Incidente, que terminou em tiroteio, ocorreu durante uma tentativa da polícia de expulsar 150 camponeses que invadiram uma reserva florestal. Sete policiais e dez sem-terra morreram
Corpo de policial paraguaio morto é carregado por colegas. Confronto entre sem-terra e polícia deixou 17 mortos
Sete policiais e dez camponeses morreram e 27 agentes de segurança ficaram feridos em um tiroteio que aconteceu nesta sexta-feira (15) no interior do Paraguai, durante uma tentativa da polícia de expulsar 150 camponeses sem-terra que invadiram uma reserva florestal em Curuguaty, 400 quilômetros ao norte de Assunção, capital paraguaia. O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, leu na capital um comunicado sobre a violência. "Expresso meu grande pesar e repúdio aos fatos que conduziram à morte de pessoas", disse Lugo. "Manifesto o mais firme apoio às forças da ordem que se desempenham na defesa e preservação da lei", afirmou o mandatário.
Lugo, que não aceitou perguntas da imprensa, disse que enviou as Forças Armadas para Curuguaty, onde os militares deverão apoiar as ações policiais. O ministro do Interior, Carlos Filizzola, confirmou que 10 camponeses foram mortos em um combate contra policiais.
O comissário de polícia Walter Gómez, chefe de investigações policiais em Curuguaty, disse à emissora de rádio Cardinal de Assunção que o tiroteio continua na reserva florestal. "Os invasores não querem se render, então teremos que continuar até controlar a situação", disse Gómez.
A reserva florestal, de dois mil hectares, fica dentro da fazenda Morumbi, propriedade do ex-senador paraguaio Blas Riquelme, do Partido Colorado (oposição).
"Há vinte anos declaramos o bosque como reserva florestal, mas desde o ano passado os sem-terra insistem em se instalar nela. Os fiscais Miguel Rojas e Ninfa Aguilar ordenaram o despejo meses atrás, mas a polícia não cumpriu o mandado judicial porque primeiro tentou uma saída pacífica dos invasores", disse José Riquelme, filho do proprietário.
Héctor Cristaldo, presidente da Coordenação Agrícola do Paraguai entidade patronal do agronegócio, disse que o governo "foi muito brando, nos últimos três anos, com os invasores de propriedades privadas. Inclusive, quando há alguns meses os sem-terra invadiram uma fazenda de soja no departamento do Alto Paraná, o presidente Lugo os ajudou com alimentos, médicos, enfermeiras e instalou escolas móveis no local. Isso não foi correto", opinou Cristaldo.
José Rodríguez, considerado assessor dos invasores, comentou: "Lugo não pode solucionar um problema social grave, que é a recuperação das terras do Estado, adquiridas há décadas por pessoas não sujeitas à reforma agrária, como Riquelme. Vivemos uma situação séria no Paraguai e ela ficará pior porque os pobres precisam de um pedaço de terra". Ele disse que os sem-terra resistiram à polícia apenas com revólveres de calibre 22.
Lugo está a doze meses do final do seu mandato e não cumpriu uma das suas promessas, a reforma agrária para 87 mil famílias camponesas pobres. O governo não pôde comprar terras por falta de dinheiro no orçamento, ante a ausência de terras do Estado para alojar os camponeses sem-terra.
Fonte: Gazeta do Povo, com informações da Associated Press.
Nenhum comentário:
Postar um comentário