Áudio atribuído a Jair
Bolsonaro no hospital é falso
Foto: Flavio Bolsonaro / Twitter / CP
O áudio atribuído ao presidenciável Jair
Bolsonaro (PSL) que circula em redes sociais desde terça-feira, 18 de setembro,
quando foi divulgada a pesquisa Ibope, é falso, segundo peritos ouvidos pelo
Comprova.
Na gravação, o homem que se passa por Bolsonaro
xinga o general Hamilton Mourão, vice do candidato à presidência, e uma
enfermeira do hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde o capitão reformado
do exército está internado para se recuperar de um atentado a faca ocorrido no
dia 6 de setembro durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
O homem também diz que não aguenta mais ficar no
hospital e que o "teatrinho acabou". A fala alimentou teorias falsas
de que o atentado sofrido por Bolsonaro seria forjado.
Um trecho da gravação faz referência a Fernando
Haddad, candidato do PT à Presidência, que está em segundo lugar nas intenções
de votos, segundo o Ibope, atrás apenas de Bolsonaro. “Me tira daqui, a gente
tem uma eleição pra ganhar, pô (sic). Uma eleição pra ganhar, e você me
mantendo aqui nesse teatro”, diz o homem, dirigindo-se a quem chama de Eduardo
– mesmo nome de um dos filhos de Bolsonaro.
A pedido do Comprova, o Instituto Brasileiro de
Peritos comparou o áudio viral com a voz de Bolsonaro na entrevista que ele
concedeu ao jornalista Luiz Datena no dia 22 de abril de 2018. A conclusão é de
que não é o candidato do PSL que fala na gravação viral que foi divulgada nesta
semana. “O corpo probatório sustenta muito fortemente a hipótese de que as
amostras de fala não foram proferidas pelo mesmo locutor”, diz o laudo.
A metodologia da perícia constitui-se de uma
análise qualitativa dos marcadores de voz, fala e linguagem dos falantes.
Depois, é realizada a comparação desses parâmetros em cada amostra de voz e
fala questionada. Nesta análise, foram observados padrões das vogais e
consoantes, ritmo e velocidade de fala, padrões de entonação, qualidade da voz
e os hábitos apresentados pelo falante, além da aplicação de palavras nas
sentenças e o uso de regras gramaticais.
No áudio falso foi percebido, por exemplo, um
sotaque típico do interior na fala do fonema “r”, enquanto na fala de Bolsonaro
isso não aparece. Também foram percebidas diferenças na ressonância,
articulação, velocidade de fala e desvio fonético entre as amostras comparadas.
O Comprova também consultou o perito Mauricio de
Cunto, da empresa Fonolab. Segundo a percepção técnica dele, a voz do áudio
difere da do capitão da reserva por várias razões. “O tom de voz aparenta ser
um pouco mais agudo que o de Bolsonaro. O ritmo da fala também é mais acelerado
do que nos vídeos que ele gravou no hospital”, afirma. O especialista ressalta,
no entanto, que só vai emitir um parecer próprio sobre o assunto na semana que
vem.
Outro elemento que aponta se tratar de um áudio
falso é a baixa qualidade da gravação. De acordo com peritos experientes, esse
é um truque típico das falsificações: diminuir a resolução de áudios, vídeos e
fotos faz com que a análise dessas mídias se torne mais difícil.
Dois filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo, já
desmentiram em suas contas de Twitter a veracidade do áudio. “A mais nova
fakenews (sic) com um áudio em que dizem ser Bolsonaro reclamando no hospital”,
escreveu Carlos em um tuíte, republicado por Eduardo.
O hospital em que o presidenciável está
internado, o Albert Einstein, também negou a gravação e a informação de que uma
enfermeira teria sido despedida após o episódio.
O boato foi repassado a integrantes do Comprova
por WhatsApp, além de ter sido publicado em vídeos no YouTube. No canal
Jefferson Moraes, por exemplo, o vídeo somava 49.038 mil visualizações da data
em que foi publicado, dia 18 de setembro de 2018, até a tarde desta
sexta-feira, 21 de setembro.
Os sites Fato ou Fake e Boatos.Org também
publicaram desmentidos sobre o assunto.
Projeto Comprova
Esta checagem foi publicada pelo projeto
Comprova. A verificação foi realizada por jornalistas da Folha de S. Paulo, O
Povo e Estadão.
O projeto colaborativo Comprova reúne 24
organizações brasileiras de mídia com o objetivo de combater desinformação e
conteúdos enganosos na internet durante a campanha eleitoral. Denúncias de
conteúdos suspeitos ou falsos relacionados às eleições pelo número de WhatsApp
(11) 97795-0022.
Correio do Povo
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