Créditos: Leandro Vesoloski
Um título que a cidade
não gostaria de carregar, porém ao se falar do golpe do conto do bilhete
premiado em qualquer parte do país, fica difícil não relacionar a Passo Fundo.
O velho e surrado golpe continua fazendo vítimas.
Na semana onde três
pessoas de uma mesma família foram presas em Passo Fundo por tentar aplicar o
golpe na cidade de Curitibanos/SC e outros nove passo-fundenses foram
indiciados por lesar mais de sete pessoas em cerca de R$ 40 mil na cidade de
Cachoerinha, a reportagem da Uirapuru tentou descobrir como o golpe do bilhete
ainda alimenta uma cadeia de outros crimes e sustenta famílias inteiras na
Capital do Planalto Médio.
Como funciona o golpe
O delegado da Draco, Diogo Ferreira explica que o golpe é aplicado
invariavelmente da mesma forma. “Uma pessoa que diz ser do interior, muitas
vezes analfabeta, que não possui documentos ou conta bancária, solicita
informações ou ajuda para alguém dizendo ter um bilhete de loteria premiado.
Logo se aproxima uma terceira pessoa disposta a ajudar e simula uma ligação
para o banco para confirmar se o bilhete é mesmo premiado” disse o delegado.
Diogo Ferreira conta que o ganhador do prêmio solicita uma caução como
garantia de que não será enganado. “Muitas vezes a pessoa não tem dinheiro e
então empenha joias ou outros bens de valor”. Depois de ter em sua posse o
valor entregue como caução, os estelionatários despistam a vítima e desaparecem.
O berço do crime
O delegado diz que em qualquer lugar do país em que ocorrer um golpe
semelhante ao do bilhete de loteria premiado, o fato será ligado a cidade de
Passo Fundo
“Se você chegar em São Paulo, no
Paraná ou em outro lugar e falar em conto do bilhete, vão relacionar o golpe a
cidade de Passo Fundo. No meio policial a cidade é conhecida como a terra do
conto do bilhete. Estimo que existam mais de 400 estelionatários envolvidos com
o conto do bilhete na cidade”, contou Diogo Ferreira.
Gerações que vivem do crime
O delegado conta que o golpe já faz parte da história da cidade. “Virou
uma questão cultural dentro da criminalidade de Passo Fundo. Na década de 90
começou com um ou dois que aprenderam e aplicavam o golpe. Os pioneiros são
famílias que fizeram carreira dentro do conto. Agora já está na terceira
geração do empreendimento” ressaltou Ferreira. O delegado conta que em alguns
núcleos de golpistas a atuação começou com o avô, depois os pais e agora os
filhos seguem aplicando o golpe. “Temos famílias bem tradicionais ligadas ao
conto e que passam os conhecimentos de geração em geração”.
Diogo Ferreira explica porque os estelionatários não ficam presos quando
são flagrados cometendo o crime. “A pena para estelionato é de um a cinco anos.
Na pior das hipóteses você vai pegar uma pena de dois anos. Essas penas podem
ser substituídas por prestação de serviço ou o condenado vai cumprir em regime
aberto ou semiaberto” disse. Diogo Ferreira explicou também que algumas pessoas
migraram do tráfico para o estelionato já que a pena é menor.
O que leva as vítimas a cair no golpe
Ferreira conta que dois fatores são fundamentais para que as pessoas se
tornem vítimas dos bilheteiros.
“Ingenuidade e ganância é o que
molda todo o golpe do conto do bilhete. Só vi até hoje um relato dizendo em que
a vítima queria somente ajudar a outra pessoa. É um pouco de olho gordo de
querer ganhar em cima daquela oportunidade”.
Ferreira alerta que não existe dinheiro fácil. “Se tu tem um bilhete que
você acha que vale um milhão, você vai chegar para um desconhecido pedindo
informação com o risco de ser assaltado?” questiona o delegado.
A ponta do Iceberg
Diogo Ferreira conta que o golpe do bilhete premiado fomenta o
cometimento de outros crimes. “O principal crime depois do conto do bilhete é a
lavagem de dinheiro. Os envolvidos criam CNPJs somente para lavar o dinheiro,
adquirem veículos e ostentam um padrão de vida acima da média”, contou o
delegado.
Operação Polis
Ferreira conta que depois da operação Polis o comportamento dos golpistas
mudou. “Até a Operação Polis os estelionatários não tinham receio de ostentar.
Depois que prendemos alguns, eles perceberam que lavagem de dinheiro dá cadeia.
Atualmente temos quatro presos na Operação Polis e a qualquer momento podemos
ter uma nova fase da operação com novas prisões”.
O delegado explicou que a investigação de crimes como a lavagem de
dinheiro é trabalhosa. “A investigação desse tipo de crime é complexa, tem
muita análise de dados, envolve quebra de sigilo, mas está dando resultado.
Temos muita gente do lado de lá e pouca gente do nosso lado”. Ferreira disse
que a Draco já investigou mais de 300 pessoas por lavagem de dinheiro e deixou
um recado aos bilheteiros. “Caíram poucos ainda mas em dois ou três anos, os
que não caírem terão que ir embora de Passo Fundo. Nós vamos seguir firmes e
vamos pegar um por um” destacou Diogo.
Perfil das vítimas
Ferreira conta que não são apenas pessoas menos instruídas que caem no
golpe do bilhete premiado. “Pessoas muito bem instruídas já foram lesadas. É
aquela coisa, um pouco de ingenuidade e muita ganância. Os estelionatários
analisam a vítima para escolher em quem aplicar o golpe e dar o bote certo. As
pessoas chamam Passo Fundo de faculdade do conto do bilhete” disse o delegado.
Dicas para não cair no golpe
Diogo Ferreira orientou a não dar conversa a estranhos quando se
suspeitar de que está prestes a ser alvo dos estelionatários. “Qualquer
promessa de dinheiro fácil, abra o olho porque é golpe. Se alguém pedir
informação sobre bilhete premiado no máximo indique onde é a Caixa Federal”
concluiu o delegado.
Por Leandro Vesoloski
Rádio Uirapuru | Passo
Fundo
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