautela na condução do impeachment. Ele
lembrou que o prazo de 48 horas foi decidido em reunião de líderes pela manhã.
Além disso, ele creditou as crises política e econômica às interferências da
oposição.
— Temos
que respeitar o que foi definido na reunião, não podemos chegar aqui e mudar o
acordo. Nós não queremos ser atropelados, e é isso que está acontecendo. Não dá
para aceitarmos discursos de gente que passou um ano e quatro meses paralisando
o país nessa crise política e agora quer tirar o nosso direito por causa de
dois dias.
O
senador Humberto Costa (PT-PE) fez coro ao colega de bancada e disse que a
oposição adota, para o processo de impeachment, um discurso que, na sua
opinião, não condiz com a atuação política dos parlamentares oposicionistas.
— Desde
2014, quando a presidenta Dilma foi eleita, a oposição e setores da mídia fazem
o Brasil sangrar. Não venham agora dizer que o Brasil não pode parar. O Brasil
já está parado há muito tempo, porque não há uma mínima trégua para que o
governo possa implementar as suas políticas.
O
senador Ronaldo Caiado rebateu as críticas e disse que a governabilidade é
obrigação da base do governo. Ele afirmou que o país vive em “perigo jurídico”
enquanto o impeachment não for apreciado e que o Senado não pode prolongar uma
situação de “cadáver insepulto”.
Já para
o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), o prazo para indicação dos nomes é uma
estratégia de adiamento dos governistas. Ele defendeu que prevalecesse o
dispositivo do regimento, e não o combinado firmado na reunião de líderes.
— Nem
mesmo um acordo unânime dos líderes poderia mudar o que está escrito na lei. É
mais uma manobra do PT para tentar retardar o processo investigatório. Não
estamos aqui para brincar com os destinos do Brasil nem zombar da Constituição.
A data
de instalação da comissão foi decidida a partir de sugestão do senador Aécio
Neves (PSDB-MG), que foi corroborada por Humberto Costa — que é líder do
governo. No entanto, Aécio também pediu celeridade ao processo, e sugeriu que a
comissão trabalhe durante todos os dias úteis para acelerar o andamento do
impeachment.
História
O
presidente Renan Calheiros garantiu que manterá a sua imparcialidade durante
toda a tramitação e julgamento do processo, e que não vai “se prestar ao papel”
de fazer concessões para qualquer um dos lados.
— O
Senado Federal não está fazendo noticiário do dia-a-dia, está fazendo a
história do Brasil. Então, nós temos de agir com toda a responsabilidade.
Segundo Renan, a Casa precisa tomar cuidado para não antecipar
decisões nem “repetir erros do passado”. Ele citou especificamente o caso do
golpe de Estado de 1964, quando o então presidente do Senado, Auro de Moura
Andrade, decretou vaga a
Presidência da República no dia 2 de abril, efetivamente retirando
do cargo o presidente João Goulart.
— Meu
compromisso com a história não permitirá que eu seja chamado de canalha, por
ter atropelado o prazo da defesa ou por ter dado mais um dia para o prazo da
denúncia. Eu não vou escrever esse papel na história do Brasil — declarou.
Fonte:
Agência Senado
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