Leandro Boldrini tentou demonstrar que as provas contra ele nos
autos são bastante frágeis. (Foto: Thomás Silvestre/Rádio Alto Uruguai)
Um dos momentos mais aguardados
do júri do Caso Bernardo aconteceu na tarde desta quarta-feira (13): o
depoimento de Leandro Boldrini, pai do menino e um dos réus que está sendo
julgado. Ele passou três horas e meia respondendo questões da acusação e de sua
defesa. Uma das curiosidades é de que Leandro pediu para a juíza para responder
questões dos advogados olhando de frente para os jurados.
Leandro admite várias vezes no
início de seu depoimento que foi um pai mais provedor do que presente. Negou
veementemente que teve participação no homicídio de seu filho. “Amo até hoje o
meu filho, mesmo ele infelizmente não estando mais aqui”, declarou. “A minha
intenção era que os dois se acertassem”, disse em relação a Graciele e
Bernardo.
Após uma hora de seu
depoimento, o resumo era de que Leandro tentava relembrar detalhes de seu dia a
dia e da convivência com Bernardo. Um dos relatos que fez, ao ser questionado
pela juíza, foi sobre questões que combinou com o filho Bernardo, após ter sido
convocado a conversar com o juiz e a promotora de justiça à época (Bernardo, de
apenas 11 anos, havia comparecido no fórum local, sozinho, para pedir ajuda do
judiciário a fim de restaurar uma boa convivência familiar).
Questionado sobre o porquê de
não ter participado da celebração de primeira comunhão do filho, na igreja
católica, Leandro afirmou que Bernardo apenas lhe avisou dois dias antes da
celebração da primeira comunhão. “Tínhamos [Leandro e Graciele] confirmado há
dois meses que estaríamos presentes em um casamento na cidade de Santo Ângelo,
nessa mesma data”.
Na sequência, Leandro começou a
relatar o momento em que tomou conhecimento do sumiço de Bernardo, ao
procurá-lo no restaurante do pai de um de seus colegas e na casa deste.
Leandro também relatou a
conversa que teve com a polícia, quando lhe anunciaram que haviam sido
descartadas duas linhas de investigação e os agentes trabalhavam apenas com a
possibilidade de assassinato do menino.
Questionado pela juíza, Leandro
diz que não tinha controle rigoroso do estoque de medicamentos como o
midazolam. E afirmou que Graciele tinha esse controle, além de outras
funcionárias da clínica. Confirmou também que Graciele tinha acesso aos blocos
de receitas médicas.
Referiu que ficou sabendo da
morte do filho apenas na delegacia regional de polícia, quando lhe algemaram,
no dia 14 de abril. Disse que questionou Graciele se ela tinha envolvimento na
morte e que ela respondeu, chorando, que havia matado o menino. “Minha vontade
era de investir contra ela, mas outras pessoas seguraram”.
Leandro não respondeu a
todas as perguntas do MP
Uma hora e meia após responder
perguntas da juíza, o Ministério Público começa a questionar o réu Leandro
Boldrini. Em suas respostas, entre outras questões, Boldrini referiu que tomou
medicamentos controlados para conter uma espécie de transtorno, adquirido após
o episódio do suicídio da primeira esposa, Odilaine Uglione, mãe de Bernardo,
fato que aconteceu em 2010.
A assistente de acusação,
promotora Sílvia Jappe, questionou porque hoje o réu respondeu que tem dois
filhos, mas em 2016, no interrogatório dos réus, teria citado apenas o nome de
Maria Valentina. Leandro disse que “podia ter complementado a resposta na época,
mas que estava em um momento tenso”.
O réu respondeu questões da
acusação, sobre a noite de domingo, 6 de abril de 2014, quando supostamente
soube do sumiço do filho, Bernardo. O réu diz que fez vários contatos
telefônicos buscando o paradeiro do menino e esteve na casa de alguns colegas
de colégio do mesmo.
Questionado pelo promotor
Ederson Vieira, o réu Leandro confirma que toma medicação prescrita. Um dos
medicamentos, segundo ele, para manter um equilíbrio na parte emocional.
