Jorge Beltrão pegou 23 anos; Bruna e Isabel foram condenadas a 20 anos.
Eles ainda responderão por outras duas mortes ocorridas em Garanhuns.
Trio ficou de pé para
escutar decisão no Fórum de Olinda (Foto: Anna Tiago/G1)
O trio de canibais foi
condenado, na noite desta sexta-feira (14), por homicídio quadruplamente
qualificado, vilipêndio (violação) e ocultação do cadáver de Jéssica Camila da
Silva Pereira, 17 anos. O crime ocorreu em maio de 2008. Jorge Beltrão
Negromonte da Silveira pegou 21 anos e seis meses de reclusão e um ano e seis
meses de detenção, totalizando 23 anos. Já as rés Isabel Cristina Torreão Pires
e Bruna Cristina Oliveira da Silva pegaram 19 anos de reclusão e um ano de
detenção, totalizando 20 anos cada. A sentença foi lida pela juíza Maria
Segunda Gomes de Lima, que presidiu o júri popular no Fórum de Olinda, Grande
Recife. A defesa dos réus informou que vai recorrer da decisão.
Sentença foi lida pela juíza
Maria Segunda Gomes de Lima, que presidiu o júri popular no Fórum de Olinda
Foto: Anna Tiago/G1
Foto: Anna Tiago/G1
"Os
jurados entenderam que os réus são culpados e, com base no artigo 59 do Código
Penal, foi aplicada uma pena determinada a casa um deles, especificamente
depois de analisar todos os antecedentes, culpabilidade, comportamento",
disse a magistrada, acrescentando que, nesse caso, não coube a pena máxima.
"Pena máxima a gente aplica quando tem condenação e outros processos já
julgados, o que não é o caso deles. Um [Jorge] responde a outro processo, mas
não tem condenação. No caso dos outros crimes que ele responde na cidade de
Garanhuns, pode ser que isso desfavoreça a pena dele", explicou.
Segundo
o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), pelo menos um sexto da pena de
reclusão só pode ser cumprida em regime fechado. Já no caso da detenção, essa
pena pode ser cumprida em regime semiaberto ou aberto. A decisão levou em conta
quatro agravantes do homicídio (motivo fútil, emprego de meio cruel, sem dar
chance de defesa à vítima e para assegurar impunidade).
Jorge
Beltrão ainda foi condenado a pagar 320 dias-multa e as rés, 120 dias-multa. O
valor será estabelecido pela Vara de Execuções Penais e pode ser cobrado depois
do cumprimento das penas. A multa será paga ao Fundo Penitenciário.
Jorge e Isabel ficaram de
mãos dadas enquanto escutavam a sentença (Foto: Anna Tiago/G1)
Inicialmente,
Jorge Beltrão Negromonte da Silveira volta ao Complexo do Curado, na Zona Oeste
do Recife, mas deverá cumprir a pena na Penitenciária Barreto Campelo, em
Itamaracá, na Região Metropolitana, quando não couber mais recurso. Isabel
Cristina Torreão Pires e Bruna Cristina Oliveira da Silva serão encaminhadas à
Colônia Penal de Buíque, no Agreste.
A
promotora Eliane Gaia lamentou a redução da pena, mas estava satisfeita com a
decisão do júri. "O MPPE [Ministério Público de Pernambuco] fez o seu
trabalho junto à sociedade e o corpo de jurados nos atendeu. A pena faz parte
do nosso código e a confissão ajudou na redução", afirmou. Ela não
pretende recorrer da sentença.
A
vítima era moradora de rua, tinha 17 anos, uma filha de um ano e aceitou viver
com os acusados. Eles planejaram ficar com a criança depois de matar a mãe,
segundo a denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Os três réus
foram acusados de terem guardado a carne da jovem para consumo humano, além de
ter ocultado os restos mortais.
Jorge, Isabel e Bruna ainda
serão julgados por outros dois crimes (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Julgamento
em dois dias
O
júri foi realizado em dois dias. Teve início na quinta (13), mas foi suspenso à
noite a pedido do MPPE e da defesa dos réus. Recomeçou na manhã desta sexta e
terminou por volta das 19h30.
