Deputado
faltou até mesmo no dia em que o único projeto de lei de sua autoria em
tramitação na comissão estava na pauta para ser votado
Deputado faltou até mesmo no dia em que o único
projeto de lei de sua autoria em tramitação na comissão estava na pauta para
ser votado | Foto: Samuel Maciel / CP Memória
Em ano
pré-eleitoral, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) faltou a 70% das
reuniões e audiências públicas realizadas pela Comissão de Relações Exteriores
e de Defesa Nacional (Credn), da qual foi membro titular em 2017. O grupo é o
responsável na Câmara dos Deputados por discutir parte das bandeiras defendidas
pelo presidenciável, como política externa, direito e processos militares e
relações diplomáticas.
Levantamento
feito pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que Bolsonaro faltou até mesmo no
dia em que o único projeto de lei de sua autoria em tramitação na comissão
estava na pauta para ser votado. O texto, que estipula novas regras de combate
ao terrorismo no Brasil, acabou retirado da pauta. Ao todo, ele se ausentou a
36 encontros e participou de apenas 15. E justificou sua ausência em somente
dois dias.
Com filiação prometida ao PSL para disputar a
Presidência da República em outubro, Bolsonaro já cumpre uma agenda intensa de
pré-campanha, baseada em viagens e encontros com apoiadores em todo o país. De
acordo com publicações feitas pelo próprio parlamentar e sua equipe, essas
viagens podem explicar a ausência em ao menos oito encontros oficiais da
comissão, quando o deputado já estava em viagem ou preparava sua ida, gravando
vídeos para convocar simpatizantes pelas redes sociais.
No dia 13
de dezembro, por exemplo, véspera da viagem de Bolsonaro às cidades de Manaus e
Manacapuru, no Amazonas, os deputados presentes na reunião da comissão
aprovaram relatório que propõe alterações em artigos dos códigos penal e
militar, um dos temas caros ao presidenciável. Ausente no encontro, o
parlamentar gravou um vídeo relatando sua agenda de viagem naquele dia, no qual
afirmou que a "Amazônia estava acima de tudo".
No dia
seguinte, em 14 de dezembro, a comissão se reuniu novamente, mais uma vez sem a
participação de Bolsonaro, que produzia um verdadeiro reality show online a
partir de sua visita ao Estado - tirou fotos no aeroporto de Manaus com
supostos eleitores aos gritos de "mito", discursou em caminhão de som
enrolado na bandeira amazonense, participou de um bate-papo sobre as
potencialidades da Amazônia ao lado de autoridades locais e ainda participou da
formatura de estudantes de um colégio militar.
Venezuela
Por estar
fora de Brasília ou mesmo cumprindo outros compromissos na Câmara dos
Deputados, Bolsonaro perdeu a chance ainda de se manifestar sobre duas moções
aprovadas por seus colegas da comissão: uma de repúdio ao governo venezuelano
por descumprimento da ordem democrática e outra de louvor pelo trabalho
desenvolvido pelos soldados brasileiros durante a missão de paz no Haiti. Ambos
os temas são de seu interesse, tanto as críticas à política de Nicolás Maduro
como a valorização dos militares.
Outra
votação perdida pelo parlamentar envolve o direito de militares de usufruírem
de uma licença-paternidade estendida de 20 dias. O projeto que garante esse
direito foi aprovado no dia 18 de outubro, mês em que Bolsonaro viajou aos
Estados Unidos e só participou de um de sete encontros.
"As
ausências de Bolsonaro demonstram a dificuldade que o deputado tem com o debate
político e com a troca de ideias. Mesmo naqueles temas que são suas bandeiras
tradicionais, ele prefere se abster do debate. Bolsonaro prefere discursar em
ambientes mais seguros, para os seus apoiadores ou através das redes sociais.
Isso, talvez, denote dificuldade de articulação ou de substância
intelectual", afirma o cientista político Rodrigo Prando, do Mackenzie.
Para a
presidente da comissão, deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), as faltas de Bolsonaro
e de outros parlamentares ocorrem por causa do acúmulo de funções assumidas. É
comum, segundo a tucana, um deputado participar de mais de uma comissão
permanente como titular ou suplente. Em 2017, Bolsonaro participou como titular
da CPI da Funai e como suplente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao
Crime Organizado - nesta última, o presidenciável foi a nove reuniões.
Na
análise do também cientista político Humberto Dantas, da FGV, a
"participação modesta do deputado" mostra que ele se transformou em
um agente de interesses simbólicos do que efetivos. "Essa seria a comissão
que mais dialoga com o mandato dele. Era o local onde ele poderia brilhar
naturalmente. Portanto, é de se estranhar essa aparente falta de
interesse." Procurado pela reportagem, Jair Bolsonaro não se manifestou
sobre suas ausências na comissão.
ESTADÃO
conteúdo
Correio
do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário