Jovem de 19 anos teve imagens íntimas divulgadas nas redes sociais.
Em entrevista
exclusiva, ela desabafa: 'Queria ter minha vida de volta'.
Estudante diz que fez vídeo
'por amor' (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)
A estudante de 19 anos que teve vídeos
íntimos divulgados em um aplicativo de celular e nas redes sociais diz que sua
vida “virou um inferno”. Parou de estudar e de trabalhar desde que o caso
ganhou repercussão, no início do mês. Ela só sai de casa para conversar com
advogados sobre o processo que move contra o suspeito de divulgar as imagens,
com quem a jovem diz ter se relacionado por três anos. “Não me arrependo porque
fiz [o vídeo] por amor, com uma pessoa que eu amava e em quem eu confiava. Só
que isso não deveria ter sido mostrado para ninguém”, disse a jovem, em
entrevista exclusiva ao G1 e à TV Anhanguera, na manhã de
quarta-feira (23), em Goiânia.
Abalada e com o visual diferente, para não
ser reconhecida nas ruas, ela conta que está há praticamente 20 dias sem sair
de casa. A estudante, que era vendedora em uma loja de roupas, resolveu falar
publicamente sobre o caso, que ela considerou "humilhante", porque,
segundo ela, está sendo condenada por muitas pessoas que não conhecem toda a
história.
“Eu não cometi nenhum crime. Mas pessoas
me ofendem virtualmente e moralmente. Muita gente me chamou de vadia,
prostituta. Um homem chegou a me mandar uma mensagem falando que viria a
Goiânia no final de semana e que me pagava R$ 10 mil para sair com ele”,
afirma.
A situação chegou ao ponto de influenciar
as colegas de trabalho. “Chegavam na loja e ofereciam programa [sexual] pra
elas”. Ela foi afastada do trabalho até que a situação se acalmasse. No
entanto, a vendedora não sabe se voltará. “Gosto muito de trabalhar lá. Mas não
sei quando conseguirei voltar”.
O curso de design de interiores em uma
escola particular de Goiânia também foi abandonado. “Meus professores e meus
colegas conhecem minha índole. Eles estão me ajudando e estou recebendo as
aulas por internet. Não vou parar de estudar”.
A vendedora ressalta que vai ser difícil
retomar sua rotina: “Queria ter minha vida de volta. Eu morri em vida. Vai ser
um trauma que eu vou levar para a vida toda”.
Ela registrou um boletim de ocorrência no
último dia 3. A Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), em
Goiânia, está investigando o caso, que ganhou grande repercussão na internet.
"Acho que nem ele [ suspeito] imaginava que fosse tomar essa proporção.
Não tem como controlar e estipular quantas pessoas viram. Não tem como pegar o
celular de todo mundo e apagar", disse. Ela pede que as pessoas denunciem
o link do vídeo para que as imagens sejam retiradas da web.
Além do apoio de familiares e amigos, a
estudante afirma que as redes sociais têm ajudado a “erguer a cabeça”. “Criaram
páginas de apoio. São mais de 35 mil pessoas me dando força, enviando
mensagens, até gente de outros países. Inclusive, outras pessoas que passaram
por situação parecida dão o seu depoimento. Do mesmo jeito que tem gente me
criticando, tem gente me apoiando”.
Foto: Reprodução
Vídeos
Nos vídeos divulgados em mensagens de
celular e na web, é possível ver a estudante em atos sexuais. O caso ganhou
repercussão e virou meme [termo usado para frases, imagens e vídeos que se
disseminam na internet de forma viral] nas redes sociais.
As gravações se propagaram rapidamente
pelo aplicativo de celular. Em um dos vídeos, a jovem aparece fazendo um sinal
de 'OK'. O símbolo virou piada nas redes, com montagens de políticos. Fotos de
celebridades fazendo o sinal de OK também começaram a ser usadas pelos
internautas. No entanto, algumas imagens teriam sido tiradas antes da polêmica
e não se referem ao caso.
A estudante conta que ficou sabendo do
vídeo por uma amiga, no dia 3 de outubro, enquanto trabalhava. “A primeira
coisa que eu fiz foi ligar pra ele [suspeito]. Ele negou e disse que ia me
ajudar a descobrir quem foi”.
No entanto, para a estudante, não há dúvida
de que foi o ex quem divulgou, pois há anos era a única pessoa com quem se
relacionava e com quem já tinha gravado vídeos íntimos. “As imagens ficavam
dentro de uma pasta no celular, que fica dentro de outra. Para entrar nas duas
é preciso de senha que só ele sabe”, ressalta.
A garota lembra que o vídeo já tinha se
espalhado quando ela teve conhecimento: “Eu só chorava”. Ela afirma que no dia
seguinte procurou a delegacia para registrar a ocorrência.
“Meu celular resetava de tantas ligações.
Meu Whatsapp [aplicativo de celular para envio de mensagem] parecia uma
calculadora, não parava de somar, foram mais de 4 mil mensagens de
desconhecidos com DDD do país inteiro. Não respondi ninguém. Também tive que
excluir minha conta no Facebook”, declara a estudante.
Punição
Apesar de um inquérito policial estar em
andamento, a jovem acredita que o suspeito de divulgar as imagens não será
punido. “Não tem punição para este tipo de crime, não tem uma lei que enquadre
ele. Ele até pode ser considerado culpado, mas não vai ficar preso. Ele nunca
vai conseguir pagar pelo mal que me fez”.
Ao prestar depoimento, o suspeito negou as
acusações. A Polícia Civil ainda ouve testemunhas do caso. A delegada
responsável pelas investigações, Ana Elisa Gomes Martins, não quis divulgar o
conteúdo dos depoimentos "para não atrapalhar as investigações".
Também é feita uma perícia no celular da estudante.
Para a estudante, além de uma legislação
sobre crimes virtuais, é preciso criar uma delegacia especializada. "O
assunto é novo. Peritos e policiais não são especializados neste tipo de
análise", afirma a jovem.
Fonte: Paula Resende | Do G1 GO
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