terça-feira, 18 de junho de 2013

Protesto em Porto Alegre termina com pelo menos 38 presos, seis feridos e seis ônibus depredados

DMLU contabiliza pelo menos 52 contêineres queimados

Protesto em Porto Alegre termina com pelo menos 38 presos, seis feridos e seis ônibus depredados Jefferson Botega/Agencia RBS
Ônibus da Carris foi queimado na Avenida João PessoaFoto: Jefferson Botega / Agencia RBS

Um protesto formado por uma imensa massa pacífica degringolou em batalha campal na noite desta segunda-feira, em Porto Alegre, depois de um grupo isolado de encapuzados praticar atos de vandalismo e motivar uma reação violenta da Brigada Militar.

Pelo menos 38 pessoas foram presas, seis feridos foram atendidos no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS), 52 contêineres foram incendiados, seis ônibus foram depredados - um deles incendiado - e, somente na Avenida Sete de Setembro, cinco agências bancárias tiveram a vidraça quebrada.

A manifestação começou a se deteriorar em violência na Avenida João Pessoa. Depois de um ato bem humorado, criativo e ordeiro em frente à prefeitura, a multidão começou uma caminhada pela Avenida Borges de Medeiros e pela Salgado Filho, deixando o Centro. Nesse momento, um grupo de algumas dezenas de encapuzados, alguns portando paus, tomou a dianteira da marcha. Um rapaz de bicicletas, com uma bandeira do Brasil amarrada às costas, abordou um dos que cobriam a face:

– Ainda bem que até agora deu tudo certo, não é? Vê se não vai produzir prova contra ti, como na outra vez.

O conselho foi ignorado. O primeiro ato fora do tom ocorreu diante do Parque Farroupilha. Os encapuzados picharam, arrastaram e derrubaram um contêiner de coleta do lixo. A maior parte da massa, que se estendia por mais de um quilômetro dali para trás, não viu nada, mas quem estava à frente vaiou e gritou em coro:

– Sem violência! Sem violência!

Em seguida, vários dos manifestantes pacíficos reergueram o contêiner, recolocaram-no no lugar e passaram a jogar de volta para dentro os sacos de lixo despejados no asfalto. Foram aplaudidos. De pouco adiantou. O grupo de arruaceiros continuava à frente da marcha pichando paredes e derrubando contêineres. 

– Tem uns que pensam que são líderes e não são – afirmou o ciclista com a bandeira às costas.

Quando o segundo contêiner foi vandalizado, chegou a haver briga entre os arruaceiros e os manifestantes que o reergueram.

– Imbecil! Tu és da polícia! – gritou uma das jovens que havia posto o contêiner abaixo.

– O que adianta isso? Só vão dar mais trabalho para os garis – respondeu um manifestante.

Confira imagens da manifestação em Porto Alegre:



O primeiro prédio depredado foi uma agência do Banrisul, depois do Parque Farroupilha. De novo choveram vaias, mas o grupo interessado em tumulto continuou a destruir. Jogaram uma bomba de fabricação caseira na sede do Departamento de Identificação, quebraram as vidraças de uma revenda Volkswagen e destruíram uma banca de revistas. O ápice das depredações ocorreu no cruzamento com a Ipiranga, quando o grupo que vinha fazendo os ataques destruiu as vidraças de uma revenda Honda e invadiu a loja, derrubando motos e móveis. Até então, a Brigada Militar acompanhava tudo à distância.

– Para, não faz isso, cara! É vandalismo – implorou uma jovem

– Olha só. O protesto perdeu a razão aqui – disse outra, quase chorando.

– Vocês estragaram tudo! – disse uma terceira manifestante.

– Cala a tua boca – gritou um dos agressores.

Alguns integrantes do grupo que atacou a revenda de motocicletas tentou furtar capacetes de dentro da loja. Foram impedidos por outros manifestantes.


Na Ipiranga, início do confronto com a BM

A Brigada Militar só interferiu depois da destruição da revenda, às 20h30min, duas horas e meia depois do início da manifestação. O grupo que vinha à frente, começou a se dirigir ao prédio da Zero Hora, a algumas centenas de metros dali, quando os policiais, vindo em sentido contrário, começaram a atirar bombas de efeito moral. 

Quando a massa chegou à Ipiranga, encontrou um campo de batalha. Grande parte das pessoas não tinha noção do que havia acontecido. As explosões soaram na noite, houve correria, gente sendo perseguida pelos cavalos dos policiais, jovens chorando, sem saber para onde ir.

– Minha mãe não queria que eu viesse e não sabe que estou aqui – chorava uma garota.

– Vamos tocar o terror para lá. Aqui a Brigada já tomou – disse um dos encapuzados, correndo de volta da Ipiranga para a João Pessoa.

A partir desse momento, enquanto muitos iam embora decepcionados com o rumo do movimento, os confrontos se acirraram. A Brigada Militar foi empurrando os manifestantes pela Avenida Ipiranga, depois pela Azenha, onde houve novo confronto e quatro detenções,  e em seguida pela João Pessoa, enquanto o grupo de algumas dezenas de arruaceiros depredava prédios, incendiava contêineres, quebrava sinaleiras e arrancava lixeiras e placas de trânsito.

Acantonados na João Pessoa, manifestantes levaram contêineres para o meio da rua e puseram fogo neles, para fazer barricadas. 

A Brigada Militar, pouco a pouco, foi fazendo os ainda presentes recuarem, por onde tinham vindo. Depois de expulsá-los da Ipiranga, foi empurrando-os pela João Pessoa, em direção ao Centro. Ao lado do Shopping João Pessoa, o grupo de depredadores começou a destruir um ônibus que havia sido abandonado no corredor. Quebraram seus vidros, picharam-no e tentaram derrubá-lo. Quando a Brigada fez menção de atacar, empurraram o veículo em direção aos soldados por uma dezena de metros. Os PMs pararam, para logo reagir com novas bombas de gás lacrimogêneo. Em fuga, o grupo isolado que tumultuou o protesto continua destruindo e pondo fogo. Uma parte entrou pela Jerônimo de Ornelas, congestionada de carros. Presos entre os fugitivos e os policias, sob o barulho de bombas e vidros quebrados, os cidadãos presos em carros e ônibus viveram momentos de pavor. 

Eram 22h e a cidade tinha mais de 50 contêineres de lixo em chamas, um ônibus incendiado, ruas bloqueadas e confrontos por todos os lados. Na Azenha, uma viatura da BM foi cercada. Dois policiais desceram, foram empurrados e retornaram para o carro. Ao saírem,  o veículo teve vidros quebrados por pauladas.

Na dispersão do protesto, radicais, de volta ao centro, quebraram vidraças do Palácio da Justiça e tentaram invadir a Assembleia Legislativa.

Fonte: Itamar Melo e Marcelo Monteiro | ZERO HORA

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