Conferência da Organização das Nações Unidas debate desenvolvimento sustentável
Evento paralelo à Rio+20, o Humanidade 2012, no Forte de Copacabana, já recebia visitantes na terça-feiraFoto: Pedro Kirilos / Agência O Globo
Vinte anos se passaram e muito pouco aconteceu desde que George Bush pai, François Mitterrand e outros líderes mundiais tomaram a orla carioca para discutir os rumos do planeta. A ponto de a Rio+20, a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre desenvolvimento sustentável, ser considerada um recomeço até por quem ajuda a organizá-la.
— É um ponto de partida, e não de chegada — admite a ZH o italiano Giancarlo Summa, diretor do Centro de Informação das Nações Unidas (UNIC-Rio).
Marcada para se iniciar nesta quarta-feira – apesar de a cúpula com os chefes de Estado ocorrer apenas entre os dias 20 e 22 –, a Rio+20 esbarra em dificuldades para aprovar um documento com metas e compromissos. Por isso, cresce a importância da esfera não-governamental, com a sociedade civil e a iniciativa privada.
Para o especialista em sustentabilidade Eduardo Felipe Matias, doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre pela Universidade de Paris, o sucesso estará na massificação de conceitos como a economia verde.
Significa abrir os olhos para o desenvolvimento fundamentado em uso consciente de recursos naturais e inclusão social.
Até porque 78% da população brasileira sequer sabe o que é a Rio+20, segundo pesquisa. E, conforme dados da ONG WWF, o homem consome, a cada ano, um planeta e meio em recursos.
— Nós extrapolamos. Mas a sociedade civil e as empresas têm um papel importante a cumprir — explica Matias.
Crise afetará o debate
A boa notícia é que essa virada já sai do papel. A fazenda Quinta da Estância, de Viamão (RS), aparecerá em uma publicação do Escritório Regional da ONU na América Latina graças às práticas de gestão sustentável em turismo.
Diretor para relacionamento com o mercado, Rafael Goelzer fará parte de debates na Rio+20 sobre temas como energia e educação corporativa. Antes de embarcar, esbanjava otimismo.
— Temos muito a contribuir. Quando se envolve em um movimento deste nível, tem de se pensar mais em ajudar em vez do que se vai ganhar — diz.
Goelzer lembra que adequar-se à sustentabilidade representa um passo à frente, além de não depender dos ainda tímidos incentivos oficiais. Um deles veio no anúncio da presidente Dilma Rousseff de priorizar em licitações públicas produtos com matriz sustentável. Mas é provável que ela não tenha a mesma satisfação ao final da cúpula com chefes de Estado.
A Rio+20 começará sob ressaca do G-20, marcada para segunda e terça-feira, no México. Os líderes mundiais voarão ao Brasil pautados pela crise econômica europeia. Para Matias, será impossível haver consenso em torno de um tratado internacional.
— Os países jogam mais na retranca. Ficam preocupados em não assumir compromissos – confidencia uma fonte envolvida na organização da Rio+20.
Mas o italiano Summa prefere mirar o futuro:
— O desenvolvimento sustentável veio para ficar. Vai definir como funcionará a economia mundial.
Confira os temas pré-definidos para debate
pela Organização das Nações Unidas:
Empregos via economia verde
A economia verde inclui vários níveis de qualificação: desde um catador que tira seu sustento do lixo até um cientista. Estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que, nos próximos 20 anos, a economia verde levará à criação de até 60 milhões de novos empregos no mundo. No Brasil, o estudo diz que já se criaram 3 milhões de empregos “verdes”.
Acesso à energia eficaz e limpa
Apesar de as tecnologias limpas ainda serem caras, o Brasil valoriza fontes alternativas. A escolha ainda está com empresários e governantes, mas a tendência é de que, em pouco tempo, o consumidor possa assumir esse papel, afirma o professor na Escola de Administração da UFRGS e coordenador do Grupo de Pesquisa em Sustentabilidade e Inovação, Luis Felipe Nascimento.
