sexta-feira, 22 de junho de 2012

Manifestação contra julgamento de Lugo cerca Congresso paraguaio

Presidente terá 2 horas para defesa e pode ter mandato cassado à tarde.
Parlamentares o acusam de ser responsável por 17 mortes em confronto.
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, faz pronunciamento nesta quinta-feira (21) no palácio do governo, em Assunção, sobre o processo de impeachment (Foto: AFP)
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, fez pronunciamento nesta quinta-feira (21) no palácio do governo, em Assunção, sobre o processo de impeachment (Foto: AFP)


     O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, pode ter o mandato cassado nesta sexta-feira (22). Na quinta-feira (21), O Congresso aprovou a abertura de um processo de impeachment contra Lugo, sob acusação de mau desempenho das funções e de ser responsável por uma operação policial que terminou com 17 mortos, entre policiais e integrantes de movimentos sociais, na semana passada.

      Conforme relato do enviado da TV Globo a Assunção, José Roberto Burnier, o clima está tenso nesta sexta-feira na praça em frente ao Congresso. Centenas de pessoas que integram movimentos sociais, sem-terra, camponeses e moradores da capital se aglomeram no entorno do prédio, que está cercado por 4 mil militares.

     “Os manifestantes passaram a noite em vigília de apoio a Lugo e, a todo o momento, gritam palavras de ordem, chamando de ‘golpe de estado’ o rito sumário de julgamento político ao qual Lugo está sendo submetido”, relatou Burnier.

     O processo de impeachment correu em uma velocidade muito rápida. A votação foi realizada na Câmara na manhã de quinta-feira e até mesmo parlamentares que integravam partidos da coalizão do governo votaram contra Lugo. À tarde, o Senado definiu as regras do processo. A votação sobre se o presidente poderá ou não permanecer no poder será realizada às 17h30 desta sexta-feira (horário de Brasília).

     No início da tarde, Lugo terá duas horas para fazer sua defesa. Ele havia pedido 3 dias ao congresso para se defender, mas o prazo lhe dado foi de 24 horas. O governo é minoria e não possui apoio do Congresso.

     O presidente afirmou que não vai renunciar e enfrentar julgamento político.

     "Estamos aqui para protestar contra esse julgamento do nosso presidente, um representante genuíno do povo", gritava Manuel Martinez, um manifestante que se dizia ser um dos coordenadores da manifestação.

Negociações com Unasul


     Durante a madrugada desta sexta-feira, uma comitiva liderada pelo ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, chegou a Assunção com diplomatas dos países membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para negociar o caso.

     Os ministros viajaram de emergência procedentes do Rio de Janeiro, onde participavam da cúpula do desenvolvimento sustentável Rio+20. Ao chegar ao Paraguai, a comitiva seguiu do aeroporto de Assunção direto para a residência oficial de Lugo. Além de Patriota, integram o grupo os chanceleres Héctor Timerman (Argentina), Luis Almagro (Uruguai), Alfredo Moreno (Chile), Nicolás Maduro (Venezuela), Rafael Roncagliolo (Peru), Ricardo Patiño (Equador) e María Angela Olguín (Colômbia), além da ministra de Desenvolvimento Rural da Bolívia, Nemesia Achacollo, e o secretário-geral da Unasul, Ali Rodríguez.

     Lugo é acusado "de mau desempenho de suas funções em razão de ter exercido o cargo de maneira imprópria, negligente e irresponsável, trazendo o caos e a instabilidade política a toda a República".

Entenda o caso

     A origem do pedido de impeachment promovido pela Câmara dos Deputados foi a morte de 11 trabalhadores sem-terra e de 6 policiais em um confronto armado na sexta-feira passada, em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção, durante a desocupação de uma fazenda.

     "O mau desempenho de suas funções aparece em sua atitude de desprezo pelo direito e pelas instituições republicanas, minando os cimentos do Estado Social de Direito proclamado em nossa Carta Magna", afirma a ata de acusação.

     Em um processo relâmpago, Lugo terá menos de 24 horas para preparar sua defesa, e a destituição poderá ocorrer já na tarde desta sexta, após votação no Senado.

     Diante do risco de conflito, os bispos católicos do Paraguai pediram ao presidente Lugo que renuncie ao cargo "pelo bem do país" e evite atos de violência.

     "Falamos com muita sinceridade e franqueza para pedir que ele renuncie ao cargo e acabe com esta tensão", disse à imprensa o bispo Claudio Giménez, secretário-geral da Conferência Episcopal Paraguaia (CEP), após se encontrar com Lugo, um ex-bispo católico.

Fonte: Do G1, com agências internacionais

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