Ao falar sobre torcedor que corre risco de ficar
cego, comandante-geral diz que PMs devem "mensurar atitudes"
Duas balas de borracha foram retiradas do rosto de Evandro no Hospital de Pronto SocorroFoto: Patricia Kunrath Laurino / Arquivo Pessoal
O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Fábio Duarte
Fernandes, pretende descobrir em até 40 dias quem foi o autor do disparo contra o rosto do gremista Evandro Godoy Kunrath.
Na quarta-feira, antes do jogo entre Grêmio e Santos, Evandro
foi atingido por pelo menos duas balas de borracha durante um confronto entre
torcedores e PMs, em frente à Arena. Testemunhas garantem que o bancário de 40
anos em nenhum momento se envolveu no tumulto. Liberado ontem do Hospital de
Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, o gremista ainda corre risco de ficar cego.
Abaixo, leia os principais trechos da entrevista que o coronel
Fernandes concedeu na sexta-feira a Zero Hora:
Ferimentos
nos olhos de Evandro Kunrath são "extremamente graves", conforme
médico
Foto:
Arquivo pessoal
Zero Hora — Como o senhor avalia a situação de Evandro Godoy
Kunrath, que foi atingido por uma bala de borracha e pode ficar cego?
Fábio Duarte Fernandes — Lamento o que ocorreu. Não gostamos que a Brigada Militar, que
se dedica a trabalhar pela segurança das pessoas, seja a causadora de uma lesão
como esta. Já determinei a abertura de um Inquérito Policial-Militar para
apurar os responsáveis. É claro que a corporação atua em momentos de tensão,
mas os policiais precisam mensurar suas atitudes, precisam ter em mente um
cálculo tático sobre o emprego da força.
ZH — É possível identificar o policial que efetuou os disparos?
Fernandes — Sim, temos mecanismos para isso.
Precisamos esclarecer os fatos, tanto para encontrar o autor dos disparos — que
depois, se for o caso, poderá ou não ser punido pela Justiça — quanto para
corrigir ações futuras da Brigada Militar. Nossa orientação é de que esses
disparos sejam feitos da cintura para baixo. Precisamos entender por que o
rosto do rapaz foi atingido, se ele estava abaixado ou não. Tudo isso o
inquérito vai apurar.
ZH — Em quanto tempo o senhor terá uma resposta?
Fernandes — Dentro de 30 ou 40 dias, já teremos
uma reposta do encarregado pelo inquérito.
ZH — E quem será o encarregado?
Fernandes — Não está definido. A
Corregedoria-Geral da Brigada está avaliando esta indicação. Provavelmente,
como normalmente ocorre, será um integrante do batalhão envolvido no episódio
(foi o 11º Batalhão de Polícia Militar que atuou no confronto em frente à
Arena, onde Evandro foi atingido).
ZH — Não pode haver parcialidade em uma apuração coordenada por
alguém que trabalha na mesma unidade do autor dos disparos?
Fernandes — Poder, pode, mas a decisão final é do
comandante. Determinei que a corregedoria acompanhe todo o inquérito. Via de
regra, a Brigada tem atuado de maneira muito transparente e eficaz nesses
episódios. Não há qualquer intenção de acobertar ninguém e, caso isso ocorra, a
corregedoria vai identificar e eu vou intervir. Para esclarecer esse episódio e
identificar as responsabilidades, não vamos desviar o foco em nenhum momento.
ZH — O senhor se comunicou com a família de Evandro?
Fernandes — Estamos solidários e à disposição da
família. Se (os familiares) quiserem procurar o Comando da Brigada Militar,
estaremos dispostos a prestar qualquer esclarecimento. Mas sei que este momento
é muito pessoal, é um momento de dor, não gostaria de intervir. É um episódio
também lamentável para os servidores envolvidos na operação. Os policiais
jamais gostariam de atingir um inocente, de provocar esse tipo de situação.
Fonte:
Paulo Germano | ZHESPORTES
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