Clarice perdeu móveis da casa, do mercadinho e de uma confecção no Bairro Canoas - Vani Boza / Agencia RBS
Ao mesmo tempo em que contabilizam prejuízos e lutam para se reerguer, moradores de Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, se questionam por que sofrerem tanto com uma tragédia que foi — ou deveria ter sido — anunciada.
De um lado, moradores acusam o poder público de ter negligenciado as informações sobre o nível do Rio Itajaí Açu, que corta a cidade. Eles alegam ainda que se tivessem sido orientados corretamente, as suas perdas seriam menores. Por outro, as autoridades se defendem dizendo que agiram com eficiência e que muitas das vítimas foram displicentes.
Pelas ruas de Rio do Sul não é difícil encontrar gente que diz ter sido alertada que o nível do rio chegaria a uma altura e, no fim das contas, a enchente foi bem maior do que o esperado. No Bairro Canoas, um dos mais atingidos, essa versão é quase unanimidade.
Tempo de salvar só a própria vida
Clarise Hellmann, 36 anos, tem uma casa, uma confecção e um mercadinho na comunidade. Ela conta que na tarde do dia8, a Defesa Civil de Rio do Sul alertava nas rádios locais que o Itajaí Açu poderia chegar a 11 metros . E não mais do que isso.
Por precaução, Clarise levantou mantimentos da mercearia a1,5 metro do chão, mas não se preocupou, pois seu patrimônio não estaria comprometido. Só que, com o passar das horas, a água foi subindo, o rio chegou a quase 13 metros (mais precisamente 12m96cm) e Clarise só teve tempo de salvar a sua vida. O restante ficou submerso.
— Na mercearia perdi oito freezeres, carne, comida e bebida. Na confecção, foram cinco máquinas de costura, uns200 metros de tecidos e umas mil peças prontas. E em casa, consegui tirar só uma geladeira e uma TV. Meu prejuízo passa dos R$ 150 mil, e meu marido quer processar a prefeitura. Talvez, soubessem que a água subiria tanto, mas tiveram medo de divulgar — diz Clarise, vestindo roupas emprestadas, já que as suas foram levadas pela água.
A dona de casa Irene Piva, 53, e o filho Ramon Eduardo Medeiros, 27, moram perto de Clarise. Os dois também foram surpreendidos pela água que destruiu tudo. Até o papagaio de estimação morreu afogado.
E mãe e filho, apesar de entenderem que ninguém queria a tempestade, apontam um responsável por tantos danos.
— Conseguimos salvar só dois guarda-roupas e nossos quatro cachorrinhos. Se a medição estivesse correta daria tempo de proteger bastante coisa. Mas não foi isso que aconteceu. Então, nem eles sabem qual é a medida certa — lamenta.
Irene e Ramon destacam a diferença superior a1,5 metro entre os dois medidores do município e que pode ser constatada por qualquer pessoa na porta de entrada da prefeitura, no Centro da cidade.
Prefeito nega informação errada
O prefeito de Rio do Sul, Milton Hobus, e o diretor da Defesa Civil local, André Gustavo Wormsbecher, defendem-se das acusações de que teriam subestimado o poder da enchente e dizem que muitos moradores foram displicentes em não ouvir os alertas e não aceitar ajuda.
O prefeito afirma ter dedicado todo o seu tempo nos últimos dias a minimizar os efeitos da catástrofe no município e que, desde que o rio estava em cinco metros, começou a alertar a população. A cada nova perspectiva, segundo prefeito, com base nas previsões meteorológicas e no nível medido na estação instalada em 1997 e mantida em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) no Rio Itajaí-Açu, os moradores eram informados pela imprensa local. O monitoramento é feito no local e de hora em hora por técnicos da Defesa Civil.
— A informação para a população partiu com antecedência e, inclusive, dávamos a lista das ruas que poderiam ser atingidas. Anunciamos, sim, que o nível do rio poderia chegar a13 metros , então pode ter havido displicência dos moradores - defende-se Hobus.
Prefeito e Defesa confirmam a diferença nas réguas
O diretor da Defesa Civil confirma as informações do prefeito e garante que a população de Rio do Sul foi informada que o rio poderia ultrapassar a casa dos12 metros , o que aconteceu precisamente às 20h20min de sexta-feira, quando chegou a 12m96cm.