No
primeiro dia, o trio foi
hostilizado ao chegar ao Fórum de Olinda e trocou acusações entre si durante os
depoimentos. Eles contaram detalhes macabros da ação e uma das rés, Bruna
Cristina, disse que “Jogos Mortais perdia” ao descrever o assassinato de
Jéssica. A mulher afirmou que chegou a comer a carne da vítima por causa do
ritual.
Nesta
sexta, Jorge Beltrão foi o primeiro dos réus a chegar ao Fórum para o segundo
dia da sessão. Às 9h30 chegaram as outras duas rés, Isabel Cristina e Bruna
Cristina. Antes do julgamento começar, Bruna mostrou um papel a Jorge. Isabel
estava chorosa e parecia bastante nervosa.
A
fase de debates no último dia começou por volta das 9h40. A
sustentação oral da representante do Ministério Público de Pernambuco durou
2h30, mesmo tempo destinado aos defensores dos réus. Houve
réplica e tréplica. Terminada
essa etapa, os sete jurados que compunham o Conselho de Sentença reuniram-se
para responder a quesitos e votar pela absolvição ou condenação. Com base na votação, a juíza realizou
a dosimetria da pena e leu a sentença em plenário.
Ilana Casoy esteve no Fórum
de Olinda para acompanhar júri dos canibais
Foto: Luna Markman/G1
Foto: Luna Markman/G1
Caso
deve virar filme
O
julgamento do trio acusado de canibalismo atraiu a pesquisadora e escritora
Ilana Casoy a Pernambuco. Uma das
maiores especialistas em serial killers do Brasil, ela pretende fazer um
documentário sobre a história que chocou o país em 2012, com a descoberta de
outros dois homicídios atribuídos ao trio em Garanhuns, no Agreste do estado.
A
especialista já colaborou com a Polícia Civil e Técnico-Científica, Ministério
Público e advogados de São Paulo e de outros estados para ajudar na elaboração
da análise criminal de casos em andamento. Têm quatro livros publicados:
“Serial Killer – Louco ou Cruel? “ e “Serial Killers – Made in Brazil”, “O
Quinto Mandamento” e “A Prova é a Testemunha”.
Casoy
acompanhou o caso desde o início, tendo tido inclusive a chance de entrevistar
os réus. “Todos os crimes com mais de duas vítimas que envolvem um ritual me
chamam atenção. Neste caso, o que se destaca é que a gente tem três assassinos
e três versões diferentes. Aqui [no julgamento], eles já têm outras versões,
que não foram as que eu ouvi antes, então são seis ao todo. [As versões] não
são controversas, às vezes são até complementares, mas é difícil saber
exatamente o que aconteceu, o que é verdade e o que não é”, disse.
Outros crimes em Garanhuns
Outros crimes em Garanhuns
O
trio ainda é acusado de assassinar em Garanhuns, no Agreste do estado, Giselly
Helena da Silva, 31 anos, e Alexandra Falcão da Silva, 20 anos, mortas,
respectivamente, em fevereiro e março de 2012. O julgamento relativo a esse
processo ainda não foi marcado pela Justiça estadual.
Os
acusados afirmam fazer parte da seita O Cartel, que visa a purificação do mundo
e o controle populacional. A ingestão da carne faria parte do processo de
purificação. O caso veio a público depois que parentes de Giselly Helena da
Silva denunciaram o seu desaparecimento. Os acusados usaram o cartão de crédito
da vítima em lojas de Garanhuns e foram rastreados pela polícia.
Uma publicação contendo os detalhes dos crimes - registrada em cartório - foi encontrada na casa dos réus. Para a Polícia Civil de Pernambuco, não há possibilidade de outras mortes terem sido praticadas pelo trio no estado.
Uma publicação contendo os detalhes dos crimes - registrada em cartório - foi encontrada na casa dos réus. Para a Polícia Civil de Pernambuco, não há possibilidade de outras mortes terem sido praticadas pelo trio no estado.
Fonte:
Do G1 PE
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