domingo, 2 de setembro de 2018

Incêndio de grandes proporções consome Museu Nacional, no Rio

Fundada por Dom João VI em 1818, instituição tem acervo de 20 milhões de peças

Inaugurado em 1818, o museu completou 200 anos em junho | Foto: Marcello Dias/Futura Press/ Estadão Conteúdo
   Inaugurado em 1818, o museu completou 200 anos em junho
   Foto: Marcello Dias/Futura Press/ Estadão Conteúdo

Um incêndio de grandes proporções atinge o Museu Nacional, na zona norte do Rio, na noite deste domingo, 2. Especializado em história natural e mais antigo centro de ciência do País, o Museu Nacional completou 200 anos em junho em meio a uma situação de abandono.

O Corpo de Bombeiros foi acionado às 19h30min e rapidamente chegou ao local, mas até as 21h o fogo permanecia fora de controle. Era um incêndio de grandes proporções que tinha tomado todos os andares do edifício. Dezenas de curiosos entravam na Quinta da Boa Vista para ver o incêndio. Funcionários choravam. Não havia registro de feridos. Grandes labaredas atingiam os dois andares, e estrondos eram ouvidos de tempos em tempos.

“Começou por volta das 19h30. Eu moro pertinho e, assim que soube, vim pra cá. É uma pena, acho que não vai sobrar nada”, afirmou o advogado Marcos Antônio Pereira, de 39 anos, enquanto acompanhava o combate ao fogo. Entre os funcionários do museu, o clima era de desespero. “Queimou tudo, perdemos tudo”, repetia uma mulher, aos prantos. Ela não quis se identificar.

O museu foi fundado por D. João VI e tinha como um dos atrativos o quarto onde dormia o imperador D. Pedro II, no Palácio de São Cristóvão.

Apesar do ambiente ainda majestoso, reportagem feita pelo Estado em abril observou vários sinais de abandono, como um lustre parcialmente quebrado, alguns móveis sem conservação e manchas de umidade na parede. Com um dos mais importantes acervos de história natural da América Latina, o museu chegou ao bicentenário com goteiras, infiltrações, salas vazias e público de menos de 200 mil pessoas por ano - muito abaixo de sua capacidade.

Museu abriga esqueleto mais antigo das Américas

O museu, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, reunia algumas das mais importantes peças da história natural do País, como Luzia, o esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas. Com cerca de 12 mil anos de idade, foi achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974. Trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos e foi uma das primeiras habitantes do Brasil. A descoberta de Luzia mudou as teorias sobre o povoamento das Américas.

Outra peça marcante do museu é o meteorito Bendegó, o maior já encontrado no Brasil e que tinha destaque no saguão do prédio. Com 5,36 toneladas, a rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no sertão da Bahia. Está na coleção desde 1888.

Vaquinha

Em janeiro deste ano, professores dos cursos de pós-graduação que trabalham no museu se uniram para pagar a passagem de ônibus da equipe de limpeza. Eles temiam que a sujeira afetasse o acervo, composto de muito material orgânico, sensível a micro-organismos.


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Correio do Povo

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