sábado, 26 de outubro de 2013

MP pressionado a reabrir inquérito civil contra agentes públicos no caso Kiss

Investigações da Polícia Civil motivam pedido para novos processos contra servidores

MP pressionado a reabrir inquérito civil contra agentes públicos no caso Kiss Claudio Vaz/Agencia RBS
Familiares de vítimas do incêndio na boate Kiss iniciaram vigília em frente à sede do MP em Santa MariaFoto: Claudio Vaz / Agencia RBS

Um clima de esperança, alimentado dia a dia com pressão em relação a autoridades, envolve familiares de vítimas da boate Kiss, em Santa Maria, nove meses após a tragédia. A expectativa é de que novas investigações realizadas pela Polícia Civil possam resultar na responsabilização de servidores públicos municipais.


Para pressionar a cúpula do Ministério Público a reabrir o inquérito civil contra agentes públicos, familiares de vítimas e de sobreviventes fazem vigília no prédio da instituição e estão promovendo um abaixo-assinado. É certo que, nos dois inquéritos da polícia (veja abaixo), haverá mais indiciados. Mas não há garantia de que o MP mude o entendimento que teve quando não denunciou criminalmente servidores da prefeitura e pediu o arquivamento das suspeitas de improbidade administrativa.

A polícia está fazendo uma minuciosa cronologia de documentos necessários para que a boate funcionasse e contrapondo os dados com o que dizem as leis sobre atribuições de agentes públicos em cada caso. Por enquanto, a investigação aponta que, em mais de um momento, a prefeitura teve elementos para fechar o estabelecimento e não o fez.

O MP aguarda o fim dos inquéritos, ainda sem prazo para serem concluídos. Quando formularam a denúncia criminal, promotores já haviam se debruçado sobre o trâmite de expedição de documentos pela prefeitura, verificando o teor de leis e de decretos. No inquérito civil, os mesmos temas foram analisados.

— Encontramos procedimentos irregulares. Mas nada que sustentasse a responsabilização. Há itens dos alvarás que não têm relação com o fogo. O alvará sanitário dita determinadas regras. Uma delas, por exemplo, é sobre o tipo de lixeira que deve existir nos banheiros. Existindo ou não as lixeiras nos banheiros da Kiss, isso não interferiria no que aconteceu lá — ressalta o promotor Maurício Trevisan.

Representante da associação das vítimas, o advogado Luiz Fernando Smaniotto acredita em novidades que podem modificar o rumo do caso:

— As investigações mostram que, por 11 vezes, a prefeitura disse à boate que ela estava irregular. Queremos saber por que o agente público não foi até o fim em sua função, que não é só a de multar, mas de fechar também. Há indício de improbidade. Como o MP disse que os agentes públicos não violaram lei alguma?

Os próximos passos no MP

Documentos reunidos pela polícia nos novos inquéritos foram levados pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria, em setembro, para membros do Conselho Superior do MP com pedido para revisão do caso. O conselho remeteu os papéis para análise dos promotores em Santa Maria.

Familiares de vítimas do incêndio na Kiss estão produzindo um abaixo-assinado para exigir que os novos documentos sejam avaliados por outros promotores. Não querem a atuação dos mesmos que já opinaram pelo arquivamento do inquérito contra agentes públicos.

— A boate nunca esteve com todos os documentos exigidos por lei em dia. Como podia estar aberta? — questiona Walter Cabistani, diretor jurídico da associação de familiares.

A partir da análise dos documentos, os promotores podem reabrir o caso contra os servidores públicos. Se opinarem pelo arquivamento novamente, o inquérito volta à apreciação do Conselho Superior. Se rejeitar o arquivamento, o conselho pode designar outros promotores para dar andamento ao caso.

AÇÕES NA JUSTIÇA

— Após as investigações da Polícia Civil, do Ministério Público e da Brigada Militar sobre a maior tragédia gaúcha, 16 pessoas — incluindo os sócios da casa noturna e bombeiros — se tornaram réus.

— Os processos correm nas esferas criminal, cível e militar.

OS NOVOS INQUÉRITOS

— Supostas fraudes no Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) e laudo acústico da Kiss - Apura possível fraude na elaboração dos documentos, aceitação deles pela prefeitura e emissão de alvarás em desconformidade com a legislação.

— Suposto crime ambiental - Investiga se houve crime ambiental (poluição sonora e descarte indevido de resíduos, por exemplo) pela casa noturna e possível omissão por parte da prefeitura de Santa Maria.

Fonte: Adriana Irion | ZERO HORA

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