quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Estudantes de medicina são contra obrigatoriedade de residência no SUS

'A gente tem que ter a opção de fazer ou não no SUS', diz aluna da UFPR.
Medida foi anunciada pelo governo federal na quarta-feira (31). 

Estudante do 5º ano de medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Camilla Pilger, defende o direito de escolher uma especialidade depois de terminar a graduação (Foto: Thais Kaniak / G1 PR)
Estudante do 5º ano de medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Camilla Pilger, defende o direito de escolher uma especialidade depois de terminar a graduação (Foto: Thais Kaniak / G1 PR)


A proposta do governo em manter o curso de graduação em medicina em seis anos agradou aos estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas a ideia de que eles façam residência nos serviços de atenção primária e de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde (SUS) recebeu críticas dos universitários ouvidos pelo G1.

“Esse um ano de residência no SUS não deveria ser obrigatório. A gente tem que ter a opção de fazer esse ano no SUS ou não”, disse  a estudante do 5º ano do curso de medicina da UFPR, em Curitiba. Aos 22 anos, a jovem defende o direito de escolher uma especialidade depois de terminar a graduação, alegando que os estudantes de medicina têm uma “formação longa”.

Na UFMG, em Belo Horizonte, estudantes também reclamaram da nova proposta para a residência médica no SUS.

Na quarta-feira (31), o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou que o governo decidiu alterar um dos pontos do programa Mais Médicos: o que previa a ampliação de seis para oito anos do período de graduação em medicina – nos dois anos extras, eles prestariam serviços no Sistema Único de Saúde (SUS). O programa foi lançado pela presidente Dilma Rousseff (PT) no dia 8 de julho.

Com as mudanças anunciadas na quarta-feira, o governo defende a ideia de exigir que os médicos comecem a residência (ou especialização) com atuação nos serviços de atenção primária e de urgência e emergência do SUS durante pelo menos um ano, ao invés de aumentar a duração do curso de graduação. A nova proposta ainda precisa ser aprovada no Congresso Nacional.

“Deveria ser suficiente que o governo investisse na nossa educação, na nossa formação, durante esses seis anos”, contesta Camilla. Ela explica que os últimos dois anos do curso de medicina, em qualquer instituição pública, são no SUS, e que a maioria dos estudantes de universidades particulares faz estágio optativo em hospitais públicos, também passando pelos serviços do SUS.

“O que a gente precisava é que fossem seis anos muito bem investidos e o que sente é que parece que o governo quer uma mão de obra barata”. De acordo com Camilla, os médicos residentes recebem uma bolsa, mas não têm benefícios, apesar de terem “toda a responsabilidade”.

A aluna ainda diz que o serviço obrigatório durante um ano no SUS é uma maneira de cobrir uma mazela deixada pelo governo dentro da faculdade. “Se a gente não está tendo experiência suficiente com emergência, com atenção básica, com postinho, a gente não pode cobrir isso depois que se forma”.

Tatiane Souza, de 26 anos, afirma que a passar pelo SUS é importante: 'É nosso maior aprendizado' (Foto: Thais Kaniak / G1 PR)
Tatiane Souza, de 26 anos, afirma que a passar pelo SUS é importante: 
'É nosso maior aprendizado' (Foto: Thais Kaniak / G1 PR)

'Nosso maior aprendizado'

Também aluna do curso de medicina da UFPR, Tatiane Souza, de 26 anos, afirma que a passagem pelo SUS é importante. “É nosso maior aprendizado”. Porém, ela não concorda com a obrigatoriedade. Para ela, as pessoas devem ter o livre arbítrio para escolher se querem trabalhar durante um ano na rede pública. Como estuda em uma universidade pública, ela explica que já tem contato com o SUS desde o início do curso. “É uma coisa outorgada. Eu sou contra”.

“É mais uma falácia do governo. Não é uma necessidade fazer um ano de residência no SUS para tapar buraco. O que o governo federal tem que fazer, além de melhorar todo o ensino da graduação e melhorar de uma forma geral a infraestrutura do SUS e de todas as unidades básicas, é abrir mais vagas de residência”, sugere a estudante.

Entretanto, Tatiane comemora o novo anúncio do governo referente à desistência da extensão do curso de medicina por mais dois anos. A universitária alega que era algo “completamente fora de cogitação”. “A gente já tem uma formação longa. São seis anos de graduação e mais uns cinco anos de residência. No mínimo, são onze anos, fora pós-graduação e mestrado. São muitos anos de dedicação”, relata.

Curso subaproveitado

O estudante de medicina Wesley Silva de Oliveira, de 30 anos, que também cursa o 5º ano da Universidade Federal do Paraná, é mais um a defender a duração de seis anos do curso. "É desnecessário durar oito anos porque os seis anos são subaproveitados”, relata.

“A gente vê que, nos últimos anos, está se reduzindo o investimento em ensino da medicina. Tem professor, tem aluno, mas não tem investimento para valorizar o ensino e conseguir formar em seis anos um profissional qualificado”. Ele acredita que, ao invés de suprir o problema do ensino médico colocando o médico recém-formado para trabalhar nos serviços do SUS, a graduação deveria ser melhor preparada com investimento na preparação do aluno.

Estudantes de medicina não concordam com obrigatoriedade de residência no SUS por um ano (Foto: Thais Kaniak / G1 PR)
Estudantes de medicina não concordam com
obrigatoriedade de residência no SUS por um ano
(Foto: Thais Kaniak / G1 PR)

 “A ideia é boa de formar melhor o médico na urgência e emergência e na atenção básica, mas a gente precisa olhar como está sendo desenvolvido isso durante o curso. Precisa ser debatido, precisa avaliar os currículos, se tem horário subaproveitado, se os alunos estão tendo contato com isso, se já estão se formando aptos ou não, para daí propor uma medida dessa”.

O estudante compara a medida que exige que os médicos iniciem a residência na atuação de serviços do SUS durante um ano ao serviço militar obrigatório. Contudo, Oliveira encara positivamente a ideia de aumentar o ensino na emergência e urgência e na atenção primária. “Eu acho a ideia super boa, mas está sendo aplicada da forma errada.   Não pode ser aplicada como um quebra galho depois de formado por uma má formação que o aluno teve. A gente está tentando corrigir um problema de formação não olhando para a formação”, reflete.

Ele ainda defende a implementação de mais aprendizado na área de urgência e emergência dentro do curso universitário. “A gente precisa melhorar, com certeza. Mas tem espaço para fazer isso dentro da graduação. E não é justo a gente fazer isso depois de formado se tem como fazer durante os seis anos”, conclui o estudante.

Fonte: Thais Kaniak, Do G1 PR

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