quinta-feira, 27 de junho de 2013

Jovem que caiu de viaduto durante as manifestações em Belo Horizonte morre no HPS João XXIII

PROTESTO EM BELO HORIZONTE. HOMEM CAI DE VIADUTO. FOTO: MARIELA GUIMARAES/O TEMPO


FERNANDA VIEGAS/ ALINE DINIZ / MÁBILA SOARES / CAROLINA CAETANO/ JULIANA BAETA/GUSTAVO LAMEIRA

Morreu no fim da noite de quarta-feira (26), o jovem que caiu do viaduto José de Alencar, na avenida Antonio Carlos, durante os confrontos entre a Polícia Militar (PM) e os vândalos infiltrados nas manifestações que acontecem em Belo Horizonte. O metalúrgico Douglas Henrique de Oliveira Souza, de 21 anos, caiu de uma altura de aproximadamente 6m, em um vão que existe no viaduto. Do mesmo local, outras quatro pessoas caíram durante os protestos.

O jovem foi socorrido pelos bombeiros e levado de helicóptero, em estado gravíssimo, para o Hospital João XXIII. Douglas teve perda de massa encefálica, passou por diversas cirurgias durante a noite, mas não resistiu aos ferimentos. Esta é a primeira morte contabilizada em consequência dos protestos que tomaram as ruas da capital desde a última semana. Em nota divulgada à imprensa, o governador Antonio Anastasia lamenta o falecimento do jovem Douglas Henrique e transmite sua solidariedade aos  familiares e amigos neste momento de extrema dor.

O protesto que começou pacífico durante a tarde, e reuniu mais de 50 mil pessoas, ficou tenso durante a passagem pela avenida Abrahão Caram, na Pampulha. Antes da pequena parcela desordeira tumultuar a ação, manifestantes legítimos deram um belo exemplo de civilidade ao percorrerem todo o percurso do centro de BH até a Pampulha, com gritos de justiça e ordem, cartazes, apitos, além de ações pacíficas, que foram abafadas no fim da tarde após o início dos conflitos.

Os problemas começaram quando pequenos grupos de vândalos infiltrados na manifestação chegaram mais uma vez na barreira criada pela polícia na avenida Antônio Carlos com Abrahão Caram. A Polícia Militar (PM) disparou bombas de gás lacrimogênio após eles tentarem derrubar a grade que dá acesso ao Mineirão. Os manifestantes queriam chegar ao estádio e alegavam que tinham o direito de manifestar em qualquer lugar.  

Durante a confusão, duas pessoas caíram do Viaduto José Alencar, no encontro entre as avenidas Abrahão Caram e Antônio Carlos, e outras três ficaram feridas durante o confronto. Além do jovem que morreu na noite desta quarta, Daniel de Oliveira Martins, de 28 anos, também caiu do mesmo viaduto durante as manifestações. Ele foi levado, consciente, ao João XXIII com fratura no rosto e suspeita de fratura na perna esquerda.

Thiago Mendes Antunes, de 24 anos, foi atingido no olho por uma bala de borracha e corre risco de perder a visão. Até o fim da noite desta quarta ele passava por cirurgia no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. Uma jovem de 22 anos, identificada como Alícia Mourão, também ficou ferida depois de ser atingida na perna por estilhaços de uma das bombas lançadas pela polícia. Além dela, Cláudia Vargas, de 40 anos, foi levada ao pronto-socorro depois de cair e bater a cabeça durante a manifestação. O estado de saúde dela não é grave.

Depredação

Um grupo com cerca de 200 pessoas, que voltava para a avenida Abrahão Caram, depredou quatro ônibus da linha 5401 ao passar pela rua Alameda Ipê Branco. Outro grupo de vândalos colocou fogo na concessionária Kia, localizada na Antônio Carlos, e arrastou um caminhão para o meio da avenida, onde havia uma "fogueira". Dois caminhões e dois carros, além de várias motos, foram destruídos pelas chamas. Em meio à confusão, algumas pessoas aproveitaram para saquear uma loja de bebidas que fica no posto Shell; os prejuízos ainda não foram contabilizados.

Os bombeiros controlaram as chamas na concessionária e na avenida e formaram uma barreira ao redor do posto Shell, onde a loja de bebidas foi saqueada. A PM fez um cordão de isolamento em frente à Kia impedindo, também, a passagem das pessoas que estavam na orla da Lagoa da Pampulha. Apenas quem apresentava o ingresso do jogo ou credencial de morador, ou ainda, estivesse  com o carro estacionado no local, era autorizado a passar.

O bloqueio foi desfeito e a polícia orientou os manifestantes a voltarem para a casa. Muitas pessoas se dispersaram, algumas a caminho de casa, outras em busca de novos pontos de protestos, como a praça Sete, que voltou a abrigar um grande número de manifestantes no início desta noite e virou um palco de guerra entre polícia e vândalos, após um grupo disparar pedras nos militares.

A orientação dos militares, através de um carro de som, na Antônio Carlos, é a seguinte: "Atenção pessoas. Não andem no meio das ruas. A polícia está resgatando a ordem pública. Imprensa pode subir no carro conosco para filmar. Estamos prendendo criminosos e bandidos que se infiltraram no meio da multidão. Pessoas de bem voltem para suas casas. Existem muitos bandidos na rua ainda."
Parte da iluminação das ruas Coronel Dias Bicalho e Professor Magalhães Penido foi desligada para ajudar a dispersar os manifestantes.

No início da tarde, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Márcio Martins Sant´Ana, disse que confiava no bom senso dos manifestantes. Ele pediu que eles evitassem tumultos e envolvimento em depredações e badernas. O coronel alertou, ainda, sobre as barreiras que foram instaladas na avenida Abrahão Caram, esquina da avenida Antônio Carlos, e que não poderiam ser ultrapassadas. "Para pular esses grades, a pessoa terá que aplicar uma certa força física e se o fizer sofrerá as sanções impostas pela lei", alertou. O policial destacou, no entanto, que as pessoas poderiam seguir pela avenida Santa Rosa até a orla da Lagoa da Pampulha, sem qualquer problema.

Início

Por volta de 12h00, cerca de 40 mil manifestantes tomaram a praça Sete, no centro de Belo Horizonte, e seguiram pelas ruas da capital em direção a Pampulha. Em pouco mais de uma hora de concentração no centro, os policiais apreenderam dezenas de produtos proibidos, como bombas, bebida alcoólica, ovos, máscaras e vinagre. Ainda de acordo com a polícia, 28 pessoas foram presas portanto materiais que poderiam ser usados para provocar depredações, como bolas de chumbo e ferros. 

Além de integrantes de movimentos sociais, participaram do movimento médicos, taxistas e deficientes visuais. Um grupo de estudantes do curso de Comunicação Social da UFMG também integrou o manifesto. Eles fizeram um piquenique comunitário na praça Sete e levaram alimentos para servir aos manifestantes. Pela manhã, eles fizeram um café da manhã na Praça da Liberdade.

Nuas nas ruas

Duas mulheres completamente nuas chamaram a atenção dos manifestantes. Cobrindo o rosto e com parte do corpo pintado, elas também participaram do manifesto, organizado pelo Facebook. Outros manifestantes arrumaram uma forma diferente de protestar fazendo rapel em uma passarela que fica na avenida Antônio Carlos, próximo ao Anel Rodoviário.

Fonte: O TEMPO

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