O carnaval regional soma tradições: de blocos, de escolas de samba, de foliões fantasiados, de marchinhas... Tudo numa gostosa e divertida festa de rua e de salão. Era assim há cerca de duas décadas, antes que sua alegria e espontaneidade fossem contaminadas pela euforia massiva dos bailes em ginásios de esportes.
O carnaval de rua de Três Passos era esperado com ansiedade por adeptos de vários municípios da região que, após o desfile diante de um numeroso público, se divertiam até o amanhecer no Clube Aliança. “Nos últimos anos, mais de 5 mil pessoas acompanharam o desfile com carros alegóricos e diversas alas com fantasias diferentes, dando um brilho especial ao evento”, lembra o advogado Marcelo Trindade, 50 anos, que foi integrante do bloco “3001” . “Aqui tínhamos blocos que possuíam em média mais de 100 pessoas e o carnaval regional do Aliança era realizado no sábado e na terça-feira. No domingo e segunda-feira, os mais de dez blocos da região se encontravam em Campo Novo e Tenente Portela. O ‘enterro do ossos’ era em Humaitá”, conta ele.
Para o advogado, a decadência do carnaval regional começou quando os blocos assumiram a organização do evento. “Como pensavam exclusivamente no lucro, resolveram realizar os bailes em ginásio de esportes, deixando os clubes. Com isso proliferou brigas e arruaças, condição que afastou diversos freqüentadores”, destaca.
Trindade entende que atualmente não há mais forma de resgatar as folias momescas que fizeram história na região, principalmente o carnaval de rua pelo seu alto custo financeiro. “Entretando, sempre se pensou em fechar a rua em frente ao Clube Aliança com tapumes e fazer um carnaval que possibilitaria que ficasse na rua e no salão, mas a ideia não prosperou e tentaram nos pavilhões da Feicap que enfrenta o mesmo problema de ginásio de esportes. Os jovens que lideram atualmente os blocos deveriam se reunir com o poder público e tentar resgatar essa festa nos próximos anos”.
Iranildo da Silva Mattos, o Saravá, de 56 anos, um dos organizadores dos velhos e bons carnavais, tem a mesma opinião de Marcelo Trindade. A festa começou a perder sua importância quando se decidiu pela realização em ginásios e a fantasia deixou de ser um quesito obrigatório.
Ele viveu o auge do carnaval trespassense, na décadas de 1970 e parte de 1980. Por 15 anos, Saravá foi presidente do bloco “BTL” (Bafo de Tigre Louco), que contava com mais de 150 componentes. Os demais blocos da época, todos com significativo número de foliões, eram “3001” , “Modelo 15” , “Os Balaqueadores” e “República dos Sóbrios”. Da região, um dos blocos que mais se destacava era o “Chegança”, de Tenente Portela, que geralmente ficava em primeiro lugar nos concursos de salão e de rua.
Como presidente do Aliança, Saravá resgatou o tradicional baile de salão em duas oportunidades. Foi no final dos anos 1990. Infelizmente a diretoria posterior não deu prosseguimento ao projeto. Mas ele acredita que é possível retomar a ideia, inclusive o carnaval de rua, desde que haja uma equipe de pessoas realmente disposta a trabalhar e que tenha o respaldo da Administração Municipal. Enquanto isso, Sarava há 4 anos curte o carnaval em Irai, cidade que, conforme ele, mantém a tradição da verdadeira Festa de Momo.
Enquanto isso, aqui pelos nossos lados os tradicionais blocos com alegorias, adereços e charangas, perderam espaço para “cordões” de última hora que trocaram a fantasia por camisetas. Ao invés de baile em salões decorados com temas alusivos à festa, animados por bandas que tocavam marchinhas e sambas enredos a noite toda, agora o máximo que há são eventos sonorizados por “djs”, o que descaracteriza totalmente a essência do carnaval.
Circuito Regional de Carnaval também bailou
O que restou por algum tempo foi o Circuito Regional de Carnaval. Entretanto, há cerca de 5 anos esse encontro de municípios não acontece mais. Um dos blocos que se destacava era “Só no grito”, de São Martinho. Hoje, esse bloco e o conterrâneo “Xem xanxe” participam de eventos em Horizontina, Ijuí, Três de Maio e Santo Cristo.
Lissandra Lena que foi por mais de 10 anos madrinha da bateria do “Só no grito”, hoje integra a comissão organizadora desse bloco que conta com 50 componentes. Ela revela que o grupo, neste ano, vai participar de um concurso de bateria em Horizontina.
Nem de perto o “Só no grito” de hoje lembra o bloco que brilhou na região. Mesmo assim, dos últimos integrantes do Circuito Regional, ainda é um dos poucos que sobrevive. Quase nada se ouve falar dos blocos “TNT”, de Coronel Bicaco; “Panelão” e “Perdidos na Noite”, de Campo Novo; “Filhos do Sol”, de Humaitá, e “Kamarusco”, de Santo Augusto, que por muitos anos mantinham acesa aqui a chama da festa mais popular do país. Fonte: Difusora / Atos e Fatos
Nenhum comentário:
Postar um comentário