O promotor Ederson fazia
perguntas sobre o horário que o réu Leandro chegou em casa para almoçar no dia
do homicídio de Bernardo (4 de abril de 2014). Neste dia, Graciele levou o
menino Bernardo para Frederico Westphalen, sendo que uma câmera flagrou a
camionete que ela conduzia passando pela Avenida Costa e Silva, na saída da
cidade de Três Passos, às 12h23min.
Boldrini alega que não viu os
dois saindo de casa, pois após almoçar, teria ido deitar em seu quarto, como
fazia todos os dias. “Fui tirar minha sesta”, referiu.
O promotor insistiu para que
Bernardo precisasse o horário que chegou em casa, para comparar com o horário
em que a camionete foi visualizada pela câmera.
Os advogados de Leandro, porém,
interromperam a inquirição do MP e pediram para que seu cliente não respondesse
mais as questões formuladas pelo promotor Ederson, alegando que este
demonstrava muita falta de educação.
O promotor pediu para que as
demais perguntas que iria fazer ficassem consignadas (registradas na ata da
sessão), e foi o que fez, sem obter respostas de Leandro a partir de então.
Uma das questões utilizava um
áudio, em que Leandro e Graciele discutem em uma ligação telefônica com um
padrinho de Bernardo, que questiona de forma veemente o casal, se realmente
Graciele havia trazido o menino com ela naquela sexta-feira, dando a entender
de que ela poderia ter dado um sumiço na criança.
Defesa de Boldrini tenta
demonstrar que as provas contra ele são frágeis
A defesa de Leandro Boldrini
também realizou uma série de questões ao seu cliente. Sobre uma entrevista que
o pai de Bernardo deu à rádio Farroupilha, no período em que o menino ainda era
dado como desaparecido, e que foi bastante explorada pela Polícia Civil e pelo
MP, Leandro disse que usou a expressão “morava comigo”, porque o locutor havia
feito a pergunta no mesmo tempo verbal. A acusação alega que ao pronunciar a
palavra “morava”, dando a entender algo que já passou, que Leandro dava mostras
que sabia que o menino já estava morto.
A gravação dos vídeos que foram
expostos ao longo do julgamento, em que são mostradas discussões do casal com o
menino Bernardo, inclusive com ameaças feitas pela madrasta, teriam sido ideia
de Graciele, segundo disse Boldrini. A ideia do médico era levar esses vídeos
para mostrar ao psiquiatra que tratava do menino.
Questionado pela sua defesa,
Leandro disse que jamais imaginou que Graciele chegaria ao extremo de matar o
seu próprio filho.
Ao final do depoimento, ao ser
questionado pelo advogado de defesa Rodrigo Grecellé Vares, sobre qual seria
seu primeiro ato, caso seja absolvido e liberado da prisão, Leandro respondeu:
“minha primeira atitude será ir até Santa Maria, me ajoelhar e rezar na
sepultura do meu filho”.
Questionado se buscaria retomar
suas atividades médicas em Três Passos, Leandro disse que sim. “Aqui nasci e me
constituí como médico, e aqui eu vou continuar”, afirmou.
Ao final, Leandro tenta
sensibilizar os jurados com uma espécie de desbafo
Olhando para os jurados,
Leandro fez uma série de declarações ao final de seu depoimento. “Eu digo a
vocês. Graciele e Edelvânia foram as que planejaram, executaram e enterraram
meu filho. Só mata quem tem patologia. Só mata quem é louco. E louco de achar
que não será descoberto”.
“Um pai jamais iria planejar a
morte do filho. Isso não existe em lugar nenhum desse planeta”.
Sua frase final foi de que
espera que a justiça seja feita da melhor maneira.
Júri prossegue na quinta-feira, com depoimento dos outros três
réus
O júri do Caso Bernardo será
retomado nesta quinta-feira (14), a partir das 9 horas da manhã, com o
depoimento de Graciele Ugulini, a madrasta de Bernardo.
Pela ordem, ainda serão ouvidos
Edelvânia Wirganovicz e, por último, Evandro Wirganovicz. A expectativa é de
que estes três depoimentos sejam realizados integralmente amanhã.
Caso ainda sobre tempo, pode-se
ter início aos debates orais, em que Ministério Público e as defesas dos réus
estarão expondo seus argumentos. Mas o mais certo é que esta etapa aconteça
apenas na sexta-feira.
Fonte: Rádio Alto Uruguai
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