quarta-feira, 13 de março de 2019

Caso Bernardo: Leandro Boldrini joga toda responsabilidade da morte do filho para Graciele e Edelvânia

Depoimento do pai de Bernardo durou três horas e meia.

Leandro Boldrini tentou demonstrar que as provas contra ele nos autos são bastante frágeis. (Foto: Thomás Silvestre/Rádio Alto Uruguai)

Um dos momentos mais aguardados do júri do Caso Bernardo aconteceu na tarde desta quarta-feira (13): o depoimento de Leandro Boldrini, pai do menino e um dos réus que está sendo julgado. Ele passou três horas e meia respondendo questões da acusação e de sua defesa. Uma das curiosidades é de que Leandro pediu para a juíza para responder questões dos advogados olhando de frente para os jurados.

Leandro admite várias vezes no início de seu depoimento que foi um pai mais provedor do que presente. Negou veementemente que teve participação no homicídio de seu filho. “Amo até hoje o meu filho, mesmo ele infelizmente não estando mais aqui”, declarou. “A minha intenção era que os dois se acertassem”, disse em relação a Graciele e Bernardo.

Após uma hora de seu depoimento, o resumo era de que Leandro tentava relembrar detalhes de seu dia a dia e da convivência com Bernardo. Um dos relatos que fez, ao ser questionado pela juíza, foi sobre questões que combinou com o filho Bernardo, após ter sido convocado a conversar com o juiz e a promotora de justiça à época (Bernardo, de apenas 11 anos, havia comparecido no fórum local, sozinho, para pedir ajuda do judiciário a fim de restaurar uma boa convivência familiar).

Questionado sobre o porquê de não ter participado da celebração de primeira comunhão do filho, na igreja católica, Leandro afirmou que Bernardo apenas lhe avisou dois dias antes da celebração da primeira comunhão. “Tínhamos [Leandro e Graciele] confirmado há dois meses que estaríamos presentes em um casamento na cidade de Santo Ângelo, nessa mesma data”.

Na sequência, Leandro começou a relatar o momento em que tomou conhecimento do sumiço de Bernardo, ao procurá-lo no restaurante do pai de um de seus colegas e na casa deste.

Leandro também relatou a conversa que teve com a polícia, quando lhe anunciaram que haviam sido descartadas duas linhas de investigação e os agentes trabalhavam apenas com a possibilidade de assassinato do menino.

Questionado pela juíza, Leandro diz que não tinha controle rigoroso do estoque de medicamentos como o midazolam. E afirmou que Graciele tinha esse controle, além de outras funcionárias da clínica. Confirmou também que Graciele tinha acesso aos blocos de receitas médicas.

Referiu que ficou sabendo da morte do filho apenas na delegacia regional de polícia, quando lhe algemaram, no dia 14 de abril. Disse que questionou Graciele se ela tinha envolvimento na morte e que ela respondeu, chorando, que havia matado o menino. “Minha vontade era de investir contra ela, mas outras pessoas seguraram”.

Leandro não respondeu a todas as perguntas do MP

Uma hora e meia após responder perguntas da juíza, o Ministério Público começa a questionar o réu Leandro Boldrini. Em suas respostas, entre outras questões, Boldrini referiu que tomou medicamentos controlados para conter uma espécie de transtorno, adquirido após o episódio do suicídio da primeira esposa, Odilaine Uglione, mãe de Bernardo, fato que aconteceu em 2010.
 
A assistente de acusação, promotora Sílvia Jappe, questionou porque hoje o réu respondeu que tem dois filhos, mas em 2016, no interrogatório dos réus, teria citado apenas o nome de Maria Valentina. Leandro disse que “podia ter complementado a resposta na época, mas que estava em um momento tenso”.

O réu respondeu questões da acusação, sobre a noite de domingo, 6 de abril de 2014, quando supostamente soube do sumiço do filho, Bernardo. O réu diz que fez vários contatos telefônicos buscando o paradeiro do menino e esteve na casa de alguns colegas de colégio do mesmo.

Questionado pelo promotor Ederson Vieira, o réu Leandro confirma que toma medicação prescrita. Um dos medicamentos, segundo ele, para manter um equilíbrio na parte emocional.

