A madrasta do menino Bernardo
Boldrini, encontrado morto há quatro meses em Frederico Westphalen, na Região
Norte do Rio Grande do Sul, escreveu uma carta à Justiça de dentro da
Penitenciária Feminina de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre,
reclamando das condições da casa prisional.
Graciele Ugulini, presa desde abril,
critica os servidores, pede regalias no local, fala sobre um suposto incêndio e
também diz estar com problemas de saúde. Além disso, solicita transferência para
um presídio da Região Noroeste para ficar mais perto da filha. O documento,
obtido com exclusividade.
O corpo de Bernardo foi localizado no
dia 14 de abril enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen,
a cerca de 80 km de Três Passos, onde ele residia com a família. O menino
estava desaparecido desde 4 de abril. Além de Graciele, o pai da vítima, o
médico Leandro Boldrini, a amiga da Graciele, Edelvania Wirganovicz, e o irmão,
Evandro Wirganovicz, também são réus pelo crime. Os quatro estão detidos e
respondem por homicídio qualificado.
"Além das presas, escuto coisas
do pessoal da guarda, dos funcionários que aqui trabalham. Abrem a porta, olham
para mim e fazem comentários do tipo: 'está acabada mesmo'. E saem rindo. É uma
humilhação sem tamanho", descreve. "As presas das celas ao lado da
minha colocaram fogo nos cobertores e roupas e tentaram jogar na minha cela. A
fumaça ficou a tarde inteira entrando. Fiquei com muita dor no corpo, falta de
ar. Ao respirar, sinto muita dor no pulmão", relata a madrasta do menino
na carta.
A penitenciária foi inaugurada há
três anos. Graciele está em uma cela individual, isolada das demais presas, em
um ambiente sem superlotação, realidade diferente de outros presídios gaúchos,
a maioria com excesso na população carcerária.
"Não tem tomada para uma
televisão, nem para esquentar água para um café. A cela é fria, úmida e não
bate sol. O pátio de receber visitas é um brete, pior que um canil. Não pega um
raio de sol e não tem como caminhar", diz. "Estou ficando doente,
tenho dores de cabeça diariamente, tenho dor na coluna por causa do colchão,
que é um pedaço de espuma. Tenho dores no corpo de tanto frio, por falta de movimentação.
Minha pele está descamando, meus cabelos caindo e não durmo nem cinco horas por
dia", afirma Graciele.
A carta foi analisada pelo juiz da
Comarca de Três Passos, Marcos Luís Agostini, responsável pelo processo. O
magistrado não se convenceu com os argumentos de Graciele e negou o pedido de
transferência.
O psiquiatra forense Rogério Cardoso
também analisou o documento. "O sistema penitenciário tem caracterísitcas.
Mulheres que matam crianças são muito mal vistas, rechaçadas, criticadas e
consideradas 'da pior espécie'. Ela está em um presídio feminino onde muitas
são mães ou serão mães", observa.
O advogado da avó de Bernardo
Boldrini, Marlon Taborda, entende que a carta se trata de uma estratégia de
defesa para tentar transferir a madrasta. "Nos chama a atenção as queixas
que a redatora da carta faz. Ela se faz de vítima, inverte os valores. É um
sentimento que não teve com o próprio menino", diz Taborda.
O advogado que defende Graciele,
Vanderlei Pompeo de Mattos, não quis se manifestar e disse não ter conhecimento
da carta.
G1 RS/Foto: Reprodução
Três Passos News
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