Alojamento ficou destruído após incêndio, em
Goiânia, Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Continua em estado grave
o jovem que sobreviveu ao incêndio que matou nove adolescentes do Centro
de Internação Provisório para menores do 7º Batalhão da Polícia Militar, no
Jardim Europa, em Goiânia. De acordo com o Hospital de Urgências Governador
Otávio Lage de Siqueira (Hugol), o rapaz está sedado e respirando com ajuda de
aparelhos.
O último boletim é das
7h01 deste domingo (27). As causas do fogo são apuradas pela Delegacia de
Investigação de Homicídios (DIH).
Os corpos das nove
vítimas foram liberados para as famílias pelo Instituto Médico Legal (IML) ao
longo deste sábado. O incêndio aconteceu no final da manhã de sexta-feira (26) e,
segundo informações preliminares, teria sido provocado pelos próprios
adolescentes.
Equipes do Corpo de Bombeiros durante combate a
incêndio no Centro de Internação Provisório (CIP) do 7º Batalhão da Polícia
Militar, em Goiânia, onde nove jovens morreram (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
O Corpo de Bombeiros
disse que eles atearam fogo a um colchão que estava entrelaçado às grades do
alojamento. Isso, aponta, dificultou o resgate.
Em nota, a Secretaria
Cidadã informou que divulgou os nomes dos jovens primeiramente às famílias para
protege-las de “constrangimento”, seguindo o que preconiza o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA). A pasta também rebateu relatórios que apontam
que o centro de internação não tem estrutura adequada e estava superlotado.
Instituto Médico Legal de Goiânia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
“Assim como em outras
unidades, o CIP em questão funciona bem. Apesar de trágico, o fato desta
sexta-feira foi um caso isolado. Historicamente não há problemas nas unidades.
No CIP do 7° Batalhão, os menores assistem aulas com conteúdo didático das
escolas da Rede Estadual, realizam trabalhos manuais como artesanato, são
estimulados a frequentar a biblioteca da unidade, possuem local para praticar
esportes”, disse.
“De acordo com o Gecria
[Grupo Executivo de Apoio a Crianças e Adolescentes], os jovens recebem
(opcionalmente) visitas de grupos religiosos de vários credos e também de seus
familiares, com frequência semanal. Também são assistidos por uma equipe da
Secretaria Municipal de Saúde a partir de demandas médicas, odontológicas e
farmacêuticas, exatamente como determinam as leis que tratam o assunto. Nestes
casos médicos, sempre monitorados pelo governo de Goiás”, completou.
Avô de uma das vítimas, o
funcionário público Luiz Lopes resumiu o sentimento: “revolta”.
O funcionário público Luiz Lopes, avô de uma
das vítimas de incêndio que matou nove no Centro de Internação Provisório para
menores, em Goiânia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Já uma mãe ouvida pela TV
Anhanguera, que preferiu não se identificar, questionou as circunstâncias do
incêndio.
“Só mãe que sabe o que eu tô sentindo. Eu queria saber onde
eles acharam fogo, se lá não podia entar fogo”, declarou.
Mãe que perdeu filho em incêndio que matou nove
jovens no Centro de Internação Provisório (CIP), em Goiânia (Foto:
Reprodução/TV Anhanguera)
Também sem se
identificar, um agente contou que não havia extintor de incêndio e que o
alojamento tinha capacidade apenas para seis internos, embora houvessem dez no
momento. A Secretaria Cidadã negou que essa fosse a limitação do espaço e que
faltassem equipamentos.
"Lá não tem EPI [equipamento de proteção individual]
nenhum para combater incêndio. Nunca tivemos treinamento para combater
incêndio. Lá não tinha extintores", afirmou o agente.
Mãe de um dos nove
adolescentes que morreram no incêndio, uma dona de casa que preferiu não se
identificar contou ao G1 que soube da
tragédia ao assistir a uma reportagem. Em seguida, ela correu até o 7º Batalhão
da Polícia Militar, no Jardim Europa, em busca de informações sobre o filho, de
16 anos.
7º Batalhão da Polícia Militar, em Goiânia
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
“Fui correndo para lá na esperança de ele estar bem, mas não falaram o
nome dele na lista dos que estavam bem. Não consigo comer, nem pensar, estou
destruída, não sei como vou viver sem meu filho”, disse.
A mulher contou que o
adolescente era o mais velho dos quatro filhos. Segundo a mãe, ele estava no
centro de internação há seis meses, após ser apreendido por roubo, e estava
arrependido.
A última vez que a dona
de casa viu o filho foi na quarta-feira (24), quando ele disse que estava bem.
Conforme a mãe, o adolescente gostava de entregar cartas para a família.
"Ele me entregou uma
carta falando que estava tudo bem, que eu não precisava me preocupar, que
estava com saudade da gente", disse a mãe.
Desativação do centro
A falta de estrutura da
unidade também é defendida pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO).
Os promotores pedem a desativação do Centro de Internação Provisória do 7º
Batalhão da Polícia Militar em Goiânia desde 2012.
Conforme um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) assinado na época, o órgão cobrava a construção de um novo centro de internação
na capital e a desativação da antiga unidade. O órgão informou
que, como os termos do documento não foram cumpridos, entrou com uma ação no
Poder Judiciário. O MP-GO deu à causa valor de mais de R$ 9 milhões.
Por meio de nota, o
governo de Goiás informou que o TAC “está sendo cumprido”. Ainda conforme o
texto, “houve atraso em algumas obras e há um esforço constante para dar mais
celeridade aos processos e execuções”.
