Cristina Kirchner e Dilma durante declaração à
imprensa no Planalto (Foto: Roberto Stuckert / Presidência)
imprensa no Planalto (Foto: Roberto Stuckert / Presidência)
As presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e da Argentina, Cristina Kirchner, afirmaram nesta sexta-feira (29) que os países da América Latina estudam ações coordenadas para fazer frente à crise econômica global.
“Devemos definir ações conjuntas e concretas para defender nossos países da excessiva liquidez que valoriza nossas moedas”, afirmou Dilma em declaração à imprensa no Palácio do Planalto, após recepção e reunião reservada com a colega argentina.
Em seu discurso, a presidente Dilma ressaltou o desenvolvimento econômico e social dos países sul-americanos e suas riquezas naturais, fazendo um contraponto com as dificuldades econômicas pelas quais passam países como Estados Unidos, Portugal e Espanha.
Para Cristina Kirchner, Brasil e Argentina têm a responsabilidade de liderar a integração dos países sul-americanos por serem as maiores economias da região. Segundo ela, é preciso tomar medidas para defender o que a presidente Dilma chamou de “formidável avanço”.
“Pela primeira vez vimos com gratificação uma visão comum sobre os problemas globais.(..). Temos de ter atitude pró-ativa e de integração na defesa do que tem efeito em todos os países da região”, disse a presidente argentina.
Para Cristina Kirchner, a atitude se justifica porque, para ela, a responsabilidade de Brasil e Argentina no continente é maior.
"Quero dizer que na região Argentina e o Brasil têm uma responsabilidade mais alta que o resto dos paises porque atingimos desenvolvimento social, técnico e científico que nos colocam na responsabilidade de tentar integrar os mercados", disse Cristina Kirchner.
As duas presidentes relataram a preocupação dos colegas sul-americanos com os efeitos da crise nos paises desenvolvidos. O tema foi discutido nesta quinta-feira (28) durante reunião da Unasul, em Lima, no Peru. As duas presidentes estiveram na capital peruana e participaram da posse do presidente do Peru, Ollanta Humala.
Disputas comerciais
Sobre o comércio entre os dois países, que em muitas áreas são concorrentes, Dilma ressaltou o intercâmbio recorde de US$ 33 bilhões em 2010. Segundo ela, é preciso integrar as cadeias produtivas dos dois países e pensar o comércio e a produção sob um ponto de vista regional. A presidente brasileira minimizou os problemas e disputas comerciais entre Brasil e Argentina.
“É importante para Brasil, Argentina e toda a região que integremos cada vez mais nossos processos produtivos para incentivar o componente regional nas nossas cadeias. Os problemas que surgem aqui e ali são de pouca monta. Nosso futuro comum passa pelo comércio”, disse Dilma.
Para a presidente da Argentina, a integração é ainda mais importante diante da crise global. “Não é o caso de esfriar as economias, mas de reaquecer os investimentos, de colocar nossos neurônios e conhecimento e nossas políticas na aproximação dos empresários dos diferentes países para acelerar processo de integração produtiva”, afirmou Cristina Kirchner.
Encontro de ministros
Dilma e Cristina manifestaram apoio à realização de um encontro dos ministros da Fazenda de países da América do Sul, na primeira semana de agosto. O evento estava marcado para o dia 11 de agosto, mas, para as duas presidentes, precisa ser adiantado.
“Os tempos da economia muitas vezes não são aqueles da política. Ontem [quinta, 28], foi o ponto de partida para a necessidade de reelaborar um processo de integração da região, vendo outros processos de integração para não cometermos os mesmos erros”, disse a presidente da Argentina.
Peru
A presidente Dilma aproveitou o comunicado à imprensa para falar sobre as expectativas em relação ao governo do presidente do Peru, Ollanta Humala, empossado no cargo nesta quinta (28). Segundo Dilma, a democracia peruana se fortalece com o projeto de distribuição de renda, um projeto com o qual, segundo Dilma, o Brasil está comprometido.
“O projeto que Ollanta Humala [presidente do Peru empossado nesta quinta] se comprometeu tem a ver com a nossa visão de desenvolvimento social. Sentimos a força de uma região que cresce, distribui renda, inclusive socialmente, que fortalece sua democracia que tem expressivas reservas de petróleo, que tem uma parte muito importante da reserva de água doce do mundo, uma região que tem recursos minerais, que tem uma das maiores produções de alimentos do mundo”, disse Dilma.
Dilma afirmou ainda que a democracia peruana sempre foi composta por milhões de habitantes marginalizados, “afastados do processo decisório” do país e que hoje “se transforma”: “Quanta diferença de outras partes do mundo dominadas pela recessão, desemprego e incapacidade política na resolução de desafios.”
Cooperação nuclear
Dilma e Cristina Kirchner assinaram uma declaração conjunta em que fazem um balanço de projetos e acordos comuns nas áreas macroeconômica, de indústria naval e de cooperação nuclear.
No documento, as duas nações comemoram os 20 anos da assinatura do mecanismo de controle de material nuclear entre Brasil e Argentina, reconhecido internacionalmente.
Tecnologia
A presidente brasileira afirmou ainda que a inovação é um dos principais pontos da nova agenda de discussões bilaterais entre os dois países.
“É necessário sempre ir além. Em minha visita à Argentina, estabelecemos o desafio de construir uma nova relação centrada na construção de uma agenda baseada em ciência e tecnologia. Identificamos oportunidades, além das áreas sociais, e precisamos converter em oportunidades as características que temos. Somos os produtores de alimento, mas somos produtores de tecnologia. Argentina e Brasil têm competência de atuar de forma profunda nessas áreas”, afirmou Dilma.
Embaixada
A presidente da Argentina aproveitou o pronunciamento para falar da inauguração da nova sede da embaixada do país no Brasil. Segundo Cristina, o prédio da sede diplomática da Argentina em Brasília era alugado e foi o ex-presidente Nestor Kirchner, morto em outubro do ano passado, que decidiu construir uma sede própria, diante da importância do Brasil como parceiro prioritário da Argentina.
“Alugávamos um prédio para embaixada aqui na casa do nosso principal parceiro comercial e político. Quem decidiu que a Argentina tivesse o prédio da sua embaixada foi Nestor. Nela haverá a placa de recordação que ele colocou, a pedra fundamental”, disse Cristina.
A presidente da Argentina ainda lembrou que o Brasil é um parceiro estratégico por questões históricas, e a nova embaixada irá reforçar a relação. “Será um símbolo com aqueles que consideramos parceiros estratégicos por uma questão de história, de identidade da região e fundamentalmente de resultados.”
Copa América
Ao final da declaração, Cristina Kirchner fez uma brincadeira com a recente eliminação das seleções de futebol do Brasil e da Argentina na Copa América. A presidente lembrou que, antes da construção do prédio que será inaugurado nesta quinta, havia um campo de futebol no terreno destinado pelo governo brasileiro para a sede da embaixada argentina.
“Não havia construção, havia só um campo de futebol, eu acho, o que de certa maneira era uma integração, em torno do esporte, o que mais nos comove, e talvez a única coisa que nos divide, argentinos e brasileiros. Menos mal que os dois ficaram fora da Copa América, ou essa visita haveria fracassado, teria sido impossível”, disse Cristina.
Fonte: Débora Santos e Robson Bonin / Do G1, em Brasília
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