A Doutora em entomologia Cecilia
Czepak (foto) foi a primeira especialista brasileira a desvendar a Helicoverpa
armigera. Ela publicou um estudo completo sobre a lagarta quando do surgimento
do primeiro surto no Brasil, em 2013, e nessa série de reportagens exclusiva do
Portal Agrolink ela analisa a situação atual da praga.
Hoje a pesquisadora alerta que “a
presença desta praga é uma constante em todos os meses do ano, em diferentes
regiões e/ou cultivos agrícolas” e “em situações e densidades diversas no País,
de forma latente em alguns cultivos e extremamente agressiva em outros”.
De acordo com ela, na soja atualmente
“os produtores têm encontrado uma certa facilidade no controle da praga [...]
com as tecnologias adotadas (Bt e químicos de última geração, sem falar nos
produtos 'não autorizados'), além de muita informação através de palestras,
caravanas, cursos e artigos em mídia falada e escrita. Muitos não se
surpreendem mais com a presença dela na cultura, mas até quando essa calmaria
se manterá? Isso eh o que veremos!”.
“Talvez essa seja uma maneira
negativa de visualizar a questão. Mas é simples, vamos lembrar do que ocorreu
há mais de vinte anos, quando a Mosca branca (Bemisia tabaci, biotipo B) entrou
no pais, lembra-se? As atitudes foram as mesmas: medidas e produtos
emergenciais, caravanas, palestras… enfim, até que os tão conhecidos
neonicotinoides mostraram sua eficiência e dominaram o mercado no País pois
eles, os inseticidas – e somente eles –, foram adotados para controle da
praga”, relembra.
Segundo Cecilia, novamente se teve a
“ideia errada da solução definitiva porque, infelizmente, nada nesta vida é
para sempre e, portanto, passado tanto tempo, a mosca branca, velha conhecida
dos produtores, hoje resiste a essa única ferramenta de controle. Muito pouco
se fez em relação a esta praga no Brasil e, atualmente, se alastra por inúmeras
regiões e culturas, obrigando os produtores a um gasto cada vez maior para
controlá-las. E o título de 'Praga do seculo XX' passará para o patamar de
'Praga do Milênio'… Isso se, também, não houver mudanças drásticas de todos os
envolvidos!”.
“Voltando para a Helicoverpa, os
cultivos de milho, tomate e algodão têm sido os alvos constantes dessa praga.
Falando mais precisamente do tomate (Goias é o maior produtor desta hortaliça
para a indústria), hoje a H. armigera é a principal praga da cultura, alvo de
inúmeras aplicações, onde muitas vezes o produtor para manter sua produção
livre dos ataques desta lagarta tão voraz, adota baterias de químicos a cada
quatro ou cinco dias, sem contar no uso abusivo de produtos não registrados,
infelizmente. Tudo isso eleva os custos de produção e o que é pior – com
impacto ambiental considerável – e sem que isso, muitas vezes, diminua os
prejuízos decorrentes do ataque desta lagarta”, relata a especialista.
“Nos cultivos de milho, Bt e não Bt,
(neste caso milho grão, semente e até milho doce) a presença desta lagarta,
juntamente com a Helicoverpa zea e a Spodoptera frugiperda, são uma constante.
Em muitos casos as aplicações são inúmeras para o controle deste trio, com o
agravante de não sabermos exatamente a frequência em que as duas espécies de
Helicoverpa se apresentam na cultura. Temos convicção que ela está muito bem
'posicionada' no milho, competindo em grau e em número com as outras duas
espécies nativas”, afirma.
“No algodão, a lagarta é atualmente
motivo de preocupação para muitos produtores, mesmo os que plantam cultivos de
alta tecnologia, competindo com o bicudo tanto no que se refere a frequência,
ataque, como também na eficácia de controle, pois seu alvo se chama botão
floral e maçã”, conclui.
Veja também: Helicoverpa
armigera: “Não é um problema superado”
Agrolink
Autor: Leonardo Gottems
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