Evandro Godoy Kunrath foi atingido por disparo
antes do jogo entre Grêmio e Santos
Na foto, Evandro começa a receber curativos sobre os olhos, no Hospital de Pronto SocorroFoto: Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Evandro Godoy Kunrath, bancário e gremista de 40 anos, está
desde quarta-feira à noite com os olhos vendados por curativos, deitado em uma
maca do Hospital de Pronto Socorro (HPS), em Porto Alegre.
Ele foi atingido por pelo menos duas balas de borracha durante
um confronto entre torcedores e PMs, em frente à Arena, 20 minutos antes da
partida entre Grêmio e Santos. Os ferimentos são graves, e o bancário corre
risco de ficar cego. Um Inquérito Policial-militar deve ser instaurado para
apurar eventuais excessos dos policiais. Testemunhas garantem que em nenhum
momento Evandro se envolveu no tumulto.
— Vimos a Brigada Militar formando um cordão de isolamento em
frente a um boteco, a 50 metros de distância da gente. Era o bar onde
torcedores da (torcida organizada) Geral se reúnem antes dos jogos — conta
um rapaz que acompanhava Evandro, pedindo para omitir seu nome porque está
"com medo de alguma represália".
Quando a gritaria e os disparos começaram, o amigo percebeu a
multidão se aproximando e saiu correndo. Não viu mais Evandro. Minutos depois,
ao retornar ao local, encontrou o bancário encostado em uma parede,
ensanguentado, sem conseguir abrir os olhos. No HPS, onde chegaram de táxi,
duas balas de borracha — provavelmente frutos de um mesmo tiro — foram
retiradas do rosto do torcedor.
Mesmo com autorização da família e de Evandro, o HPS não
permitiu a entrada da reportagem no hospital, onde ele segue em observação. A
mãe, Maria Elisa Godoy, afirma que processará o Estado pela suposta truculência
da Brigada Militar.
— Evandro costuma ir ao estádio com o filho de 10 anos. A sorte
é que, desta vez, como o jogo era muito tarde e o menino acorda cedo, o filho
ficou em casa — relata a irmã, Patrícia Kunrath Laurindo.
Comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, unidade que atuou
no confronto, o tenente-coronel Eduardo Biacchi assegura que o caso será
investigado. Conforme ele, o tumulto começou quando PMs solicitaram que um
grupo de gremistas saísse do meio da rua — os torcedores estavam bloqueando o
trânsito, afirma Biacchi.
Dois rapazes teriam se recusado a cumprir a ordem, proferindo
xingamentos e incitando a massa contra os policiais. Ao tentar detê-los por desobediência,
os PMs foram agredidos com arremessos de garrafas e pedras. Outros militares
chegaram disparando balas de borracha para dispersar o tumulto.
— Muitas vezes, as coisas podem parecer que ocorreram de uma
forma, mas ocorreram de outra. Precisamos ouvir a perícia, precisamos confirmar
se o tiro partiu, de fato, da arma de um dos nossos PMs e se foi disparado
realmente no entorno da Arena — diz o tenente-coronel.
Fonte:
Paulo Germano | ZHESPORTES
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