sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Egito decreta emergência após invasão de embaixada israelense


Manifestante egípcio joga a bandeira de Israel do alto do prédio da embaixada no Cairo / Crédito: Mohamed Hossam / AFP / CP


     A embaixada de Israel no Cairo foi invadida na noite de sexta-feira por manifestantes, que jogaram milhares de páginas de documentos confidenciais pela janela de um dos escritórios da embaixada. Mais cedo, cerca de mil pessoas se reuniram diante do prédio e derrubaram o muro que protege a sede com golpes de martelos e uma barra de metal. Na madrugada de sábado, pelo horário local, a junta militar do Egito decretou estado de emergência no país. Segundo a emissora Al Jazeera, a junta militar convocou uma reunião de emergência do gabinete de crises para o sábado.
     Segundo o Ministério da Saúde, citado pela emissora estatal, 235 pessoas ficaram feridas em confrontos entre manifestantes e policiais. Uma pessoa morreu de um ataque cardíaco. Muitos tiros foram ouvidos na região. Os disparos, cuja procedência exata não pôde ser determinada em um primeiro momento, pareciam vir das imediações de uma delegacia localizada perto da embaixada, no bairro da Guiza, na margem oeste do Nilo. Carros policiais também foram incendiados ou destruídos.
     Centenas de soldados, apoiados por veículos blindados, se concentravam na madrugada deste sábado nas imediações da embaixada. O fornecimento de energia elétrica foi suspenso no bairro.

Embaixador volta para Israel

     O embaixador de Israel no Egito, Yitzhak Levanon, aguardava na madrugada do sábado (horário local), no aeroporto do Cairo, um avião militar israelense que o levaria de volta a Israel, junto com sua família e funcionários israelenses da embaixada. A informação partiu de funcionários do aeroporto do Cairo. 
     O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, telefonou para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, manifestando preocupação com a invasão da Embaixada de Israel no Cairo. Obama também telefonou para a junta militar do Egito e pediu aos governantes do país que protejam a embaixada israelense. 
     Vários documentos recolhidos por um jornalista da AFP provêm visivelmente dos serviços diplomáticos israelenses, alguns escritos em árabe, mas que levam selos diplomáticos israelenses e se apresentam como mensagens de funcionários israelenses a seus colegas egípcios. Policiais questionados nas imediações do edifício não estavam em condições de dar informações sobre a situação dentro da sede diplomática. Um porta-voz da embaixada contatado por telefone também não fez comentários.
     Segundo testemunhas citadas pela agência oficial Mena, os manifestantes invadiram uma sala reservada aos arquivos diplomáticos, no andar em que estão os escritórios da chancelaria. A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que se reuniu na rua em frente ao edifício. À tarde, manifestantes armados com martelos, barras de ferro e cordas destruíram o muro erguido nos últimos dias pelas autoridades egípcias em frente à missão diplomática. A embaixada já sofreu várias manifestações recentemente.
     Um dos manifestantes retirou a bandeira israelense da embaixada, que estava no alto desse edifício de vinte andares, o segundo ato semelhante em um mês. O homem jogou a bandeira na rua, em meio a gritos de alegria dos demais.

Países têm relação delicada

     As relações entre os dois países atravessam uma fase delicada desde a morte de cinco policiais egípcios assassinados em 18 de agosto em um ataque das forças israelenses na região de Eliat, que faz fronteira com o Egito. O Egito foi o primeiro país árabe a fazer um acordo de paz com o Estado hebreu em 1979.
     Durante todo o dia, milhares de pessoas se reuniram na Praça Tharir em uma manifestação intitulada "Sexta-feira de retorno ao bom caminho". Os manifestantes atenderam aos apelos de organizações laicas e de esquerda, principalmente dos movimentos de jovens, para reivindicar o poder que está nas mãos do Exército desde a queda do presidente Hosni Mubarak em fevereiro, além de reformas e democracia.
     Manifestações foram realizadas também nas cidades de Alexandria, no Mediterrâneo, e em Suez, na entrada sul do canal, indicou a agência de notícias Mena. As passeatas foram boicotadas pela organização Irmandade Muçulmana e por outros movimentos islamitas. "Nenhuma das demandas da revolução foram atendidas", disse Ibbrahim Ali, 38 anos, técnico agrícola de Beheira. "Será indigno para o povo egípcio esquecer as promessas da revolução", afirmou um religioso encarregado de conduzir a tradicional oração muçulmana da sexta-feira na praça.
     Os militantes laicos, ainda pouco organizados, duvidam que as eleições legislativas sejam realizadas, como previsto, neste outono. Eles não apoiam os islamitas, nem os funcionários do governo anterior, e exigem a reforma do sistema eleitoral. Reivindicam também um calendário para a restituição do poder aos civis, e pedem, principalmente, o fim da utilização massiva dos tribunais militares para o julgamento de civis. 
    
Muitos criticam o julgamento de Mubarak, acusado de ter responsabilidade nas ordens de atirar nos manifestantes durante a revolta popular que o derrubou do poder (25 de janeiro a 11 de fevereiro). Alguns denunciam a convocação de policiais que prestaram depoimentos que deram a sensação de limpar a culpa do ex-presidente. O julgamento deve ser retomado no domingo, com a audiência do principal líder do país, o marechal Hussein Tantaui, chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), que será ouvido como testemunha-chave.

Muro da sede foi derrubado a golpes de martelos e uma barra de metal
Crédito: Mohamed Hossam / AFP / CP

Fonte: Correio do Povo, com informações da AFP e AE

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