quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Cássia Eller morreu há 10 anos e se tornou a voz de uma geração

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     O chefe da seção do Ministério da Agricultura percebeu que havia algo de errado com aquela substituta. Onde já se viu, demorar duas horas para redigir uma carta em uma máquina elétrica? Estamos em Brasília, em 1983. O encarregado não teve dúvidas: “Pega seu violão, minha filha, e vai embora”. A moça aceitou o conselho resolveu prosseguir fazendo o que mais gostava: cantar. E Cássia Eller, 21 anos à época, seguiu sua carreira na música. Tornou-se uma das mais vigoras vozes da música popular brasileira. Hoje, faz dez anos que ela partiu, justamente, no melhor momento de sua carreira.
     Para o réveillon de 2002, em Recife, estava programado um encontro de gerações do rock brasileiro: Cássia Eller e Rita Lee. A morte, aos 39 anos, uma trajetória ascendente: em 2001, Cássia Eller havia feito 95 shows e faturara quase 1 milhão de reais.
     Duas semanas antes de morrer, em uma entrevista à revista Isto É Gente, Cássia Eller comentava a mudança de sua vida. “Ainda estou meio na onda do susto, não me acostumei. Lógico que é bom, mas até hoje me assusto quando vou a um lugar aberto e tem 30 mil pessoas me vendo. Não era assim até o ano passado comigo. Suava para botar mil pessoas num lugar”.
     Mas não foi nada fácil chegar aonde ela chegou. Filha de militar, e carioca radicada em Brasília, Cássia entrou para o grupo de samba do Batalhão da Guarda Municipal. Devido à indisciplina, foi rebaixada de crooner a tocadora de surdo.
     Cantou no trio elétrico Massa Real, tentou ópera durante dois anos  e topou gravar canções romântico-bregas para uma gravadora que queria uma nova Rosana no mercado. Mas não deu certo. “Meu estilo era muito antiglamour, e eu não conseguia mentir para as pessoas posando de arrumadinha”.
     O início da profissionalização foi aos 18 anos, em um espetáculo do cantor Oswaldo Montenegro. O mais interessante: no começo da carreira, Cássia Eller odiava rock. E olhe que ela morava em Brasília, no auge do Legião Urbana! Só aceitou responder um anúncio que procurava uma vocalista de grupo por razões não muito nobres: “Só topei porque era a moda da época e precisava muito da grana”.

Uma trajetória explosiva

     O fato de 2001 ter sido, além do ano de sua morte, o momento mais importante da carreira de Cássia Eller, se deve, provavelmente, a uma sequência de álbuns bem realizados. Acrescente-se a isto, a apresentação apoteótica no Rock in Rio - com direito até à exibição dos seios.
     Em 1996, Cássia fez um balanço da carreira, cujo primeiro disco, que levava o seu nome, fora lançado em 1990. Cássia Eller ao Vivo é seu terceiro disco e compila hits como “E.T.C”, de um dos seus compositores favoritos, Nando Reis; “Malandragem”, da dupla Frejat e Cazuza - a quem ela dedicaria um disco tributo, Veneno Antimonotonia (1997).
     Em Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo (1999), Nando era o produtor do disco, e forneceu o  hit “O segundo sol”. Destacam-se também regravações de primeira linha como “Gatas extraordinárias”, de Caetano Veloso.  
     O seu último trabalho em vida,  Acústico MTV (2001) é uma verdadeira súmula do que foi a trajetória musical de Cássia. É neste disco que estão interpretações antológicas  como  “Relicário”, do velho amigo Nando Reis. Há releituras espetaculares como “Partido alto”, de Chico Buarque, “Vá morar com o diabo”, samba de Riachão. Antológico é o cover matador que ela faz de Edit Piaf: “Non, je ne regrette rien”. Não poderia faltar, neste verdadeiro testamento musical, os Beatles, grande influência de Cássia Eller. Ela canta  “Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band”, numa visceral interpretação.

 Fonte: Astier Basílio / Correio da Paraíba

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