Bolsonaro e Haddad disputarão segundo turno das
eleições presidenciais
Foto: Montagem sobre fotos de Mauro Pimentel e
Nelson Almeida / AFP
O Brasil
segue polarizado. De um lado o antipetismo, materializado na figura de Jair
Bolsonaro. Com 100% das urnas apuradas, o candidato do PSL obteve 46,03%
(49.275.358 milhões) dos votos válidos no primeiro turno das eleições. Do
outro, seu adversário pela Presidência da República, o petista Fernando Haddad,
herdeiro político do ex-presidente Lula, alcançou 29,28% (31.341.839
milhões) dos votos válidos.
A
campanha rumo ao Palácio do Planalto é curta: a eleição de segundo turno é no
próximo dia 28, daqui a três semanas. Ambos devem, a partir desta
segunda-feira, ir atrás de alianças. A tendência é de que o chamado centrão,
que no 1º turno esteve com Geraldo Alckimn, declare apoio ao capitão reformado
do Exército. Haddad deve correr para fazer as pazes com Ciro Gomes (PDT),
tentar ganhar alguns eleitores de Marina e do MDB, do ex-ministro da Fazenda do
governo Temer, Henrique Meirelles.
Bolsonaro, o arauto do antipetismo
Jair
Bolsonaro, 63 anos, é paulista. Nasceu no município de Glicério, região de
Araçatuba. Mas foi no Rio de Janeiro onde ganhou destaque. Cursou a Escola
Preparatória de Cadetes do Exército e em seguida a Academia Militar das Agulhas
Negras, formando-se em 1977. Em 1988, ingressou na vida pública. Foi eleito
vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão. Dois anos
depois largou o mandato para tentar uma cadeira como deputado federal, onde
permanece até hoje. Foi filiado a outros partidos ao longo de sua carreira
política: PPR (1993-95), PPB (1995-2003), PTB (2003-2005), PFL (2005), PP
(2005-2016), PSC (2016-2017) e o PSL (2018).
Há um
mês, Bolsonaro foi esfaqueado durante ato de campanha na
cidade de Juiz de Fora, interior de Minas Gerais. Passou por mais de uma
cirurgia, ficou internado durante quase todo o primeiro turno, mas manteve,
através das redes sociais e seus aliados, a difusão de suas ideias.
Líder das
pesquisas desde o começo do processo eleitoral – quando a candidatura de Lula
foi barrada pelo TSE –, Bolsonaro, com seu discurso forte, sempre despertou
sentimentos contraditórios. Para os seus apoiadores, é o salvador da pátria, o
único capaz de tirar o país da crise política, econômica e social. Seus
críticos, porém, batem na tecla de que, sem representatividade e experiência,
poderia ser um perigo para a democracia brasileira.
Seu
discurso radical contra o PT, em prol da ordem e disciplina militar e de
críticas ferrenhas a movimentos sociais, o alçou como arauto de um novo
país. Desiludido com a política tradicional, o Brasil assistiu à ascensão
do “mito”, como é tratado pelos admiradores. Jair Messias Bolsonaro tem como
marcas as posições extremadas, o constante enfrentamento e o discurso
agressivo. Porém, principalmente após o atentado, adotou um tom mais
pacificador na busca de angariar votos em segmentos onde tinha grande rejeição.
Em 29 de
setembro, usando a hashtag #EleNão, um movimento iniciado nas redes sociais por
mulheres contrárias às propostas do candidato reuniu milhares de pessoas em
mais de 160 cidades do país e até do exterior. No dia seguinte, apoiadores
realizaram atos no Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Porto Alegre
entre outras capitais.
Haddad, o herdeiro de Lula
Fernando
Haddad, 55 anos, chega com o aval do ex-presidente Lula. Primeiramente
registrado como vice na chapa então encabeçada por Lula, o ex-ministro de
Educação foi alçado como presidenciável após o TSE negar o registro do líder
petista. Manuela D' Ávila (PcdoB), numa articulação envolvendo os partidos em
nível nacional, virou vice.
Haddad
possui carreira acadêmica, tem um perfil intelectual, diferente de Lula – líder
carismático e aglutinador. Nascido em São Paulo, ingressou na faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo (USP), onde se formou em 1985. Fez
mestrado em Economia com especialização em economia política em 1990 e
doutorado em Filosofia em 1996. Foi professor de Teoria Política Contemporânea
no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Sociais da USP.
Em 2001,
foi trabalhar na Secretaria de Finanças da capital paulista, na gestão da então
prefeita petista Marta Suplicy. Em 2003 foi para Brasília atuar no Ministério
do Planejamento, na época chefiado por Guido Mantega. Logo em seguida trocou de
pasta. Foi ser secretário-executivo do ex-governador do Rio Grande do Sul,
Tarso Genro, ministro da Educação na época. Assumiu o ministério em 2005,
quando Tarso saiu para assumir a presidência do PT em meio ao turbilhão causado
pelo mensalão, e ficou no cargo até 2012, quando se licenciou para disputar à
Prefeitura de São Paulo, indicado por Lula.
Esteve à
frente de programas como o de criação de universidades federais e de acesso ao
ensino superior e técnico, como o ProUni e o Pronatec. Com o apoio de Lula,
Haddad derrotou José Serra (PSDB) no segundo turno e assumiu o comando da maior
cidade do país em 2013. Tentou a reeleição em 2016, mas perdeu para João Doria
(PSDB) ainda no primeiro turno.
Na
campanha de 2018, adotou, no início, um tom mais brando. Porém, alvo de ataques
frequentes, passou a responder aos adversários, mirando especialmente em
Bolsonaro, diante da possibilidade de vitória do rival ainda no primeiro turno.
De um perfil e temperamento moderado, Haddad apostou muito no Nordeste, reduto
do PT nos últimos governos do partido, usando chapéu de cangaceiro e caminhando
entre os eleitores. Foi na região onde venceu na maioria dos estados,
assegurando sua ida ao segundo turno.
Bolsonaro ganha em 17 Estados e no DF; Nordeste
garante 2º turno
O capitão reformado do Exército só ficou atrás de
Fernando Haddad (PT) nos oito Estados do Nordeste e no Pará. Ciro Gomes (PDT)
liderou a disputa no Ceará, seu berço político. Bolsonaro e Haddad disputam a
Presidência pela primeira vez e foram os dois mais votados entre os 13
postulantes ao Palácio do Planalto. O resultado do primeiro turno quebrou a
polarização entre PT e PSDB na eleição presidencial. O Nordeste que garantiu a
vitória a Dilma Rousseff em 2014 também assegurou a ocorrência de segundo turno
neste ano.
Correio do Povo
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