Operação cumpre mandados de busca e apreensão
em dois frigoríficos e em um matadouro
Foto: Ministério Público / Divulgação / CP
Dois frigoríficos e um matadouro da Serra gaúcha
são investigados por fraude na produção de embutidos e também por vender
produtos contaminados com uma bactérica de alto índice de mortalidade. Os
estabelecimentos, localizados em Bento Gonçalves, Flores da Cunha e Anta Gorda,
estão sendo alvo de uma operação do Ministério Público do Rio Grande do Sul
(MP-RS).
De acordo com as investigações, da Promotoria de
Justiça de Defesa do Consumidor e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado – Núcleo de Segurança Alimentar, os três estabelecimentos
estariam agindo em conjunto. Eles adicionavam amido em carnes e também
compravam produtos de péssima qualidade para produzir embutidos. Segundo o MP,
os três locais são investigados por crimes contra a saúde pública.
A operação Incassato (embutido em italiano)
cumpre três mandados de busca e apreensão e tem como objetivo localizar
embutidos adulterados e produtos químicos utilizados de forma irregular, além
de documentos e equipamentos eletrônicos.
Bactéria
Laudos
realizados pelo Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), a partir de
fiscalização da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi),
constataram a presença da bactéria Listeria monocytogenes na copa fatiada. De
acordo com o Lanagro, a bactéria causa listeriose - infecção que tem incidência
baixa, mas alto grau de severidade e alto índice de mortalidade (20% a 30%).
A
listeriose pode causar problemas sérios em gestantes, recém-nascidos, idosos e
pacientes debilitados e imunodeprimidos. Os sintomas iniciais são semelhantes a
uma gripe: com febre, mialgias e dor de cabeça, seguidos de complicações, como
aborto, feto natimorto, nascimento prematuro e infecções neonatais.
A
listeriose invasiva, por sua vez, pode afetar o sistema nervoso central e
causar meningite, meningoencefalite e abscessos no cérebro. Ela atinge,
principalmente, pacientes com mais de 50 anos e causa febre, alterações na
percepção sensorial e dor de cabeça.
Ameaça a celíacos
As
análises apontam também que produtos, como pepperoni, apresuntado, presunto cru
e presunto tipo Parma continham amido em quantidade superior à prevista na
legislação – sendo que a legislação não permite a presença desse produto em
pepperoni, presunto cru e presunto tipo Parma.
Além
disso, foi encontrado amido em presunto cru tipo Italiano fatiado, produto cujo
rótulo afirma, nas informações nutricionais, que o percentual de carboidratos é
0% e que o produto não contém glúten. No entanto, como não se tem conhecimento
de qual tipo de amido foi adicionado ao embutido, pode haver glúten nos
produtos. Isso coloca em sério risco a saúde da população, sobretudo as pessoas
celíacas, que não podem entrar em mínimo contato com a substância. O amido
seria utilizado para aumentar o peso dos produtos, o que consiste em fraude
econômica.
O
laboratório também constatou a presença de nitrito de sódio em quantidade
superior à permitida em amostras de mortadela sem toucinho com ervas finas. A
utilização do insumo deve ser limitada e atender aos padrões da legislação,
pois há estudos que relacionam o alto consumo a alguns tipos de câncer.
Carne mecanicamente separada
Segundo o
MP, os frigoríficos também usavam a prática da Carne Mecanicamente Separada
(CMS) em produtos, sendo que essa metodologia é proibida. No caso do
apresuntado, houve adição de 38% de CMS, o que faz com que mais de um terço da
composição do produto seja constituída de insumo de custo quase cinco vezes
menor que a carne suína e constituída de ossos, carcaça ou parte de carcaça de
animais de açougue (aves, ovinos e suínos). Ainda, não se trata de um produto
seguro, uma vez que não se sabe qual é a sua procedência. O CMS foi encontrado
em vários produtos da empresa.
Além
disso, os resultados das análises dos parâmetros como a putrescina e cadaverina
podem indicar a utilização de matéria-prima de má qualidade (carne vencida ou
em decomposição, por exemplo).
Prisão
Em abril de 2017, durante operação do Ministério
Público, foi constatada a reutilização de carne vencida e imprópria ao consumo
humano na confecção de embutidos em um desses frigoríficos. O proprietário foi
preso em flagrante por cometer crimes contra as relações de consumo e
falsificação de selo emitido por autoridade. Foram inutilizadas aproximadamente
três toneladas de produtos impróprios ao consumo, o que gerou denúncia
criminal. A empresa foi autuada diversas vezes pela fiscalização estadual nos
últimos dois anos, o que não impediu a continuidade dos crimes.
Correio do Povo
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