O promotor Ederson fazia perguntas sobre o horário que o réu Leandro chegou em casa para almoçar no dia do homicídio de Bernardo (4 de abril de 2014). Neste dia, Graciele levou o menino Bernardo para Frederico Westphalen, sendo que uma câmera flagrou a camionete que ela conduzia passando pela Avenida Costa e Silva, na saída da cidade de Três Passos, às 12h23min.

Boldrini alega que não viu os dois saindo de casa, pois após almoçar, teria ido deitar em seu quarto, como fazia todos os dias. “Fui tirar minha sesta”, referiu.

O promotor insistiu para que Bernardo precisasse o horário que chegou em casa, para comparar com o horário em que a camionete foi visualizada pela câmera.

Os advogados de Leandro, porém, interromperam a inquirição do MP e pediram para que seu cliente não respondesse mais as questões formuladas pelo promotor Ederson, alegando que este demonstrava muita falta de educação.

O promotor pediu para que as demais perguntas que iria fazer ficassem consignadas (registradas na ata da sessão), e foi o que fez, sem obter respostas de Leandro a partir de então.

Uma das questões utilizava um áudio, em que Leandro e Graciele discutem em uma ligação telefônica com um padrinho de Bernardo, que questiona de forma veemente o casal, se realmente Graciele havia trazido o menino com ela naquela sexta-feira, dando a entender de que ela poderia ter dado um sumiço na criança.

Defesa de Boldrini tenta demonstrar que as provas contra ele são frágeis

A defesa de Leandro Boldrini também realizou uma série de questões ao seu cliente. Sobre uma entrevista que o pai de Bernardo deu à rádio Farroupilha, no período em que o menino ainda era dado como desaparecido, e que foi bastante explorada pela Polícia Civil e pelo MP, Leandro disse que usou a expressão “morava comigo”, porque o locutor havia feito a pergunta no mesmo tempo verbal. A acusação alega que ao pronunciar a palavra “morava”, dando a entender algo que já passou, que Leandro dava mostras que sabia que o menino já estava morto.

A gravação dos vídeos que foram expostos ao longo do julgamento, em que são mostradas discussões do casal com o menino Bernardo, inclusive com ameaças feitas pela madrasta, teriam sido ideia de Graciele, segundo disse Boldrini. A ideia do médico era levar esses vídeos para mostrar ao psiquiatra que tratava do menino.

Questionado pela sua defesa, Leandro disse que jamais imaginou que Graciele chegaria ao extremo de matar o seu próprio filho.

Ao final do depoimento, ao ser questionado pelo advogado de defesa Rodrigo Grecellé Vares, sobre qual seria seu primeiro ato, caso seja absolvido e liberado da prisão, Leandro respondeu: “minha primeira atitude será ir até Santa Maria, me ajoelhar e rezar na sepultura do meu filho”.

Questionado se buscaria retomar suas atividades médicas em Três Passos, Leandro disse que sim. “Aqui nasci e me constituí como médico, e aqui eu vou continuar”, afirmou.

Ao final, Leandro tenta sensibilizar os jurados com uma espécie de desbafo

Olhando para os jurados, Leandro fez uma série de declarações ao final de seu depoimento. “Eu digo a vocês. Graciele e Edelvânia foram as que planejaram, executaram e enterraram meu filho. Só mata quem tem patologia. Só mata quem é louco. E louco de achar que não será descoberto”.

“Um pai jamais iria planejar a morte do filho. Isso não existe em lugar nenhum desse planeta”.

Sua frase final foi de que espera que a justiça seja feita da melhor maneira.

Júri prossegue na quinta-feira, com depoimento dos outros três réus
 
O júri do Caso Bernardo será retomado nesta quinta-feira (14), a partir das 9 horas da manhã, com o depoimento de Graciele Ugulini, a madrasta de Bernardo.

Pela ordem, ainda serão ouvidos Edelvânia Wirganovicz e, por último, Evandro Wirganovicz. A expectativa é de que estes três depoimentos sejam realizados integralmente amanhã.

Caso ainda sobre tempo, pode-se ter início aos debates orais, em que Ministério Público e as defesas dos réus estarão expondo seus argumentos. Mas o mais certo é que esta etapa aconteça apenas na sexta-feira.


Fonte: Rádio Alto Uruguai

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