Matéria: Leonardo Carlini. Foto Ilustrativa
A busca pela expansão do mercado ilegal fez com
que grupos criminosos da região Metropolitana avançassem território e ocupassem
o interior do Rio Grande do Sul. Em Frederico Westphalen e nos municípios
vizinhos, a sensação de insegurança provocada pelas facções começa a ser
sentida, tendo em vista que, ao menos três dessas associações atuam na região:
Os Manos, Bala na Cara e Os Abertos.
Em investigações recentes, a Polícia Civil (PC)
acredita que pelo menos três assassinatos ocorridos no ano passado tiveram
vinculações com algum desses grupos. Em um dos casos ocorrido em julho de 2018,
Manoel de Freitas, de 42 anos, foi atingido por sete disparos de arma de fogo.
De acordo com a polícia, havia algum tipo de dívida ou desacerto entre a vítima
e os executores do crime que se declararam membros dos Os Manos.
Na ocasião, quatro pessoas foram presas pelo
crime. Em Frederico Westphalen, os mandados foram cumpridos no interior do
presídio local, já que os indivíduos, de 30 e 22 anos, se encontravam presos
pelo delito de tráfico de drogas. Já em Novo Hamburgo, foram capturados dois
suspeitos, de 25 e 21 anos, com vinculações ao crime.
Para o delegado Eduardo Nardi, responsável pela
Delegacia de Polícia de FW, é fundamental que a segurança pública coíba essa
prática de ilícitos.
– Temos verificado que as organizações criminosas
tentam ampliar essa rede e os órgãos de segurança pública trabalham para
impedir isso com prisões e apreensões de drogas. A intenção é não deixar que
eles ganhem espaço – disse Nardi.
Para o major Alexandre Moreira Pereira,
comandante do 37º Batalhão de Polícia Militar (BPM), pessoas da região se
integraram a determinados grupos. “No calor da ocorrência, percebemos que
muitos alegam que são membros dessas associações. Aparentemente, alguns vêm de
fora e se juntam com membros da comunidade, incorporando a facção na região,
até porque eles precisam de gente daqui para fazerem os contatos para o
comércio de drogas. Eles então tentam dominar o território para colocar as
próprias leis”, destaca Pereira.
O tráfico como combustível
Não se sabe precisamente quando os primeiros
membros de facções começaram a vir para a região, no entanto, de acordo com o
Ministério Público (MP), um fato ocorrido em 21 de novembro de 2017 escancarou
a presença criminosa em FW.
Na ocasião, um jovem de 21 anos, foragido do
sistema prisional, com antecedentes por tráfico de drogas, homicídio e roubo,
foi preso na companhia de um adolescente de 14 anos, no Distrito Industrial. Na
abordagem, ambos informaram que vieram de Novo Hamburgo e se declararam
participantes da facção Os Manos. Com eles foram encontrados 60 pinos de
cocaína.
Nas proximidades do local onde as abordagens
ocorreram, em uma parada de ônibus estava pichada a marca do grupo “14.18.12”,
que identifica a facção. Dentre as pichações também estava escrito “Os Manos”
no local.
Confrontos entre associações criminosas
Para o promotor de Justiça, João Pedro Togni, não
se pode dizer qual associação criminosa representa mais perigo, sendo que todas
são nocivas para uma comunidade. Ele revela que a expansão do crime organizado
é péssima para uma região. “Sempre trabalhamos para conter esse tipo de
associações. São fatos novos para a população em geral. São execuções que não
haviam em FW. Normalmente os homicídios eram por brigas de bar, desavenças
amorosas ou algum tipo de dívida, no entanto, hoje, o cenário vem mudando”,
observa.
Togni avalia que a presença de grupos criminosos
aumenta a oferta de drogas e, consequentemente, há uma disputa por território.
– Há indicativos que existem confrontos entre as
facções criminosas, mas não tão presentes na nossa região. Os fatos decorrentes
às facções ocorreram por alguém não aderir ao grupo ou ficar com algum tipo de
pendência com os criminosos – relata.
O promotor também constata que para atuarem aqui,
pessoas da região foram recrutadas à rede. “Muitas vezes, eles possuíam alguma
referência local que dava abrigo e indicava quais eram as possibilidades de
negócio, e, a partir de um determinado momento, passou a se constatar alguma
adesão, ainda que forçada, de pessoas da região”, conclui.
Transferências impedem formação de grupos no
presídio
Para a diretora do Presídio Estadual de Frederico
Westphalen, Adriana Borella Rosado, as facções sempre fizeram parte das casas
prisionais, no entanto, no interior, isso começou a ser percebido recentemente.
– Em Frederico Westphalen, a situação ainda está
tranquila, porque conseguimos contornar a formação de grupos, mas sabemos que
alguns membros estão na casa prisional. Eles já entram dizendo: ‘sou de tal
facção’, mas já informamos que aqui os presos só cumprem pena não havendo
divisão ao entrar em uma galeria ou outra – afirma.
Para que não tenha a formação de grupos
criminosos, transferências são necessárias, a exemplo do ocorrido com 13 presos
em 24 de dezembro do ano passado, quando detentos tentaram criar uma facção no
presídio.
A intenção dos apenados era de que os chamados
“plantões de galeria” (responsáveis pela abertura das celas) fossem trocados
por membros da facção. Não tendo a reivindicação aceita pela direção do
presídio, um princípio de motim iniciou.
Os apenados se reuniram nas proximidades do
portão principal que dá acesso ao pátio de sol do presídio e começaram a
discutir com agentes penitenciários.
O surgimento
As primeiras facções a surgirem no Rio Grande do
Sul se formaram no Presídio Central de Porto Alegre, na década de 1990, uma se
intitulando de Os Manos e outra de Os Abertos. Já o grupo Bala na Cara iniciou
nas ruas da Lomba do Pinheiro, zona Leste da capital gaúcha. As características
dos criminosos são de estarem armados e assegurar o domínio local pelo tráfico
de drogas. A forma de atuação e a lucratividade com o comércio ilegal de
entorpecentes fez com que os negócios fossem expandidos para cidades médias e
pequenas.
Conforme o apontado pelo MP, que revelou o
estatuto de uma facção em 2015, os membros possuem funções determinadas e atuam
como gerentes, operários, vendedores e “soldados do tráfico”. Além disso, agem
como prestadores de serviços no transporte ou acondicionamento da droga e
também na lavagem do dinheiro.
Importante!
Sobre as execuções ocorridas na noite de
terça-feira, 21, no viaduto da BR-386, em Frederico Westphalen (detalhes na
página de Polícia), as investigações ainda não apuraram se houve a participação
ou não de facções. De acordo com a PC, pelo caso ser recente, é prematuro
afirmar as motivações do crime.
Fonte: Jornal O Alto Uruguai
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