Superlotação
Um documento, de
quarta-feira (23), assinado pela diretoria geral do Grupo Executivo de Apoio à
Criança e ao Adolescente (Gecria), mostra que a unidade abrigava 80 internos e
tinha capacidade para 52. Ainda assim, nota divulgada nesta sexta-feira (25)
pelo governo estadual afirma que “não há superlotação na unidade”, que teria
capacidade para 80 adolescentes.
Conforme outro documento
obtido pela TV Anhanguera, a capacidade máxima de 52 já seria considerada acima
do indicado pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), que
aconselha até 40 internos por centro de internação.
O coordenador do Centro
de Apoio à Criança e ao Adolescente do MP-GO, Publius Rocha, destacou que o
incêndio que ocorreu nesta sexta-feira foi uma “tragédia anunciada”.
“O MP já tinha chamado a
atenção do Poder Executivo e do Poder Judiciário provocando formalmente através
de processo. Estamos aguardando um posicionamento não só sobre a inadequação
desta unidade, mas de outras unidades pelo estado”, disse o promotor.
Incêndio
Segundo o Corpo de
Bombeiros, os adolescentes atearam fogo a um colchão enrolado na grade de um
dos alojamentos da Ala A. O Corpo de Bombeiros informou que foi acionado às
11h27 e enviou quatro caminhões para apagar as chamas e resgatar feridos.
O defensor público Tiago
Gregório Fernandes esteve no local do incêndio e informou que não havia
ventilação nos alojamentos e que o fogo teria sido provocado pelos próprios
internos.
“O que a gente ouviu é
que os adolescente protestavam contra uma possível transferência e em relação a
insalubridade do alojamento”, afirmou.
O presidente do Conselho
Estadual de Direito da Criança e do Adolescente, Eduardo Mota, informou que o
local não tinha estrutura adequada para receber os 11 adolescentes que estavam
abrigados lá.
“Na cela cabem 4
adolescente e tinha 11. Por sorte, um dos adolescentes que estava lá dentro
havia deixado a cela, se não seria mais um morto. Não havia extintores
disponíveis na hora”, declarou.
Por meio de nota, o
governo disse que o alojamento não estava superlotado, que o espaço tem
capacidade para 10 internos e havia exatamente este número de adolescentes no
local. Ainda segundo o posicionamento, o incêndio foi apagado com ajuda de um
hidrante que estava a cinco metros de distância do fogo, no corredor.
Em nota, o Governo de
Goiás lamentou as mortes e disse apurar o ocorrido (veja íntegra abaixo).
Nota do governo de Goiás
O Governo de Goiás informa
que não houve rebelião no centro de internação que abriga menores infratores no
7º Batalhão da Polícia Militar. Trata-se de ato isolado, feito pelos próprios
internos. A motivação do movimento está sendo apurada, uma vez que não houve o
menor indício de que poderia haver o incidente. Todas as forças policias estão
envolvidas na apuração.
Por vota de 11h30, foi
colocado fogo em um colchão no corredor da unidade. Na parte interna da cela,
os menores ergueram outro para impedir a entrada da fumaça, mas que acabou
pegando fogo e causando as mortes.
O Corpo de Bombeiros atuou de
forma imediata no combate ao incêndio, o que evitou danos ainda maiores. O
local conta com extintores e todos os equipamentos internos necessários.
Nove internos morreram no
incêndio. Um ficou ferido e foi levado ao Hospital de Urgências Otávio Lage de
Siqueira (Hugol). Outro menor também está hospitalizado, mas não há nenhuma
relação com o incidente. Os demais 69 internos não ficaram feridos
Todas as famílias que
procuraram a unidade foram recebidas. Uma equipe composta por assistentes
sociais e psicólogos atenderam aos parentes das vítimas. Toda a assistência
necessária está sendo dada às famílias dos adolescente
Os corpos foram retirados
após os procedimentos legais. A Superintendência de Política Técnico-Científica
coletou materiais e elementos que vão subsidiar os laudos técnicos. A Polícia
Civil, por meio da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH) e
Delegacia de Apuração de Atos Infracionais (Depais), esteve no local para as
providências iniciais. A conclusão dos trabalhos será apresentada
oportunamente.
Vale ressaltar que não há
superlotação na unidade. No alojamento onde estavam as dez vítimas, a
capacidade é de 10 vagas. O Termo de Ajustamento e Conduta (TAC), firmado em
2012, está sendo cumprido. Houve atraso em algumas obras e há um esforço
constante para dar mais celeridade aos processos e execuções.
O Governo de Goiás reforça,
ainda, que segue com o planejamento de construir novas unidades no Estado, como
o Case de Anápolis, que já está em funcionamento. Goiás, cabe ressaltar, é
único estado brasileiro a construir unidades socioeducativas, mesmo com o
cenário de crise econômica nacional. No total, serão 10 novas unidades.
Somente na capital, os
investimentos são de R$ 4.351.753,14 em adequação, ampliação e reforma do
Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Goiânia e na construção de duas
Casas de Semiliberdade, que terão a capacidade acrescida em 140 novas vagas.
Todas as unidades do
Socioeducativo dispõem de contrato com empresa de reparos e manutenção de
estruturas físicas. As novas unidades permitiram a desativação de duas unidades
que funcionavam em pavilhões de batalhões da Polícia Militar.
Mais uma vez, o Governo de
Goiás lamenta o ocorrido, externa sua total solidariedade e se coloca à
disposição dos familiares dos adolescentes.
Por
Raquel Morais, G1 GO
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