Vítima foi enterrada com o terno que usaria para casarFoto: Marcelo Oliveira / Agencia RBS
No dia em que
casaria, o garçom Julio Cezar Leal Vaz, 35 anos, acabou morto, na manhã de
sábado, em Viamão. E a família dele acusa PMs, armados com uma pistola de
choque (taser), de serem os responsáveis.
Segundo a mulher de
Julio, Josiane Vieira Menezes, 34 anos, no sábado o casal registraria no
Cartório Civil a união existente havia dez anos. Porém, o garçom, que tinha
problemas de depressão e usava remédios, teria sofrido um surto devido à emoção
do momento.
- Estávamos saindo
para o cartório quando ele tirou o terno. Perguntei o que tinha, e ele não
respondeu. Saiu para a rua só de bombachas, sem camisa e descalço. Chovia muito
naquele momento - recorda Josiane.
A pé e fora de si,
Julio saiu de casa sem rumo. Preocupados, familiares acionaram a Brigada e o
Samu. Há dois anos, contam parentes, o garçom tinha passado por crise idêntica
e sido socorrido pela BM.
- Ele não podia se
emocionar muito que entrava em surto. Mas era de bom coração e trabalhador -
assegura o sobrinho José Augusto Xavier Vaz, 28 anos.
Julio percorreu cerca
de dois quilômetros até a Praça da Matriz, no Centro. Lá, segundo testemunhas,
pegou um botijão de gás de 13kg, que estava em um caminhão, e o jogou em um
carro.
Garçom teria atacado PMs
Quando a viatura da
Brigada chegou, o garçom arremessou um tijolo contra os policiais.
- Os policiais deram
o choque mais de uma vez e, quando ele caiu, o algemaram e continuaram dando
choque. Só tiraram a algema quando os colegas de trabalho do Julio se
aproximaram e o reconheceram - revelou o motoboy.
"Deram o choque mais de uma vez"
À distância, o
motoboy Charles Costa Marins, 26 anos, que trabalha na lancheria onde Julio era
funcionário, viu toda a ação, sem saber que se tratava de um colega.
- Os policiais deram
o choque mais de uma vez e, quando ele caiu, o algemaram e continuaram dando
choque. Só tiraram a algema quando nossos colegas se aproximaram e o
reconheceram - conta o motoboy, que estava na frente da lancheria, a 100m do
local.
Ontem, durante o
velório no Cemitério Parque Saint Hilaire, José Augusto lamentava a morte
precoce do tio:
- Ele não podia ter
morrido desta forma. Na quinta-feira, eu vi meu tio feliz, comprando o terno
para o casamento. Infelizmente, o terno acabou sendo usado para o enterro.
Caso será investigado
Socorrido pela
ambulância do Samu, o garçom morreu no Hospital de Viamão. No laudo preliminar,
a causa da morte está indeterminada.
A própria Brigada
Militar registrou o caso na DPPA de Alvorada, que enviará inquérito para a 1ª
DP de Viamão, responsável pela investigação.
Conforme o comandante
da 1ª Companhia do 18º BPM (Viamão), capitão Emerson Rama Quadros, o uso da
taser foi dentro da técnica.
O que diz a Brigada Militar
"O homem estava
incontrolável. Havia ingerido muitos remédios e, ainda, tinha comido uma
comigo-ninguém-pode (planta venenosa). Estava só de bombachas, sem camisa e
descalço na rua, na chuva. O policial aplicou apenas dois disparos. O primeiro
não fez efeito e o homem arrancou o dardo do tórax. O PM recarregou e disparou
uma segunda vez. O homem caiu. Em seguida, ele ficou com um lado todo roxo.
Teve uma parada cardíaca. Mas não se pode afirmar que foi a taser. Vamos abrir
um inquérito policial militar para apurar o que ocorreu".
Comandante da 1ª Cia.
do 18º BPM, capitão Emerson Rama Quadros.
Fonte:
Aline Custódio | DIÁRIO GAÚCHO
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