Graciele tentou afastar a participação de Leandro Boldrini e de
Edelvânia no homicídio. (Fotos: Thomás Silvestre/Rádio Alto Uruguai)
A ré Graciele Ugulini foi a
primeira a ser ouvida neste quarto dia de julgamento do Caso Bernardo, em Três
Passos. O depoimento durou cerca de 1h50min. Terminada a leitura da denúncia
por parte da juíza, ficou no salão do júri apenas a madrasta do menino. Os
demais réus foram retirados. Às 9h35min iniciou efetivamente o depoimento. Ela
apenas respondeu a questionamentos da juíza, de sua própria defesa e das
defesas de Edelvânia e Evandro Wirganovicz. A defesa de Leandro Boldrini não
fez perguntas. Antes de iniciarem os questionamentos, o advogado Vanderlei
Pompeo de Mattos referiu que ela não responderia às perguntas do MP. A
acusação, portanto, não teve a oportunidade de realizar questionamentos.
Graciele tentou afastar a
participação de Leandro Boldrini e de Edelvânia no homicídio do menino
Bernardo. Quanto a Leandro, ela disse que ele não era sabedor e nem arquitetou
esse homicídio. O médico está preso injustamente, conforme Graciele. “Só quero
o perdão dele”. Ela teria tentado esconder de todas as formas que o menino
havia morrido no dia 4 de abril, inclusive participando das buscas junto com
Leandro e outros familiares.
Em seu depoimento, a madrasta
referiu que tentou transparecer o máximo de normalidade em sua rotina, para que
Leandro não desconfiasse. Ela conformou que foi a uma festa em Três de Maio,
com Leandro, um dia após a morte de Bernardo. Também disse que nada foi
premeditado, afastando a participação no homicídio de Edelvânia Wirganovicz.
Graciele relatou como conheceu
e iniciou seu relacionamento com Leandro. Ela disse que percebia a carência de
Bernardo. “No começo éramos muito próximos”. A madrasta disse que a relação
começou a ficar abalada a partir do momento em que tentou engravidar e sofreu
um aborto espontâneo. “A partir disso muita coisa mudou em minha vida”,
relatou.
Um ano após o aborto, Graciele
engravidou novamente. “Era uma gravidez de risco. A partir daí não consegui
mais dar atenção ao Bernardo”. Ela relatou que estava sobrecarregada em função
de que Leandro trabalhava muito no hospital. A ré disse que se tratava com um
psiquiatra e que algumas brigas aconteciam porque a bebê Maria Valentina estava
dormindo e Bernardo chegava agitado em casa, batendo portas e fazendo barulho.
“Isso me assustava”.
A versão de Graciele é de que o
menino Bernardo, no caminho a Frederico Westphalen, teria tomado cinco a seis
medicamentos ao mesmo tempo e que isso teria resultado em sua morte. Ela citou
que, ao chegar para se encontrar com Edelvânia, após entrarem no carro da
amiga, constatou que o menino não tinha mais batimentos, após cinco ou 10
minutos. “Fiquei desesperada”.
Graciele refere que Edelvânia
sugeriu que levassem o menino ao hospital. Ela afirmou que negou essa sugestão
por medo de que as pessoas pensassem que ela própria teria dado medicamentos em
excesso ao garoto. Na sequência, decidiram esconder o corpo do menino no
interior do município. Edelvânia teria participado apenas da ocultação de
cadáver, segundo Graciele, já que o menino foi enterrado no interior de
Frederico Westphalen, próximo à residência de sua mãe. Ela também disse, ao
responder à defesa de Evandro, que não o conhecia e nem sabia que Edelvânia
tinha irmão.
Na últimas perguntas
encaminhadas pela juíza, a madrasta não soube dizer como Edelvânia tinha soda
cáustica (elemento que foi encontrado no corpo de Bernardo). Ao responder
questões de seu advogado, Graciele nega que tenha realizado qualquer tipo de
injeção em Bernardo e que não é “esse monstro que a imprensa sensacionalista
criou”. Em diversos momentos Graciele chorou ao relembrar de sua filha, Maria
Valentina, que tem com Leandro Boldrini. “Eu não vi ela caminhar, não vi ela
falar, era bebê de colo a última vez que vi ela”. Desde que foi presa, Graciele
nunca mais viu a filha.
Sobre o dia em que foi presa,
Graciele disse que foi o fim de sua vida. Ela também, se dirigindo aos jurados,
falou: “Eu só quero cuidar da minha filha, só isso. Eu quero ter a chance de
cuidar dela. Tudo foi um acidente, tudo foi um estúpido de um acidente. Tudo
foi uma sucessão de erros, eu admito. Eu errei do começo ao fim, eu errei. Eu
fiz tudo errado, mas tudo que aconteceu não foi por querer. Tudo foi uma
consequência, um monte de erros”.
Fonte: Rádio Alto Uruguai
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