segunda-feira, 27 de maio de 2019

Polícia identifica atuação de três facções na região

Os Manos, Abertos e Bala na Cara atuam em Frederico Westphalen e municípios próximos

   Matéria: Leonardo Carlini. Foto Ilustrativa

A busca pela expansão do mercado ilegal fez com que grupos criminosos da região Metropolitana avançassem território e ocupassem o interior do Rio Grande do Sul. Em Frederico Westphalen e nos municípios vizinhos, a sensação de insegurança provocada pelas facções começa a ser sentida, tendo em vista que, ao menos três dessas associações atuam na região: Os Manos, Bala na Cara e Os Abertos.

Em investigações recentes, a Polícia Civil (PC) acredita que pelo menos três assassinatos ocorridos no ano passado tiveram vinculações com algum desses grupos. Em um dos casos ocorrido em julho de 2018, Manoel de Freitas, de 42 anos, foi atingido por sete disparos de arma de fogo. De acordo com a polícia, havia algum tipo de dívida ou desacerto entre a vítima e os executores do crime que se declararam membros dos Os Manos.

Na ocasião, quatro pessoas foram presas pelo crime. Em Frederico Westphalen, os mandados foram cumpridos no interior do presídio local, já que os indivíduos, de 30 e 22 anos, se encontravam presos pelo delito de tráfico de drogas. Já em Novo Hamburgo, foram capturados dois suspeitos, de 25 e 21 anos, com vinculações ao crime.

Para o delegado Eduardo Nardi, responsável pela Delegacia de Polícia de FW, é fundamental que a segurança pública coíba essa prática de ilícitos.

– Temos verificado que as organizações criminosas tentam ampliar essa rede e os órgãos de segurança pública trabalham para impedir isso com prisões e apreensões de drogas. A intenção é não deixar que eles ganhem espaço – disse Nardi.

Para o major Alexandre Moreira Pereira, comandante do 37º Batalhão de Polícia Militar (BPM), pessoas da região se integraram a determinados grupos. “No calor da ocorrência, percebemos que muitos alegam que são membros dessas associações. Aparentemente, alguns vêm de fora e se juntam com membros da comunidade, incorporando a facção na região, até porque eles precisam de gente daqui para fazerem os contatos para o comércio de drogas. Eles então tentam dominar o território para colocar as próprias leis”, destaca Pereira.

O tráfico como combustível

Não se sabe precisamente quando os primeiros membros de facções começaram a vir para a região, no entanto, de acordo com o Ministério Público (MP), um fato ocorrido em 21 de novembro de 2017 escancarou a presença criminosa em FW.

Na ocasião, um jovem de 21 anos, foragido do sistema prisional, com antecedentes por tráfico de drogas, homicídio e roubo, foi preso na companhia de um adolescente de 14 anos, no Distrito Industrial. Na abordagem, ambos informaram que vieram de Novo Hamburgo e se declararam participantes da facção Os Manos. Com eles foram encontrados 60 pinos de cocaína.

Nas proximidades do local onde as abordagens ocorreram, em uma parada de ônibus estava pichada a marca do grupo “14.18.12”, que identifica a facção. Dentre as pichações também estava escrito “Os Manos” no local.

Confrontos entre associações criminosas

Para o promotor de Justiça, João Pedro Togni, não se pode dizer qual associação criminosa representa mais perigo, sendo que todas são nocivas para uma comunidade. Ele revela que a expansão do crime organizado é péssima para uma região. “Sempre trabalhamos para conter esse tipo de associações. São fatos novos para a população em geral. São execuções que não haviam em FW. Normalmente os homicídios eram por brigas de bar, desavenças amorosas ou algum tipo de dívida, no entanto, hoje, o cenário vem mudando”, observa.

Togni avalia que a presença de grupos criminosos aumenta a oferta de drogas e, consequentemente, há uma disputa por território.

– Há indicativos que existem confrontos entre as facções criminosas, mas não tão presentes na nossa região. Os fatos decorrentes às facções ocorreram por alguém não aderir ao grupo ou ficar com algum tipo de pendência com os criminosos – relata.

O promotor também constata que para atuarem aqui, pessoas da região foram recrutadas à rede. “Muitas vezes, eles possuíam alguma referência local que dava abrigo e indicava quais eram as possibilidades de negócio, e, a partir de um determinado momento, passou a se constatar alguma adesão, ainda que forçada, de pessoas da região”, conclui.

Transferências impedem formação de grupos no presídio

Para a diretora do Presídio Estadual de Frederico Westphalen, Adriana Borella Rosado, as facções sempre fizeram parte das casas prisionais, no entanto, no interior, isso começou a ser percebido recentemente.

– Em Frederico Westphalen, a situação ainda está tranquila, porque conseguimos contornar a formação de grupos, mas sabemos que alguns membros estão na casa prisional. Eles já entram dizendo: ‘sou de tal facção’, mas já informamos que aqui os presos só cumprem pena não havendo divisão ao entrar em uma galeria ou outra – afirma.

Para que não tenha a formação de grupos criminosos, transferências são necessárias, a exemplo do ocorrido com 13 presos em 24 de dezembro do ano passado, quando detentos tentaram criar uma facção no presídio.

A intenção dos apenados era de que os chamados “plantões de galeria” (responsáveis pela abertura das celas) fossem trocados por membros da facção. Não tendo a reivindicação aceita pela direção do presídio, um princípio de motim iniciou.

Os apenados se reuniram nas proximidades do portão principal que dá acesso ao pátio de sol do presídio e começaram a discutir com agentes penitenciários.

O surgimento

As primeiras facções a surgirem no Rio Grande do Sul se formaram no Presídio Central de Porto Alegre, na década de 1990, uma se intitulando de Os Manos e outra de Os Abertos. Já o grupo Bala na Cara iniciou nas ruas da Lomba do Pinheiro, zona Leste da capital gaúcha. As características dos criminosos são de estarem armados e assegurar o domínio local pelo tráfico de drogas. A forma de atuação e a lucratividade com o comércio ilegal de entorpecentes fez com que os negócios fossem expandidos para cidades médias e pequenas.

Conforme o apontado pelo MP, que revelou o estatuto de uma facção em 2015, os membros possuem funções determinadas e atuam como gerentes, operários, vendedores e “soldados do tráfico”. Além disso, agem como prestadores de serviços no transporte ou acondicionamento da droga e também na lavagem do dinheiro.

Importante!

Sobre as execuções ocorridas na noite de terça-feira, 21, no viaduto da BR-386, em Frederico Westphalen (detalhes na página de Polícia), as investigações ainda não apuraram se houve a participação ou não de facções. De acordo com a PC, pelo caso ser recente, é prematuro afirmar as motivações do crime.


Fonte: Jornal O Alto Uruguai

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