Grupo de 125 pessoas foi escoltado para Esteio,
onde famílias ocuparão apartamentos | Foto: Ricardo Giusti
O sonho de buscar melhores condições de vida de
125 venezuelanos se transformou em realidade às 20h11min desta quinta-feira,
quando o grupo desembarcou no Aeroporto Salgado Filho, em voo da Força Aérea
Brasileira (FAB). Ao descer na Capital, eles seguiram em três ônibus e dois
micro-ônibus para Esteio, na região Metropolitana. Os novos moradores da cidade
chegaram ?acompanhados de autoridades do Governo Federal e do prefeito de
Esteio, Leonardo Pascoal.
Após descerem em Porto Alegre, os venezuelanos
seguiram para Esteio, onde foram recepcionados em uma igreja e jantaram. No
município, eles receberão moradia e terão cursos de idiomas. Os custos com
hospedagem - estimados em R$ 530 mil, por seis meses - serão bancados pelo Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Nesta primeira
etapa, apenas homens ficarão instalados nos 18 apartamentos localizados na rua
Salgado Filho.
Shandy Garcia, 43 anos, deixou quatro filhos e a
esposa na Venezuela para tentar a sorte no Rio Grande do Sul. Depois de passar
oito meses em Roraima, ele decidiu embarcar pela primeira vez na vida em um
avião. “Estou bastante emocionado e disposto a trabalhar. Estou apostando tudo
numa melhor qualidade de vida. No meu país, os governantes não estão fazendo as
coisas de forma correta”, afirma Garcia, que era dono de uma fruteira em seu
país. Garcia lamentou a situação econômica na Venezuela e atribuiu o fim dos
negócios à desvalorização da moeda local. “Amo muito meu país, mas a situação
econômica está bastante crítica”, completa.
Estudante de Engenharia de Alimentação, na
Venezuela, Henoch Paravavire desembarcou na Capital com a esperança de juntar
dinheiro para ajudar a família, que ficou naquele país, e recomeçar sua vida
profissional. Aos 22 anos, Paravavire permaneceu quatro meses em Roraima,
trabalhando em abrigos. O jovem afirma que a vida na Venezuela se tornou muito
difícil em função da crise econômica. "Trabalhava pela manhã em uma
lanchonete; à tarde em uma veterinária; e à noite em um restaurante. Conseguia
comprar uma galinha, café e três pães para todo o mês", relata. Paravavire
garante que muitas pessoas estão deixando o seu país para tentar a sorte na
Colômbia, Trinidad e Tobago, Brasil e Guiana. "A primeira impressão,
quando entrei no supermercado, é que aqui tudo era muito barato. Um arroz custa
cerca R$ 2. Lá o arroz custava cerca de R$ 900. E a gente ganhava quanto? Cerca
de R$ 1,4 mil", compara. Paravavire garante que a ideia é voltar para a
Venezuela, onde deixou os pais e dois irmãos. "Um dos meus irmãos quer
deixar o país", completa.
Ministro do Desenvolvimento Social, Alberto
Beltrame elogiou a recepção calorosa aos venezuelanos. “A grande maioria que
chega ao RS tem de nível médio para cima, com várias formações. Tem doía
engenheiros civis, dois advogados, torneiros mecânicos, padeiros, açougueiros.
Têm pessoas de todos os níveis, com nível cultural bastante elevado”, observa.
Ao destacar que os imigrantes estão aptos para o trabalho, Beltrame afirmou que
o RS tem tradição de ser um estado acolhedor. O ministro anunciou ainda que o
município de Chapada decidiu acolher 50 venezuelanos. "É natural que o RS
abra os braços para receber esses migrantes, que virão certamente a enriquecer
a nossa cultura, a nossa tradição e participar da nossa sociedade",
avalia. "Até o dia 18, nós completaremos essa primeira fase com 646
venezuelanos que virão ao RS", ressalta, acrescentando que esta é a maior
interiorização em uma única cidade realizada pelo MDS.
Conforme Pascoal, a meta num primeiro é garantir
estabilidade aos novos moradores. "Desde que essas pessoas tomaram a
difícil decisão de abandonar suas casas, a sua cidade, o seu país, a vida delas
passou a ser uma montanha russa de incertezas. Num primeiro momento, é
importante que elas consigam ter a segurança necessária para poder projetar
seus dias daqui para a frente", observa. O prefeito afirma que o grupo vai
contar com aulas de idiomas e elaboração de currículos para "disputar as
vagas no mercado de trabalho em condições de igualdade".
Felipe Samuel
Correio do Povo
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