Na noite desse sábado (1º), na
retomada da Terra Indígena (TI) Re Kuju (Campo do Meio, município de Gentil/Rio
Grande do Sul), por volta das 19 horas, o vice-cacique Kaingang Isaías da Rosa
Kaigõ e a liderança Deivid C. Kaigo sofreram um atentado a tiros, disparados
por dois homens ainda não identificados. O vice-cacique e a liderança
trafegavam de carro, do entroncamento da BR-285 em direção à comunidade Campo do Meio, quando foram emboscados e o carro alvejado
por diversos tiros. Isaías da Rosa Kaigõ foi atingido na região da coluna e
Deivid não foi atingido. A comunidade Kaingang prestou os primeiros socorros e
encaminhou o vice-cacique ao hospital, em Passo Fundo/RS.
As lideranças da comunidade Kaingang
Re Kuju comunicaram imediatamente às polícias o violento atentado, porém não
ocorreu nenhuma diligência, tampouco as polícias compareceram ao local do
atentado para o levantamento dos fatos, apuração dos responsáveis pelos
disparos e investigação dos motivos. As lideranças Kaingang estão formalizando
denúncia junto ao Ministério Público Federal de Passo Fundo, exigindo a
identificação e criminalização dos autores, que estavam em uma caminhonete.
Os atentados com arma de fogo já
ocorreram em outras oportunidades contra a comunidade Kaingang da TI Re Kuju. O
primeiro, em dezembro de 2012, quando a casa do cacique Daniel Carvalho e de
outras famílias Kaingang, na comunidade Campo do Meio, foram alvejadas por
diversos disparos, inclusive de pesado calibre. Noutra oportunidade, em 2013, o
próprio vice-cacique Isaías da Rosa Kaigõ sofreu um atentado, quando também
teve seu carro alvejado por diversos disparos. Conforme relatos das lideranças
Kaingang, os atentados foram imediatamente comunicados às polícias, contudo
estas compareceram somente após alguns dias dos fatos. As investigações desses
atentados permanecem inconclusas, sem a identificação de nenhum suspeito das
autorias dos disparos, tampouco demandantes dos atentados.
As lideranças indígenas têm
manifestado preocupação e indignação aos constantes atos de violência que são
vítimas as comunidades indígenas no Rio Grande do Sul. Os atentados sofridos
atingiram e vitimaram diferentes comunidades indígenas, Kaingang e Guarani no
Rio Grande do Sul, através de atentados a tiros, assassinato de indígenas,
ameaças de morte, agressão física, discriminação e preconceito social (tanto de
forma direta, como no uso de redes sociais virtuais, mídia eletrônica e por
meios de comunicação tradicional – rádio, TV e jornal). Também preocupa o
silêncio de alguns meios de comunicação, ao não noticiarem os constantes
atentados sofridos pelos indígenas, óbvia evidência da parcialidade destes
meios de comunicação. Causa estranheza às lideranças indígenas, a rápida
criminalização, ação coerciva e prisão de lideranças e membros da comunidade
indígena, mesmo que em situação de suspeita ou sem provas dos fatos, quando de
atos imputados a autoria a estes. Porém, quando as comunidades e lideranças
indígenas são vitimadas ou sofrem atentados a integridade física ou social,
tais fatos não são apurados, e os autores e mentores dos fatos não são
identificados e criminalizados.
O Conselho de Missão entre Povos
Indígenas (Comin) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) exigem a pronta
investigação, criminalização e punição dos autores e mentores dos atentados à
integridade física e disseminação do preconceito e discriminação social
cometidos contra as comunidades indígenas no Rio Grande do Sul. O Comin e o
Cimi reiteram a urgência no atendimento dos governos (federal e estadual) aos
direitos territoriais tradicionais indígenas, através dos processos de
demarcação das terras indígenas, que se encontram paralisados em decorrência de
interesses alheios ao direito ancestral, reconhecido pela constituição federal
e acordos internacionais que o Brasil firmou. O adiamento no reconhecimento
deste direito é identificado como uma das motivações para a elevação da
violência contra povos e comunidades indígenas no Brasil, bem como para a
promoção de campanhas difamatórias e preconceituosas contra as comunidades
indígenas.
Inserido por: Administrador em 03/08/2015.
Fonte da notícia: Cimi Regional Sul e Conselho de
Missão entre Povos Indígenas
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