segunda-feira, 4 de março de 2019

Líder do DEM na Câmara diz que "governo virou República da caserna"

Elmar Nascimento disse que Bolsonaro precisa estabelecer a relação que deseja com a classe política

Elmar Nascimento quer que governo defina que tipo de relação irá estabelecer com deputados
   Elmar Nascimento quer que governo defina que tipo de relação irá estabelecer com deputados
   Foto: Arquivo Pessoal / Facebook / Divulgação / CP

O protagonismo dos militares no governo de Jair Bolsonaro está incomodando potenciais aliados. Para o líder do DEM na Câmara, deputado Elmar Nascimento (BA), o presidente precisa melhorar muito sua relação com o Congresso, se não quiser ter problemas em votações consideradas prioritárias, como a reforma da Previdência. "O governo saiu da política de sindicato e passou para a república da caserna", afirmou o deputado, em uma referência ao número de militares no primeiro, segundo e terceiro escalões da máquina federal, em contraposição à quantidade de sindicalistas nas gestões petistas.

Além de comandar a bancada do DEM, Elmar é líder do "blocão", grupo que reúne 301 dos 513 deputados e ajudou a reconduzir Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara. Na avaliação do deputado, Bolsonaro precisa chamar a classe política para ser "sócia" de seu projeto. Nesta entrevista, ele negou, porém, que isso signifique um toma lá, dá cá.

Ao falar da agenda econômica, Nascimento declarou que há ideias que estão alinhadas, mas elas só poderão crescer quando há um relacionamento entre governo e deputados. "A agenda econômica converge com a nossa, mas um casamento só se faz quando se é pedido em casamento. Até agora não teve pedido do presidente. O governo está saindo de uma república de sindicato para uma república da caserna. Eu respeito muito os militares, são patriotas, dedicados ao Brasil, mas na política tem gente tão honesta quanto eles. É preciso se estabelecer qual o tipo de relação que o presidente quer com a classe política", disse.

Questionado sobre a presença de Onyx Lorenzoni como ministro civil dentro do Palácio do Planalto, Nascimento elogiou o político gaúcho, mas criticou a ideia de sustentar um militar como articulador do governo. "É bom. Ele é do ramo, é político. Agora, acho que para a articulação política, o presidente tem de escolher um: seja o Onyx, seja o general Santos Cruz (Secretaria de Governo). Quando o presidente escolheu o (Luiz Henrique) Mandetta para o Ministério da Saúde, não foi pela capacidade política dele. Foi porque, tecnicamente, ele (que é médico) estava preparado para ser ministro. Na política, para que inventar? Sou contra se botar um general (como articulador)", afirmou.

O deputado baiano ainda comentou que não se sente intimidado com o general Santos Cruz no comando da Secretaria de Governo e nem com a ideia de que a figura dele não permitiria a realização de "pedidos impróprios" . "Se um ministro aceitar que alguma proposição desse tipo seja feita, e não denunciar, está prevaricando. O presidente tem de partir do pressuposto de que nenhum aceita (pedidos impróprios), não é só o militar", resumiu.

Elmar Nascimento ainda chamou o pacote do ministro Sérgio Moro de imprudente. "O pacote do ministro Sérgio Moro é um pouco imprudente. Quem no Congresso não é a favor da lei do crime hediondo, de impedir progressão de pena para quem comete homicídio qualificado, como estuprador? Só que a nossa Constituição não permite, e isso o STF já decidiu reiteradas vezes. Seria mais prudente ele enviar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) e cada deputado que votar contra esse tema que assuma a responsabilidade perante seus eleitores", argumentou.


Por AE
Correio do Povo

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