quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Morte de importantes reprodutores impacta mercado da raça crioula

Muitos dos animais faziam parte do time seleto do registro de mérito da ABCCC

CRT Guapo morreu em outubro de 2011 | Foto: Veronica Streliaev

     A raça crioula perdeu nos últimos tempos importantes reprodutores e essas perdas refletem no mercado. A lista de grandes garanhões perdidos nos últimos dois anos soma mais de 20 nomes do registro de mérito da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), entre eles BT Faceiro do Junco, Piraí 1569 do Brazão, BT Apache, San Baldomero Puestero, Santa Elba Comediante, BT Inteiro do Junco, CRT Guapo, BT Lamborguine, Buenacho 04 do HV e Farândola do Itapororó. O número é bastante expressivo diante do tamanho do livro dos animais com mérito, que tem menos de 500 exemplares, muitos também já mortos há algum tempo.

     — Eram garanhões provados, animais que já tinham performance como indivíduos e como pais extremamente comprovados dentro da raça. Eram animais, que apesar de jovens, já tinham filhos começando a campanha com excelente performance. Quando se perde animais desse nível, dessa qualidade, é sempre um baque genético na raça crioula — afirma o técnico da ABCCC, Rodrigo Albuquerque Py.

     A perda se torna ainda maior quando é levada em conta a regra de inseminação da raça. O atual regulamento da ABCCC não permite a utilização de sêmen congelado de cavalos que já morreram.

     — Na verdade, esse é um regulamento novo que a ABCCC implantou e está em fase de testes. A explicação para não abrir de cavalos mortos é de preservar determinada genética para que isso no futuro não venha a prejudicar o mercado de garanhões. É uma forma de preservar essa inseminação e testar. Talvez futuramente vá ser alterado, mas é uma forma de não abrir totalmente no início — explica Py.

     Em março de 2012, a Estância Carapuça, do município de Cristal (RS), perdeu precocemente BT Lamborguine, cavalo que norteava praticamente todo o trabalho da criação, sendo grande campeão da Expointer, pai de uma grande campeã, de uma reservada grande campeã e uma terceira melhor fêmea, além de uma campeã do Freio de Ouro.

     — Era um cavalo novo ainda, tinha um futuro brilhante como reprodutor e pai de cabanha. Pegou bem de surpresa — diz Roberto Crespo, administrador da cabanha. 

     A cabanha estocou 300 doses de sêmen do animal com a esperança de alguma mudança no regulamento.

     — O sêmen está guardado na central. Talvez futuramente, quando a associação quiser mudar as regras, a gente tenha um patrimônio genético para usar ainda — comenta o administrador.

     Enquanto isso é preciso achar novos reprodutores. O mercado da raça já se movimenta nesse sentido, com a tendência de vender garanhões provados, em cotas.

     — Morrem cavalos, consequentemente há uma busca por um número maior de garanhões. Há uma carência no mercado por cavalos bons e provados, então quem tem começa a abrir parte dessa genética para que outros criadores tenham acesso a essa genética — comenta o técnico da ABCCC.

     Na Estância Carapuça, RZ Rodopio da Carapuça, filho de Lamborguine, começa a se destacar. O animal conquistou a quinta colocação no Bocal de Ouro e, há poucos dias, uma filha dele venceu uma prova de doma realizada pelo próprio cabanheiro da estância, que era o companheiro fiel de BT Lamborguine.

     — Creio que os filhos do Rodopio vão surpreender muito também, porque essa égua, a primeira que eu peguei do Rodopio já dá essa alegria para todos nós. Quanto ao Lamborguine, esse não tem igual. Foi o carro-chefe da Carapuça e vai ser difícil encontrar outro igual a ele — diz o cabanheiro Leandro dos Santos Oliveira.

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