Por Raiana Silva
No final do mês de
setembro a Rádio Província realizou uma extraordinária campanha em prol de Luiz
Cezar Chigenoski, 32 anos, esposo de Joana Silva dos Santos, 22 anos, e pai de
2 filhos, que acidente doméstico, veio a perder parcialmente o movimento da mão
direita. Com atos solidários a comunidade regional apoiou-o com doações em
dinheiro e material para a confecção de um carrinho de coleta de materiais
recicláveis. Uma brilhante ideia, que com solidariedade, sustenta os quatro
integrantes da família a mais de um mês.
Luiz, natural de Nova
Petrópolis, desde os 7 anos viveu sozinho pelas cidades gaúchas após ser
abandonado pela família. Esteve em diversos municípios da região metropolitana,
onde trabalhou como segurança, pedreiro, engraxate, entre outras funções.
- Com 10 anos comecei
a engraxar sapato, vender picolé, e desde muito cedo trabalhei em obras da
construção civil. - Entre amores e lugares, o jovem encontrou a atual esposa,
Joana, com quem vive a 7 anos. Buscando condições melhores de vida, o casal,
com a filha, vieram para Tenente Portela. A vida de pedreiro e dona de casa
virou do avesso quando com uma brincadeira com Joaquim, de 2 anos, e Maria
Helena, de 5 anos, ele acabou caindo contra um vidral e cortou o braço, o quê
lhe impossibilitou de exercer a profissão.
- Estava brincando
com os meus filhos, quando me desequilibrei e bati no vidro. Arrebentei, neste
momento, os cinco tendões da mão direita. Depois do diagnóstico e falta de
oportunidade financeira de agora fazer uma cirurgia, resolvi tentar alguma
coisa diferente. Tu não consegues trabalho com uma mão. E o que eu faço de
melhor é ser pedreiro ou ser metalúrgico. Aí pensei em fazer diferente.
Incapaz de exercer
sua profissão, o morador do Bairro Isabel, se inspirou em uma cunhada, que
trabalha no ramo da reciclagem em Sapiranga, começou os primeiros passos nas
redondezas de casa catando, com bolsas de estopa, alguns materiais recicláveis,
mas era necessário para obter mais fundos, um carrinho.
Iniciou na manhã do
dia 28 de setembro uma campanha voluntária de casa e casa e no comércio de
Tenente Portela, em busca de pequenas montantes financeiros, objetivando
conseguir R$ 350,00 para a fabricação de um novo instrumento de trabalho, o
carrinho de ferro, alternativa de menos impacto a mão e que traria um retorno
financeiro a família.
O ex-pedreiro
solicitou um espaço no programa “Estrada da Vida”, na Rádio Província FM para
agradecer aos comerciantes, moradores, doadores portelenses que disponibilizaram,
notas de 2, 5, 50, 100 e outros valores, angariando assim até aquele o momento,
190 reais. O agradecimento foi a porta de entrada para o futuro sucesso. No
mesmo momento do agradecimento, o jornalista Jalmo Fornari, comovido com a
situação, iniciou uma campanha à nível regional para a arrecadação semelhante
ao feito anterior, e em menos de 30 minutos, o valor adquirido por meio das
ligações já ultrapassava 350, sendo este o valor necessário para a confecção do
carrinho.
- A Rádio Província
não trouxe apenas o carrinho, mas também divulgação junto. Tem gente que acha
que a divulgação não ajuda. A divulgação até pro lixo ajuda. O pessoal guarda
os materiais, por saber do meu caso graças a rádio Província.
Desde o início de
outubro, após duas semanas para a confecção do carrinho, de lixeira em lixeira,
Luiz sustenta a família de quatro membros pagando luz, água, aluguel, alimentos
através daquilo que muitos repudiam, o lixo. Ajudas da comunidade ainda estão
sendo feitas como doação de alimentos, roupas, calçados, brinquedos.
- Ganhamos tantas
roupas esses dias, que metade distribuímos na Assistência Social, com os
vizinhos. Ganhamos brinquedos para os filhos. Nesse fator não temos do que nos
queixar na comunidade.
Trabalhando
individualmente, o reciclador levanta pouco antes das 7 horas e inicia a lida
diária. A esposa tem a função de separar as quantidades certas para serem
entregues aos compradores. Luiz e a esposa relatam que uma quinzena de
trabalho, rendeu neste período, o suficiente para pagar aluguel e luz.
Semanalmente, em média, a família recebe pelas coletas nas ruas aproximadamente
225,00. Em Tenente Portela, segundo Luiz, há aproximadamente 25 catadores, que
comercializam sucata com compradores de toda a região. Por quilo, o alumínio é
o material mais cobiçado, porém, o mais em abundância nos bairros e centro é o
papelão. Além de serem catados e vendidos produtos como garrafa pet, ferro,
entre outros.
- Tenente Portela tem
bastante lixo, para o número de habitantes. Eu trabalhei como gari em Bairros
de Sapiranga. Sapiranga, enquanto nós moramos lá, havia três catadores, eles
tinham que se dividir para não passar fome. E Portela, sustenta mais de 25
catadores, só com o lixo. (...)
Em um dia eu já
coletei mais de 300 kg de papelão.
Na concepção do
catador, a cidade tem boa trafegabilidade, e parte dos moradores são
acolhedores a profissão. Porém, ressalta que a comunidade precisa se inteirar
mais sobre a separação correta dos materiais recicláveis.
- Para nós quando
começamos foi difícil de entender quais materiais serviam para a venda. Os
compradores que explicam, dão dicas, e aos poucos vamos vendo que a reciclagem
não se restringe ao papelão, alumínio. vidros de cremes, de vitaminas, shampoo,
vinagre, entre outros valem também no comércio, mas muitas pessoas ainda não
tem, por falta de conhecimento as vezes, o hábito de separar o lixo.
-Ressalta Luiz, com a concordância da esposa.
Sobre esse assunto da
reciclagem em Tenente Portela, fomos conversar com o secretário de serviços
urbanos, José Velci Monteiro, onde foi afirmado que estão sendo feitos projetos
e levantamentos nas comunidades do município, buscando trabalhar, futuramente,
por meio da educação e ações diferenciadas melhorias na conscientização da importância
da separação dos resíduos sólidos para o município.
Na primeira semana de
novembro, o catador passará por uma reavaliação médica para o estado atual da
mão. Quando questionado se irá permanecer nas ruas em buscas de materiais para
garantir um amanhã melhor, o ex-pedreiro afirma:
- O que me faz
levantar da cama é a família, além da certeza que amanhã vai melhorar. A
esperança que amanha eu vou conseguir uma estabilidade dentro disso, porque
mesmo depois da cirurgia eu vou insistir neste trabalho, pois, eu acho que isso
(a reciclagem) vai crescer no futuro daqui pra frente. Minha família depende de
mim.
Entre os sonhos de se
formar como enfermeira, e ser um grande empreendedor no mundo da reciclagem, o
casal compartilha do mesmo sentimento quando o assunto é o futuro.
- Sonho em lutar todo
dia para dar um teto aos meus filhos, para eles poderem dizer que é deles, por
mais simples que seja, pode ser de pau a pique, mas que eu possa dizer que esse
canto é de vocês, proporcionar um canto pra eles.
Fonte: Sistema
Província
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