Repercute a manifestação
feita pelo deputado estadual Álvaro Boessio, líder do PMDB na Assembleia
Legislativa. Ele deu uma declaração polêmica à estação Spaço FM, de
Farroupilha, na Serra gaúcha, afirmando que muitos funcionários públicos são
"vadios".
Um servidor público de Passo Fundo
apresentou uma nota sobre a manifestação. A nota é assinada por Edir
Paulo Lemos Godinho, oficial escrevente do Juizado Especial Cível (JEC).
Confira
o conteúdo do texto encaminhado aos meios de comunicação:
"Um minuto de silêncio
Um Deputado chamou os funcionários públicos
de “vadios”. Não todos, ainda disse, mas a maior parte. E eu vou falar sobre
isso.
Caro Deputado, vossa Excelência errou o
alvo. Os vadios estão aí ao seu redor. Vadio para mim é aquele que, embora
tendo um nível de vida muito bom, quando eleito promove falcatruas, como está
se vendo agora. Vadio é aquele que viaja, come, bebe, mora (muito bem, por
sinal), à custa do povo que o elegeu. Vadio é aquele que, tendo o Poder nas
mãos, nada faz pelo povo, pela massa que é obrigada a votar e eleger gente
dessa estirpe.
Nós, os ditos vadios, temos o salário
parcelado, Vossas Excelências não. Nós, os vadios, quando queremos viajar
pagamos a passagem, quando saímos de carro pagamos de nosso bolso o
combustível, quando comemos fora pagamos nossa despesa, não temos verba para
nada disso, nem temos assessores para fazer o nosso trabalho. Ou vadiar por
nós, como disse Vossa Excelência.
Se bem me lembro, uma das funções do
Legislativo é fiscalizar os atos do Executivo. Que eu saiba, a situação atual
não surgiu do dia para a noite, vem de longe... Acho então que posso dizer que os
Deputados “vadiaram” e deixaram os sucessivos Governos do Estado agir de modo
danoso ao erário, deixaram que acontecessem coisas que destruíram a nossa
economia, fecharam os olhos a maus negócios e medidas que corroeram o Tesouro e
que resultaram no que aí está.
Bem, não tenho a obrigação de ensinar o Pai
Nosso ao vigário. Quero dizer, porém, que nós, os vadios, ingressamos por
concurso público, não somos apaniguados, protegidos, paraquedistas. Isso é uma
prova de lisura e honestidade, palavras pouco conhecidas nos Parlamentos em
todos os níveis. Somos 400 mil, segundo disse Vossa Excelência, mas deveríamos
ser muitos mais, pois a Segurança está em frangalhos. Faça seu trabalho e veja
a situação das polícias civil e militar, especialmente quanto a remuneração,
equipamento e condições de trabalho. A Educação está de joelhos, basta olhar a
situação das escolas estaduais por aí. Da saúde, nem vou falar. Se Vossa
Excelência não sabe, cada servidor público, por falta de pessoal é obrigado a
trabalhar por três. É obrigação sua e de seus pares saber de tudo isso, visto
que possuem verbas para tudo, podem deslocar-se para qualquer lugar a fim de
honrar seus compromissos e cumprir suas obrigações. Sem vadiar.
Por fim, Deputado, quero dizer que não
aceito suas desculpas ou suas justificativas. Eu sei que não sou vadio, nem
meus colegas Servidores Públicos, Aí é que está o que nos diferencia. Eu,
Servidor do Judiciário Estadual, posso lhe dizer: Quem se chama Servidor, seja
do Judiciário, da Segurança Pública, do Magistério, etc, já traz em seu nome a
sua missão: SERVIR. Diferentemente de alguns, muitos, a maioria, posso dizer,
que assumindo um mandato (o que significa estar representando alguém) esquecem
os representados, voltam-se para seus interesses próprios, para seus umbigos,
acham-se os donos do mundo, inatingíveis e intocáveis. Corrompem-se por
migalhas, ignoram a dor da maioria, vivem como reis em meio à miséria. Isso é
vadiagem e vagabundagem, isso é criminoso, isso não poderia acontecer.
Por tudo isso, nesse dia em que se inicia a
Semana da Pátria, rendo ao Senhor e seus companheiros que pensam da mesma forma
a única homenagem adequada: Um minuto de silêncio, pela morte da vergonha na
cara, do Patriotismo e da seriedade, neste estado e no País.
Edir Paulo Lemos Godinho
Oficial Escrevente, JEC de Passo Fundo-RS
Rádio
Planalto | Passo Fundo
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