Cidades sustentáveis
Encontrar tecnologias sociais de participação que envolvam os cidadãos a ter uma visão integrada no espaço urbano. Segundo o geólogo e doutor na área de Ecologia de Paisagem Rualdo Menegat, essa é uma mudança que passa pela gestão cultural das cidades. A redução da “pegada ecológica” é outro ponto que deve ser destaque, o que significa baixar o consumo e diminuir o lixo
Segurança alimentar
O tema promove e amplia o debate pelo alimento justo, limpo e saudável. A Rio+20 colocará a produção local contra as grandes cadeias produtivas de escala global, passando pelo combate à fome no mundo. Na visão dos mais preservacionistas, as cidades devem produzir seus alimentos com segurança alimentar, ou seja, servindo-se de alimentos orgânicos, locais.
Acesso à água e às instalações sanitárias
Dois milhões de pessoas, a maioria crianças, morrem anualmente por doenças causadas pelo consumo de água não potável e pela falta de instalações sanitárias. Além disso, 884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável de qualidade e mais de 2,6 bilhões não dispõem de infraestrutura básica. O acesso à água potável e limpa e às instalações sanitárias é um direito humano.
Gestão sustentável dos oceanos
Entre os problemas mais sérios estão a pesca predatória e destrutiva, a perda de biodiversidade e a extinção de espécies. Desafios que incluem a delimitação marítima, a aplicação de leis, a gestão integrada de oceanos e mares, a vulnerabilidade ambiental e os crimes no mar também estarão em pauta. Segundo Luis Felipe Nascimento, da UFRGS, haverá boa contribuição nos eventos paralelos.
Prevenção de catástrofes naturais
O crescimento das cidades torna-as mais vulneráveis a ocorrência de catástrofes climáticas. Quanto maiores são os centros urbanos, mais riscos eles correm de serem alvo de problemas ambientais. Já que não se pode impedi-los, a saída seria desenvolver uma cultura de prevenção e ação.
— Quando a sociedade está preparada, o processo de reconstrução é mais rápido. Temos como exemplo o que houve com o Japão, em 2011. Eles são muito preparados — explica o professor Rualdo Menegat.
— É um ponto de partida, e não de chegada — admite a ZH o italiano Giancarlo Summa, diretor do Centro de Informação das Nações Unidas (UNIC-Rio).
Marcada para se iniciar nesta quarta-feira – apesar de a cúpula com os chefes de Estado ocorrer apenas entre os dias 20 e 22 –, a Rio+20 esbarra em dificuldades para aprovar um documento com metas e compromissos. Por isso, cresce a importância da esfera não-governamental, com a sociedade civil e a iniciativa privada.
Para o especialista em sustentabilidade Eduardo Felipe Matias, doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre pela Universidade de Paris, o sucesso estará na massificação de conceitos como a economia verde.
Significa abrir os olhos para o desenvolvimento fundamentado em uso consciente de recursos naturais e inclusão social.
Até porque 78% da população brasileira sequer sabe o que é a Rio+20, segundo pesquisa. E, conforme dados da ONG WWF, o homem consome, a cada ano, um planeta e meio em recursos.
— Nós extrapolamos. Mas a sociedade civil e as empresas têm um papel importante a cumprir — explica Matias.
Crise afetará o debate
A boa notícia é que essa virada já sai do papel. A fazenda Quinta da Estância, de Viamão (RS), aparecerá em uma publicação do Escritório Regional da ONU na América Latina graças às práticas de gestão sustentável em turismo.
Diretor para relacionamento com o mercado, Rafael Goelzer fará parte de debates na Rio+20 sobre temas como energia e educação corporativa. Antes de embarcar, esbanjava otimismo.
— Temos muito a contribuir. Quando se envolve em um movimento deste nível, tem de se pensar mais em ajudar em vez do que se vai ganhar — diz.
