quinta-feira, 14 de julho de 2011

Localizada a filha de João Fernandes, pai arrependido por ter abandonado a família

João Fernandes não vê a filha desde 1972, quando ela nasceu - Daniel Conzi / Agencia RBS

     A filha de João Fernandes soube na tarde desta quinta-feira que seu pai quer conhecê-la, após 39 anos. Por meio da reportagem do Diário Catarinense, Simone descobriu que o pai que a abandonou recém-nascida está arrependido.  Por volta das 17h, Simone foi até a casa do irmão para assistir ao depoimento que o pai deu ao diario.com.br. Por enquanto, a família, que mora em São José, não quer falar com a imprensa. Simone ainda está pensando sobre o que vai fazer. 
     Em abril, um e-mail assinado por João Fernandes chegou à redação do DC. Em tom de súplica, o texto trazia o pedido de um homem de 67 anos, morador de Mandirituba, cidade da região Metropolitana de Curitiba, a 320 quilômetros de Florianópolis. João, também conhecido como Fernando (nome de guerra adotado quando serviu o Exército), buscava a ajuda do jornal para encontrar a filha.
     O catarinense de Canoinhas vivia em São José, em 1971. Num ônibus da linha entre os bairros Estreito e Barreiros, conheceu uma jovem que acabou ficando grávida. Ela morava com a família. Por causa da boemia e da inconsequência juvenil, João não reconheceu a paternidade da menina, que nasceu no meio do ano de 1972. Atualmente, o vendedor de espetinho está casado há 12 anos com Margarida Fogaça dos Santos e sofre com sérios problemas cardíacos. 
     Tocado pela conversão para a igreja evangélica em 2005, João resolveu procurar a menina, hoje com 39 anos. O nome da mãe é Bernadete, e da filha, ele diz, seria Simone. Nos últimos cinco anos, tentou contato por meios de amigos em comum e até programas de televisão. Não teve sucesso.
     — Estou velho, doente e arrependido. Não quero morrer sem conhecê-la.
     João não tem vergonha de reconhecer o egoísmo e a gravidade do erro cometido no passado. Numa conversa no pátio da casa do aposentado, o DC ouviu a história de João Fernandes, o Gordo do Espetinho.

A gravidez

     — Era setembro de 1971. Conheci a Bernadete num ônibus. O pai dela era o motorista, o seu Laudelino. Fizemos amizade. Naquela época, eu estava meio desnorteado na cidade, feito cachorro caído do caminhão de mudança. Aí, ela me deu apoio para ajudar a me virar. Namoramos um tempo, até que surgiu uma vaga para trabalhar numa loja em Curitiba. Fui embora e a deixei.
     Mas, uma irmã da Bernadete também morava em Curitiba e, por conta disso, ela acabou indo para a cidade e me encontrou na loja. Nesse período, eu morava com a minha tia. Acabei levando Bernadete para morar comigo. Foi aí que ela engravidou.
     Como eu não tinha muito juízo, deixei-a com a minha tia e saí para viver numa república com amigos, no Centro de Curitiba. Abandonei a Bernadete.

Paternidade negada

     
— Uns dias depois, ela foi até a loja e disse: "Estou grávida de você!" Falei que não tinha o que fazer. Depois disso, ela voltou para São José. Quando a menina tinha menos de um mês de vida, ela voltou a me procurar em Curitiba. Pediu se eu queria registrar a criança no meu nome. Falei que já estava dando pensão para um filho de três anos de um relacionamento antigo em Blumenau.
     Bernadete compreendeu. Só havia viajado para saber se eu iria assumir a paternidade. Ela foi muito bacana nesse sentido. Antes de partir, pediu para eu escolher o nome da menina. Na época, estava no ar a novela Selva de Pedra. Me inspirei na personagem de Regina Duarte, a Simone. Estávamos numa praça no Centro. Peguei um pouco a menina no colo e comprei algumas fraldas. Logo depois, Bernadete voltou para Santa Catarina, e nunca mais a vi. Acabou!

O último contato

    
— Passados 18 anos, Bernadete descobriu o meu telefone. Ela me falou que Simone não queria nada de mim, só me conhecer. Também contou que a menina estava na faculdade em Florianópolis.
     Na época, eu estava com uma companheira. Ela ouviu a conversa na extensão do telefone e destratou Bernadete com palavrões. Depois disso, nunca mais tive contato com a mãe de minha filha. Uns anos mais tarde, estive em Florianópolis para buscar uns documentos. Tentei procurá-la novamente. Mas havia um monte de prédios no terreno onde a mãe dela morava.
     A região cresceu demais. Busquei informações por ali e não consegui nada. Sei que havia uma fábrica grande de uniformes, onde a Bernadete trabalhou como costureira. Mas foi em vão.

O arrependimento

    
— De um tempo para cá comecei a frequentar a igreja, e me deu um sentimento de consciência pesada. Penso naquela vez que a menina queria me conhecer e eu não pude falar com ela. Pode ser que tenha até uma mágoa. Por isso, antes de morrer, gostaria de conhecer a menina. Quero ficar em paz. Tenho um sentimento de culpa e arrependimento. Quero pedir perdão, também, para a mãe dela. Uma mulher muito direita e que me ajudou muito.
     Quando eu trabalhava na loja, usava camiseta branca. Mas só tinha uma. A Bernadete lavava a camisa e colocava atrás da geladeira para secar. De madrugada, antes de eu sair para trabalhar, ela levantava e passava a camisa ainda úmida. Acho que ela pensava num futuro com nós dois. Mas na época eu era "viradão", como se diz. Bebia demais, fumava e só queria festa. Aí, não quis nada sério.

Fonte: Diário Catarinense

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