segunda-feira, 4 de julho de 2011

Policiais são suspeitos de informar traficantes sobre operações da BM em Porto Alegre

     Carga horária rígida, turnos bem definidos, assistência de policiais militares e propina de R$ 10 mil a um agente negociada por um advogado. São ingredientes de um esquema descoberto pela polícia civil ao lado do Ministério Público que resultou no pedido de prisão preventiva de um agente e de um soldado da Brigada Militar (BM) por suposto envolvimento com traficantes da Vila Rosa, na zona norte de Porto Alegre.
     Escutas telefônicas sobre o caso foram reveladas neste domingo, em reportagem exibida pelo Teledomingo na RBS TV. Com autorização da Justiça, agentes da 12ª delegacia de Porto Alegre grampearam durante seis meses os telefones de traficantes da região. 
     Foram cerca de 5 mil horas de conversas que revelam a estrutura de funcionamento dos criminosos. Segundo a polícia, os traficantes se organizam como uma empresa. E cumprem até carga horária. 
     — Tem jornada de trabalho que se inicia às 7h, durante 24 horas, em turnos de seis horas — afirma o delegado César Carrion, que comandou a investigação. 
     O telefone do policial militar Rubem Edson Gomes dos Santos, do 20º Batalhão, também foi interceptado. Ele é acusado de avisar os traficantes sobre operações da BM. 
     —Sempre tem um PM que avisa. O PM (Santos) fala com outro PM que está na sala de operações e ele diz: "ó, hoje vai ter operação. Várias viaturas assim, assim... Pode avisar o cara"— descreve o delegado.

Operação prende quatro e 11 estão foragidos

    
Na gravação exibida pela RBS TV, o PM conversa com o colega que opera o sistema de rádio do Batalhão e pergunta se há operações policiais na boca de fumo da Vila Santa Rosa:

     — Tá ruim pra hoje?
     — É, todas guarnição, todas guarnição — responde o PM da sala de rádio. 

     Em seguida, segundo a investigação, Santos telefona a um suposto traficante.

     — É, eu falei com ele (colega da sala de rádio). Ele me ligou agora há pouco. Tá meio embaçado. Tão com umas operações aí — afirma o PM.

     Santos teve a prisão preventiva solicitada à Justiça na sexta-feira, ao lado de um agente da 22ª delegacia (Porto Seco) e de um advogado. Identificado como Carlos Ferreira de Abreu, o agente teria recebido R$ 10 mil para não prender um dos integrantes do bando. O advogado é acusado de intermediar o esquema. 
     Na noite de terça-feira, cerca de 140 policiais civis e militares fizeram uma operação para cumprir 30 mandados de busca na Vila Santa Rosa. Foram apreendidos cerca de um quilo de maconha e uma balança de precisão. Quatro suspeitos foram presos. Outros 11 tiveram prisão decretada e estão foragidos.
     Quando a polícia chegou ao local, não havia traficantes na boca de fumo. Cinco horas antes, à luz do dia, a equipe da RBS TV fez imagens da livre venda de drogas no local.

Contraponto

     O policial civil citado na reportagem não foi localizado, mas, em conversa com superiores, negou as acusações. O PM também negou envolvimento com traficantes e disse que ficou surpreso com o pedido de prisão.

Fonte: RBS TV

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