Goelzer lembra que adequar-se à sustentabilidade representa um passo à frente, além de não depender dos ainda tímidos incentivos oficiais. Um deles veio no anúncio da presidente Dilma Rousseff de priorizar em licitações públicas produtos com matriz sustentável. Mas é provável que ela não tenha a mesma satisfação ao final da cúpula com chefes de Estado.
A Rio+20 começará sob ressaca do G-20, marcada para segunda e terça-feira, no México. Os líderes mundiais voarão ao Brasil pautados pela crise econômica europeia. Para Matias, será impossível haver consenso em torno de um tratado internacional.
— Os países jogam mais na retranca. Ficam preocupados em não assumir compromissos – confidencia uma fonte envolvida na organização da Rio+20.
Mas o italiano Summa prefere mirar o futuro:
— O desenvolvimento sustentável veio para ficar. Vai definir como funcionará a economia mundial.
Confira os temas pré-definidos para debate
pela Organização das Nações Unidas:
Empregos via economia verde
A economia verde inclui vários níveis de qualificação: desde um catador que tira seu sustento do lixo até um cientista. Estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que, nos próximos 20 anos, a economia verde levará à criação de até 60 milhões de novos empregos no mundo. No Brasil, o estudo diz que já se criaram 3 milhões de empregos “verdes”.
Acesso à energia eficaz e limpa
Apesar de as tecnologias limpas ainda serem caras, o Brasil valoriza fontes alternativas. A escolha ainda está com empresários e governantes, mas a tendência é de que, em pouco tempo, o consumidor possa assumir esse papel, afirma o professor na Escola de Administração da UFRGS e coordenador do Grupo de Pesquisa em Sustentabilidade e Inovação, Luis Felipe Nascimento.
Cidades sustentáveis
Encontrar tecnologias sociais de participação que envolvam os cidadãos a ter uma visão integrada no espaço urbano. Segundo o geólogo e doutor na área de Ecologia de Paisagem Rualdo Menegat, essa é uma mudança que passa pela gestão cultural das cidades. A redução da “pegada ecológica” é outro ponto que deve ser destaque, o que significa baixar o consumo e diminuir o lixo
Segurança alimentar
O tema promove e amplia o debate pelo alimento justo, limpo e saudável. A Rio+20 colocará a produção local contra as grandes cadeias produtivas de escala global, passando pelo combate à fome no mundo. Na visão dos mais preservacionistas, as cidades devem produzir seus alimentos com segurança alimentar, ou seja, servindo-se de alimentos orgânicos, locais.
Acesso à água e às instalações sanitárias
Dois milhões de pessoas, a maioria crianças, morrem anualmente por doenças causadas pelo consumo de água não potável e pela falta de instalações sanitárias. Além disso, 884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável de qualidade e mais de 2,6 bilhões não dispõem de infraestrutura básica. O acesso à água potável e limpa e às instalações sanitárias é um direito humano.
Gestão sustentável dos oceanos
Entre os problemas mais sérios estão a pesca predatória e destrutiva, a perda de biodiversidade e a extinção de espécies. Desafios que incluem a delimitação marítima, a aplicação de leis, a gestão integrada de oceanos e mares, a vulnerabilidade ambiental e os crimes no mar também estarão em pauta. Segundo Luis Felipe Nascimento, da UFRGS, haverá boa contribuição nos eventos paralelos.
Prevenção de catástrofes naturais
O crescimento das cidades torna-as mais vulneráveis a ocorrência de catástrofes climáticas. Quanto maiores são os centros urbanos, mais riscos eles correm de serem alvo de problemas ambientais. Já que não se pode impedi-los, a saída seria desenvolver uma cultura de prevenção e ação.
— Quando a sociedade está preparada, o processo de reconstrução é mais rápido. Temos como exemplo o que houve com o Japão, em 2011. Eles são muito preparados — explica o professor Rualdo Menegat.
Fonte: Carlos Ferreira / ZERO HORA
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