Briga entre facções rivais envolveu centenas de presos na
Penitenciária de Alcaçuz
Presos ocupam área externa de presídio no Rio
Grande do Norte | Foto: Andressa Anholete / AFP / CP
A
rebelião na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Grande Natal, chegou ao sexto
dia nesta quinta-feira. Nas primeiras horas da manhã, detentos voltaram ao teto
de ao menos três pavilhões da unidade. Do lado de fora, muitos tiros disparados
por policiais militares e agentes penitenciários eram ouvidos, assim como o
barulho de bombas de efeito moral.
Aglomerados
próximo ao pavilhão 4, onde no sábado 26 presidiários foram mortos,
os presos foram dispersados após os disparos de armamento não letal. De cima de
um dos pavilhões, um preso gritava pela atenção da PM pedindo que liberasse o
acesso para que os próprios presos "dessem um jeito".
A nova
rebelião acontece no dia seguinte à retirada de 220 internos ligados ao
Sindicato do Crime do RN (SDC) do local. O governo do Estado remanejou presos
entre três unidades visando a acalmar a situação em Alcaçuz. A Justiça, porém,
determinou que parte da operação fosse desfeita.
A Vara de
Execuções Penais de Nísia Floresta, cidade onde está situado o presídio,
entendeu que presos foram retirados "à revelia" e estariam
"correndo sério risco de morte, em especial porque a rebelião não foi
controlada". Em nota, o Tribunal de Justiça potiguar informou que
"neste momento de desconfiança entre os presos, não há possibilidade de
saber quem são os presos do Sindicato do Crime". "Só os do PCC estão
se declarando como integrantes desta facção."
A decisão
de interromper a operação montada pelo Estado foi tomada pela juíza Nivalda
Torquato, que considerou ainda uma decisão de 2015 que interditou Alcaçuz para
novos presos. "Somente por meio de documento oficial e em condições de
normalidade é que se pode permutar presos", informou a magistrada.
A
transferência de Alcaçuz envolvia a permuta com presos retirados da Penitenciária
Estadual de Parnamirim, que seriam divididos entre a unidade em NÍsia Floresta
e a Cadeia Publica de Natal, na zona norte da capital. O governo disse que não
ia comentar a decisão da juíza, mas ressaltou que na terça-feira foi realizada
uma reunião com o TJ para repassar as informações sobre as transferências e
organizar a operação.
"Os
presos que não entraram em Alcaçuz passaram a noite na Cadeia Pública de Natal.
Por questão de segurança, a secretaria de segurança não pode repassar
informações neste momento sobre a nova operação de transferência", disse o
governo em nota. Não foi informado se os detentos retirados serão devolvidos à
Alcaçuz.
Na manhã
desta quinta-feira, o helicóptero da PM sobrevoava o presídio em auxílio a ação
dos policiais nas guaritas que disparavam contra os presos. O conflito se
intensificou e tiros ainda eram ouvidos até por volta das 11h50min.
Ônibus e prédios públicos são alvo de ataques criminosos
A
Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social do Rio Grande do Norte
registrou 28 ocorrências de ataques a ônibus, terminais urbanos, viaturas do
governo, delegacias e outros prédios públicos na capital e em outras cinco
cidades potiguares desde a tarde de ontem. Foram incendiados 21 ônibus; seis
carros e um caminhão. Sete pessoas foram detidas e conduzidas a delegacias.
Segundo o
secretário de Segurança Pública, Caio Bezerra, a possível relação dos ataques
com a transferência de presos da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, ontem,
ainda está sendo investigada. “As nossas forças de segurança estão mobilizadas
para garantir a normalidade nas ruas e as investigações sobre possíveis
retaliações já estão sendo feitas.” Há cinco dias, as autoridades de segurança
pública estaduais tentam retomar o controle do presídio, localizado na região
metropolitana de Natal.
A onda de
ataques levou rodoviários e empresas de transporte urbano a recolherem os
ônibus desde as 18h de ontem. Veículos voltaram a circular no início da manhã
de hoje, mas com atrasos. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores e
Transportadores Rodoviários (Sintro-RN), alguns ônibus saíram das garagens
escoltados por viaturas policiais.
Desde o
último final de semana, a Penitenciária Estadual de Alcaçuz é palco de
confrontos e ameaças entre presos membros de facções criminosas rivais. De
sábado para domingo, pelo menos 26 presos foram assassinados por outros
detentos durante uma rebelião de mais de 14 horas de duração. Desde então,
presos circulam livremente pelo pátio da unidade, portando facas, barras de
ferro e paus. As autoridades estaduais de segurança pública desconfiam que o
número de mortos no confronto entre presos pode ser maior e que corpos podem
ter sido jogados em fossas de esgoto na área interna do presídio.
AE e Agência Brasil
Correio do Povo
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