Equipe de Bolsonaro fez reunião para falar sobre
impacto das falas do presidente
A sequência de declarações de Jair Bolsonaro nos
últimos dias levou apreensão a alguns de seus auxiliares mais próximos e
motivou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto na manhã dessa
terça-feira, destaca o jornal O
Estado de S. Paulo. Na avaliação do grupo, que inclui integrantes da ala
militar do governo, o presidente elevou em demasia o tom de suas falas, o que
vem prejudicando sua gestão.
Enquanto ele provoca dando declarações
desencontradas sobre a morte do pai do presidente da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, na ditadura militar, põe em dúvida relato de indígenas acerca de ataque de
garimpeiros no Amapá e evita lamentar o massacre em Altamira, o governo perde a
chance de divulgar pautas positivas, de acordo com integrantes desse grupo.
Nessa terça, Bolsonaro voltou a causar polêmica
ao questionar a veracidade de documentos oficiais que apontam a morte de
Fernando de Santa Cruz, pai de Felipe, como vítima da ditadura. "A questão
de 1964, não existem documentos se matou, não matou, isso aí é balela",
disse. De acordo com uma fonte a par da conversa, "coisas boas", como
a liberação
do FGTS ou a descoberta
do hacker que invadiu o celular de autoridades, acabam "se perdendo em polêmicas" logo depois
diante do "destempero" presidencial.
Avaliações
Uma das
razões da reunião foi justamente tentar entender o que está por trás do
comportamento de Bolsonaro. Muitos deles admitem que têm sido pegos de surpresa
pelas declarações controversas do presidente. Dois diagnósticos foram feitos. O
primeiro é que a equipe presidencial errou ao deixar Bolsonaro muito exposto a
jornalistas durante eventos nos últimos dias. A intenção é reduzir parte das
interações, limitando, assim, as oportunidades de ele alimentar novas polêmicas.
A segunda avaliação é de que integrantes da
chamada ala ideológica têm conseguido influenciar o presidente de forma mais
assertiva. Não está claro para o grupo quem são os mais "ativos"
nessa empreitada, embora "suspeitas" recaiam sobre aliados
encarregados de sua comunicação digital, área de influência de Carlos Bolsonaro.
Uma das leituras feitas é de que essa tentativa
de inflamar o discurso do presidente decorre de uma reação à chegada ao
Planalto de assessores batizados internamente de "agentes contemporizadores":
Jorge Oliveira, ministro da Secretaria-Geral da Presidência; Fabio Wajngarten,
chefe da Secretaria de Comunicação; e o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da
Secretaria de Governo.
O trio adota discurso moderado e tenta fazer
pontes com a imprensa. Ramos tem histórico de bom relacionamento com
jornalistas e Wajngarten teve encontro recente com a cúpula das Organizações
Globo. Um auxiliar presidencial lembra que, apesar do aparente
"arroubo", as declarações feitas por Bolsonaro constam de seu repertório.
O ex-deputado é conhecido por defender o período militar e a tortura contra
militantes de esquerda.
Segundo alguns destes aliados, Bolsonaro moderou
o tom durante semanas cruciais para a tramitação da reforma da Previdência
justamente atendendo a pedido de aliados. Durante o recesso parlamentar, no
entanto, ele voltou às polêmicas. Além de "blindar" Bolsonaro do
contato com a imprensa, o grupo acredita que o retorno do filho mais velho ao
Brasil, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), possa ajudar a amainar os ânimos.
Ele tem um perfil mais moderado em relação aos irmãos e já foi comunicado sobre
a crise.
Repercussão
Além de ofuscar feitos do governo, a nova crise
alarmou ministros pelo potencial de desgaste na imagem do presidente. Desde o
anúncio sobre a indicação de Eduardo Bolsonaro à
embaixada do Brasil nos Estados Unidos, a militância
pró-governo tem encontrado dificuldade para reverter aumento de menções
negativas nas redes sociais de Bolsonaro, avaliou Sergio Denicoli, diretor da
AP/Exata, especializada em monitoramento das redes.
A repercussão negativa sobre a fala que trata da
morte do pai do presidente da OAB entrará no terceiro dia consecutivo, segundo
análise. "A própria militância dele não conseguiu defender o que foi dito,
mas defende a sinceridade do presidente", disse Denicoli. Apesar de o
aumento dos dias de crises, o diretor da empresa afirmou que Bolsonaro ainda
tem ampla maioria de apoiadores nas redes sociais. "Está longe de perder a
popularidade."
Liberdade
de imprensa
Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ)
condenou nessa terça toda e "qualquer iniciativa que vise a
intimidar" o livre exercício do jornalismo ou "pretenda afrontar o
direito constitucional ao sigilo da fonte". O documento afirma que "a
defesa enfática" da liberdade de imprensa e também do sigilo da fonte é
compromisso histórico da ANJ. "São princípios básicos da democracia."
A entidade diz também esperar que "esses
princípios sejam respeitados" em relação à cobertura que diferentes
veículos de comunicação têm dado ao vazamento
de supostas mensagens entre procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça. O material foi originalmente
publicado pelo site The Intercept Brasil, que declara
ter recebido as informações de uma fonte anônima.
Preso pela Polícia Federal por clonar o celular
de diversas autoridades, Walter Delgatti Neto disse ter repassado os dados
roubados para o site. "Ao mesmo tempo, a ANJ considera que o trabalho de
investigação policial sobre eventuais ilegalidades cometidas na obtenção de
informações relacionadas à Lava Jato é necessário e ocorre dentro da normalidade",
afirma a entidade ao concluir a nota.
Por AE
Correio do Povo
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