Governo do Rio Grande do Norte vai investigar
Vídeos revelam suposto canibalismo em presídio
de Alcaçuz | Foto: Andressa Anholete / AFP / CP
Circulam
pelas redes sociais nesta segunda-feira dois vídeos em que presos da
penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, dizem estar assando partes de
corpos humanos em fogueiras para consumo com os rivais. O governo reconhece que
as imagens foram feitas no presídio, mas afirma que não tem registro desse tipo
de crime, apesar de denúncias informais de canibalismo feitas por familiares de
detentos à imprensa.
A
penitenciária vive uma guerra entre duas facções rivais desde o dia 14 de
janeiro, quando pelo menos 26 presos foram assassinados brutalmente e boa parte
da penitenciária passou a ser controlada pelos detentos. Até agora, as forças
policiais controlam a área externa de Alcaçuz e fazem intervenções pontuais no
local para realizar buscas por corpos e construir um muro de contêineres que
separa os pavilhões controlados pelos grupos rivais.
Em um dos
vídeos, um preso aparece queimando pedaços de carnes e pele que eles dizem na
imagem ser de corpo humano, espetadas em um vergalhão. Um deles avisa:
"Churrasco de PCC". Em seguida, a câmera se volta aos detentos, que
não têm receio de mostrar o rosto. Eles informam que são do Pavilhão 2,
controlado pelo Sindicato do Crime do RN, e estão vingando mortes ocorridas no
Pavilhão 4, supostamente cometidas por integrantes do Primeiro Comando da
Capital (PCC). Eles parecem se dirigir diretamente aos rivais, enviando recados
de vinganças e retaliação.
Em outro
vídeo, um antebraço é colocado no espeto enquanto um preso narra os
acontecimentos: "estamos aqui em mais um dia de guerra na penitenciária de
Alcaçuz", começa a narração, enquanto outros espetam a carne com facões.
Ao fundo, dezenas de detentos se aproximam e o que parece ser um corpo mutilado
é arrastado, amarrado com um lençol. "Vai tocar fogo agora. Essa é a
realidade", volta a dizer o narrador.
As
esposas de detentos que fazem vigília na porta do presídio já tinham informado
à reportagem que receberam notícias sobre suposto canibalismo na unidade, mas
nenhum indício havia sido divulgado. Em ambos os vídeos não é exibida qualquer
cena em que os presos de fato comam os pedaços.
A
fogueira utilizada para assar os corpos no pátio da penitenciária já havia sido
citada pelo diretor do Instituto Técnico-Científico de Perícia (Itep), Marcos
Brandão. Ele informou, por telefone, que várias delas foram encontradas na
área. "Ainda vamos examinar se nessas fogueiras há algum material humano,
porque lá realmente não deu para verificar. Recolhemos um material que vamos
analisar para saber se é corpo. A gente ainda vai analisar, não estou dizendo
nada conclusivo", disse, ontem.
A
assessoria de comunicação da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) do Rio
Grande do Norte confirmou que as imagens foram feitas na penitenciária de
Alcaçuz, "certamente na primeira rebelião", ocorrida no dia 14 de
janeiro. O órgão informou ainda que duas buscas já foram realizadas no interior
do presídio em busca de mortos, e que não há registro de canibalismo.
"Como
os equipamentos de bloqueio de sinal de celular foram danificados na rebelião,
os rebelados usam informações, via celular, para aterrorizar a população. Os
equipamentos serão restabelecidos tão logo haja condições para garantir o
trabalho dos técnicos", informa a nota enviada à Agência Brasil.
Agência Brasil
Correio do Povo
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