quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Imigrantes venezuelanos desembarcam em Porto Alegre

Grupo de 125 pessoas foi escoltado para Esteio, onde famílias ocuparão apartamentos

Grupo de 125 pessoas foi escoltado para Esteio, onde famílias ocuparão apartamentos | Foto: Ricardo Giusti
   Grupo de 125 pessoas foi escoltado para Esteio, onde famílias ocuparão apartamentos | Foto: Ricardo Giusti

O sonho de buscar melhores condições de vida de 125 venezuelanos se transformou em realidade às 20h11min desta quinta-feira, quando o grupo desembarcou no Aeroporto Salgado Filho, em voo da Força Aérea Brasileira (FAB). Ao descer na Capital, eles seguiram em três ônibus e dois micro-ônibus para Esteio, na região Metropolitana. Os novos moradores da cidade chegaram ?acompanhados de autoridades do Governo Federal e do prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal.

Após descerem em Porto Alegre, os venezuelanos seguiram para Esteio, onde foram recepcionados em uma igreja e jantaram. No município, eles receberão moradia e terão cursos de idiomas. Os custos com hospedagem - estimados em R$ 530 mil, por seis meses - serão bancados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Nesta primeira etapa, apenas homens ficarão instalados nos 18 apartamentos localizados na rua Salgado Filho.

Shandy Garcia, 43 anos, deixou quatro filhos e a esposa na Venezuela para tentar a sorte no Rio Grande do Sul. Depois de passar oito meses em Roraima, ele decidiu embarcar pela primeira vez na vida em um avião. “Estou bastante emocionado e disposto a trabalhar. Estou apostando tudo numa melhor qualidade de vida. No meu país, os governantes não estão fazendo as coisas de forma correta”, afirma Garcia, que era dono de uma fruteira em seu país. Garcia lamentou a situação econômica na Venezuela e atribuiu o fim dos negócios à desvalorização da moeda local. “Amo muito meu país, mas a situação econômica está bastante crítica”, completa.

Estudante de Engenharia de Alimentação, na Venezuela, Henoch Paravavire desembarcou na Capital com a esperança de juntar dinheiro para ajudar a família, que ficou naquele país, e recomeçar sua vida profissional. Aos 22 anos, Paravavire permaneceu quatro meses em Roraima, trabalhando em abrigos. O jovem afirma que a vida na Venezuela se tornou muito difícil em função da crise econômica. "Trabalhava pela manhã em uma lanchonete; à tarde em uma veterinária; e à noite em um restaurante. Conseguia comprar uma galinha, café e três pães para todo o mês", relata. Paravavire garante que muitas pessoas estão deixando o seu país para tentar a sorte na Colômbia, Trinidad e Tobago, Brasil e Guiana. "A primeira impressão, quando entrei no supermercado, é que aqui tudo era muito barato. Um arroz custa cerca R$ 2. Lá o arroz custava cerca de R$ 900. E a gente ganhava quanto? Cerca de R$ 1,4 mil", compara. Paravavire garante que a ideia é voltar para a Venezuela, onde deixou os pais e dois irmãos. "Um dos meus irmãos quer deixar o país", completa.

Ministro do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame elogiou a recepção calorosa aos venezuelanos. “A grande maioria que chega ao RS tem de nível médio para cima, com várias formações. Tem doía engenheiros civis, dois advogados, torneiros mecânicos, padeiros, açougueiros. Têm pessoas de todos os níveis, com nível cultural bastante elevado”, observa. Ao destacar que os imigrantes estão aptos para o trabalho, Beltrame afirmou que o RS tem tradição de ser um estado acolhedor. O ministro anunciou ainda que o município de Chapada decidiu acolher 50 venezuelanos. "É natural que o RS abra os braços para receber esses migrantes, que virão certamente a enriquecer a nossa cultura, a nossa tradição e participar da nossa sociedade", avalia. "Até o dia 18, nós completaremos essa primeira fase com 646 venezuelanos que virão ao RS", ressalta, acrescentando que esta é a maior interiorização em uma única cidade realizada pelo MDS.

Conforme Pascoal, a meta num primeiro é garantir estabilidade aos novos moradores. "Desde que essas pessoas tomaram a difícil decisão de abandonar suas casas, a sua cidade, o seu país, a vida delas passou a ser uma montanha russa de incertezas. Num primeiro momento, é importante que elas consigam ter a segurança necessária para poder projetar seus dias daqui para a frente", observa. O prefeito afirma que o grupo vai contar com aulas de idiomas e elaboração de currículos para "disputar as vagas no mercado de trabalho em condições de igualdade".


Felipe Samuel
Correio do Povo

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