quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Gilmar: não há impedimento para réu em ação penal assumir Presidência, se eleito

Ministro Celso de Mello e Marco Aurélio afirmaram na semana passada que questão está em aberto

   Foto: Carlos Humberto / SCO / STF / CP Memória

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse, na tarde desta quarta-feira, que não há impedimento para um candidato à Presidência da República – que seja réu em ação penal – assumir o cargo, caso seja eleito. Na semana passada, os ministros Celso de Mello e Marco Aurélio Mello, do STF, afirmaram que a questão ainda está em aberto.

“Eu acho que vocês estão muito assanhados com essa coisa de querer que um juiz defina questões que passam pelo processo democrático. O que a Constituição diz é que o presidente da República não poderá, depois de recebida a denúncia, continuar no cargo. Só isso. Qualquer outra situação é um devaneio”, disse Gilmar Mendes a jornalistas, ao chegar para a sessão plenária do STF.

Em dezembro de 2016, ao julgar o afastamento de Renan Calheiros (MDB-AL) do comando do Senado, o STF firmou o entendimento de que réus em ação penal não podem eventualmente substituir o presidente da República (como no caso dos presidentes da Câmara e do Senado, que estão na linha sucessória). A Suprema Corte, no entanto, ainda não firmou entendimento sobre a possibilidade de um candidato – réu em ação penal – ser eleito especificamente para a Presidência da República e assumir o comando do Planalto.

“Você imagine que amanhã as pessoas comecem a ‘Ah, vamos entrar com ação contra fulano’. Judicializando isso tudo, vocês vão entregar o poder a quem? Como há um igualitarismo, vale para todo mundo. Vamos conseguir um impedimento para todos – vamos chamar um promotor e vamos produzir uma ação contra um Fulaninho. Aí um juiz deixa a caneta cair, recebeu a denúncia e então agora pode ser um impedimento. Aí vamos impedir para governador também, para prefeito… Estamos brincando. Será que a gente não desconfia que estamos, na verdade, sendo desautorizados? Vamos pensar responsavelmente”, criticou o ministro.

Para Marco Aurélio, a dúvida em torno da questão gera “insegurança” para a candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSL), que já é réu em duas ações penais no STF por injúria e incitação ao crime de estupro.

Na última terça-feira, a Primeira Turma do STF se dividiu sobre o recebimento de uma outra denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro, dessa vez por racismo.O julgamento está empatado em 2 votos a favor do recebimento da denúncia e 2 contra, faltando apenas o voto de Alexandre de Moraes, que pediu vista (mais tempo para análise) para definir o resultado.

Sem comentar nenhum caso específico, Gilmar Mendes afirmou que há um abuso na judicialização. Ele também comentou a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado na Operação Lava Jato. O petista espera no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o julgamento do pedido de registro, que é alvo de 16 contestações. Indagado se os índices de intenção de voto de Lula em pesquisas eleitorais podem ser um sinal da desmoralização da Justiça, Gilmar respondeu: “O resultado é esse: a vitimização. As pessoas passam a entender que está havendo absurdos, abuso. É isso. Enquanto ele andava com essa caravana e não sei o que aí, ele tinha 25% (nas pesquisas). Agora, não. Tá preso em Curitiba, vitimizado”.

E prosseguiu: “Não estamos percebendo isso, que estamos tentando interferir demais na política? Será que nós somos tolos? É um quadro realmente sem noção. Mas sem noção vocês (dirigindo-se a repórteres), sem noção nós, sem noção juízes e promotores.” E prosseguiu: “Estou dizendo que nesse contexto nós criamos hoje um mártir e agora estamos querendo produzir mais. (…) E aí, descobrimos: o Brasil não pode ter presidente – vai se buscar onde?”, indagou Gilmar Mendes.

Bolsonaro sustenta que ser réu não o impede de disputar eleição

Também hoje, o deputado e candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL-RJ) enviou a defesa contra a manifestação de um advogado que pede ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que negue o registro dele, por ser réu em ações penais em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). Para o político, isso em nada o impede de concorrer e mesmo de assumir o cargo, caso vença a eleição.

O advogado Rodrigo Phanardzis Âncora da Luz, autor da notícia de inelegibilidade, argumentou ao TSE que a Constituição prevê o afastamento do presidente por 180 dias caso ele se torne réu, motivo pelo qual alguém que já tenha esse status jurídico não pode assumir a Presidência, se eleito.

Para a defesa de Bolsonaro, o mesmo entendimento não pode ser aplicado ao vencedor de uma eleição majoritária, porque este se encontra coberto pela “expressão máxima da soberania popular”, diferentemente daqueles que eventualmente figurem na linha sucessória. E, por essa razão, sustenta que, para o afastamento do presidente, é necessário um complexo processo de anuência pela Câmara dos Deputados e pelo próprio Supremo.

A defesa ressaltou ainda que os crimes dos quais o deputado é acusado no STF – injúria e apologia ao estupro – não estão incluídos no rol previsto pela Lei da Ficha Limpa, e que, mesmo condenado, ele não se torna inelegível.

Bolsonaro é alvo ainda de uma segunda notícia de inelegibilidade protocolada por outro advogado, sob o argumento de que o candidato violou a legislação eleitoral ao pedir votos em um templo religioso no Rio.

O vice-procurador-geral-eleitoral Humberto Jacques só vai emitir parecer, em ambos os casos após as manifestações da defesa. O relator do registro de candidatura de Bolsonaro é o ministro Napoleão Nunes Maia.

A previsão é de que o TSE julgue todos os pedidos de registro de candidatura até o dia 17 de setembro. Até o momento, nove já foram aprovados: Vera Lúcia (PSTU); Cabo Daciolo (Patriota); Guilherme Boulos (PSOL); João Amoêdo (Novo); Marina Silva (Rede); Ciro Gomes (PDT); Álvaro Dias (Podemos); Henrique Meirelles (MDB) e João Goulart Filho (PPL). Seguem pendentes os recursos de Lula, Bolsonaro, Eymael (DC) e Geraldo Alckmin (PSDB).


Fonte: Agência Brasil e AE
Rádio Guaíba

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