— No segundo dia das chuvas falamos que o rio chegaria aos11 metros , mas já alertamos que o nível poderia chegar a 12 ou 13 metros e orientamos os moradores que não esperassem para sair de casa. Muita gente recusou nossa ajuda, tanto que na quinta-feira ficamos com um caminhão ocioso o dia inteiro.
O prefeito e o diretor da Defesa Civil também concordam com relação à divergência de dados entre a medição oficial utilizada pelo município, obtida na estação da ANA, e a régua colocada há alguns anos na fachada do prédio da prefeitura. A diferença entre ambas é de1,5 metro , já que, enquanto a medição oficial apontou 12m96cm, a da prefeitura indicou 14cm50cm.
Hobus e Wormsbecher não sabem explicar por quem e quando foi instalada a régua da fachada da prefeitura e qual o motivo da disparidade de informações, mas garantem que vão tomar providências para que as duas medições fiquem iguais. André fala, inclusive, em criar novas réguas em alguns postes no centro da cidade.
Pelas ruas de Rio do Sul não é difícil encontrar gente que diz ter sido alertada que o nível do rio chegaria a uma altura e, no fim das contas, a enchente foi bem maior do que o esperado. No Bairro Canoas, um dos mais atingidos, essa versão é quase unanimidade.
Tempo de salvar só a própria vida
Clarise Hellmann, 36 anos, tem uma casa, uma confecção e um mercadinho na comunidade. Ela conta que na tarde do dia
Por precaução, Clarise levantou mantimentos da mercearia a
— Na mercearia perdi oito freezeres, carne, comida e bebida. Na confecção, foram cinco máquinas de costura, uns
A dona de casa Irene Piva, 53, e o filho Ramon Eduardo Medeiros, 27, moram perto de Clarise. Os dois também foram surpreendidos pela água que destruiu tudo. Até o papagaio de estimação morreu afogado.
E mãe e filho, apesar de entenderem que ninguém queria a tempestade, apontam um responsável por tantos danos.
— Conseguimos salvar só dois guarda-roupas e nossos quatro cachorrinhos. Se a medição estivesse correta daria tempo de proteger bastante coisa. Mas não foi isso que aconteceu. Então, nem eles sabem qual é a medida certa — lamenta.
Irene e Ramon destacam a diferença superior a
Prefeito nega informação errada
O prefeito de Rio do Sul, Milton Hobus, e o diretor da Defesa Civil local, André Gustavo Wormsbecher, defendem-se das acusações de que teriam subestimado o poder da enchente e dizem que muitos moradores foram displicentes em não ouvir os alertas e não aceitar ajuda.
O prefeito afirma ter dedicado todo o seu tempo nos últimos dias a minimizar os efeitos da catástrofe no município e que, desde que o rio estava em cinco metros, começou a alertar a população. A cada nova perspectiva, segundo prefeito, com base nas previsões meteorológicas e no nível medido na estação instalada em 1997 e mantida em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) no Rio Itajaí-Açu, os moradores eram informados pela imprensa local. O monitoramento é feito no local e de hora em hora por técnicos da Defesa Civil.
— A informação para a população partiu com antecedência e, inclusive, dávamos a lista das ruas que poderiam ser atingidas. Anunciamos, sim, que o nível do rio poderia chegar a
Prefeito e Defesa confirmam a diferença nas réguas
O diretor da Defesa Civil confirma as informações do prefeito e garante que a população de Rio do Sul foi informada que o rio poderia ultrapassar a casa dos
— No segundo dia das chuvas falamos que o rio chegaria aos
O prefeito e o diretor da Defesa Civil também concordam com relação à divergência de dados entre a medição oficial utilizada pelo município, obtida na estação da ANA, e a régua colocada há alguns anos na fachada do prédio da prefeitura. A diferença entre ambas é de
Hobus e Wormsbecher não sabem explicar por quem e quando foi instalada a régua da fachada da prefeitura e qual o motivo da disparidade de informações, mas garantem que vão tomar providências para que as duas medições fiquem iguais. André fala, inclusive, em criar novas réguas em alguns postes no centro da cidade.
Fonte: DIÁRIO CATARINENSE
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