segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Empresas de papel formam trilha de negócios de gaúcha investigada na Bahia

A CPI do tráfico de pessoas está no encalço de Carmem Topschall, investigada pela Justiça por adoções suspeitas
Empresas de papel formam trilha de negócios de gaúcha investigada na Bahia divulgação/Divulgação
Família teria pelo menos três empresas friasFoto: divulgação / Divulgação

     O Diário Gaúcho também está na trilha dos negócios da gaúcha e descobriu que ela e o marido são sócios de três empresas que nunca saíram do papel. Uma delas em Gravataí, que pode estar na rota do comércio de crianças.

     Se é verdade que existe uma rede de comercialização de bebês no sertão nordestino, com elos na Região Metropolitana de Porto Alegre, líderes do bando estariam enriquecendo. E, possivelmente, lavando o dinheiro obtido no crime.

     Por isso, a CPI do Tráfico de Pessoas solicitou a quebra de sigilo bancário de uma gaúcha e de famílias que levaram crianças do município baiano de Monte Santo para Campinas (SP). A intenção é verificar se houve pagamento a intermediários, e, assim incriminá-los.

     A interlocutora é investigada pela Justiça da Bahia é Carmem Kieckhofer Topschall, 47 anos. Seu marido, o alemão Bernard Michael Topschall, 55 anos, teria participação em adoções-relâmpago (de um dia para o outro, graças à aprovação de um juiz já afastado por isso).

Os rastros do casal Topschall

     O juiz Luis Roberto Cappio acredita que o casal esteja ligado a empresas de fachada para legalizar o dinheiro da venda de crianças. O advogado Maurício Vasconcelos nega. Segundo ele, Carmem e Bernard vivem em Pojuca, na Grande Salvador, há quase dois anos, por estarem endividados após um negócio frustrado no ramo frigorífico.

     Apesar de Carmem não constar como sócia da loja Gatos e Gatas, de roupas para festas (comércio que seria usado para fazer casamentos coletivos no intuito de cooptar casais - matéria exclusiva já publicada pelo DG), a Justiça desconfia de que essa tenha sido fachada para "legalizar" o dinheiro.

     - Eles mantêm relações comerciais com o Rio Grande do Sul - afirmou o juiz baiano.

2003, Pojuca: Frigorífico frio

     Enquanto Carmem brigava na Justiça para obter a guarda de duas meninas de Gravataí, organizava a mudança para a Bahia com status de empresária. Queria um frigorífico e, com o marido, abriram a Bahia Casings Comércio, Importação e Exportação em sociedade com dois empresários de Chapecó (SC). A empresa, em Pojuca, nunca funcionou. Com um prejuízo superior a R$ 4 milhões, o empresário Ademar Schneider lamenta:

     - Os conhecemos numa feira na Bahia. Mas o frigorífico está pronto há sete anos e nunca funcionou. Não sei se por incompetência deles ou por algo irregular.

     Nos últimos anos, a Bahia Casings acumula ações trabalhistas. Em uma delas, movida por uma doméstica, o INSS desconfiou de um acordo e entrou com recurso. Quem paga são os sócios de Chapecó.

2005, Gravataí: Consultoria sob suspeita

     - Empresa? Não, nunca teve. E eu já moro há muito tempo nesse lugar.

     A frase é de uma moradora do Bairro Parque Girassol, em Gravataí. Sua casa fica em frente ao sobrado mais vistoso da rua. Na Receita Federal, é o endereço da Cabemi Consultoria Empresarial, que vai do agenciamento cultural até a confecção de carimbos. Tem como sócios Carmem e o marido, Bernard.

     Em 2005, data de criação da empresa, o casal já estava fora do Estado há pelo menos dois anos. Moravam em um condomínio de luxo em Camaçari. De acordo com a Junta Comercial do RS, só há uma negociação protocolada sob o registro da Cabemi.

     O sobrado, até 2004, foi de um irmão de Carmem, que tinha uma floricultura. Ele deixou o Estado atraído por um oferta no frigorífico que Carmem na Bahia.

2005, Camaçari: Com dinheiro de escolas

     Meses depois da criação da Cabemi, o casal criou mais uma empresa. Dessa vez, na Vila dos Abrantes, em Camaçari. A Topschall Consultoria Empresarial e Representação Comercial consta como ativa nos registros da Receita. A empresa aproximaria Carmem e Bernard das crianças. Pelo propósito, eles deveriam trabalhar em escolas públicas.

     Eles atuariam na administração de caixas escolares, um método incomum no Rio Grande do Sul, mas usual no Nordeste para organizar as verbas enviadas por órgãos governamentais para escolas públicas.

     A Topschall deveria ser um órgão sem fins lucrativos para ter função executiva nos orçamentos de escolas. O Diário ligou para o endereço. Uma mulher disse não conhecer Carmem e garantiu: o local nunca foi uma empresa.

Fonte: Eduardo Torres / DIÁRIO GAÚCHO

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