sábado, 25 de julho de 2015

CEEE e Corsan atraem interesses privados

Referência em suas áreas, empresas devem integrar pacote

CEEE e Corsan atraem interesses privados | Foto: Arthur Puls / CP Memória
   CEEE e Corsan atraem interesses privados | Foto: Arthur Puls / CP Memória

As duas companhias que têm sua história associada às disputas políticas no Rio Grande do Sul e que são uma espécie de referência em suas áreas estão na lista de empresas que poderão ter partes privatizadas dentro da política de venda de ativos em estudo no governo do Estado. 

A Corsan, que ainda possui capital 100% público, e que atua no abastecimento de água e esgotamento em 324 das 497 cidades gaúchas, e o Grupo CEEE, parcialmente vendido no governo de Antônio Britto (PMDB), mas que mantém sob o controle público 7 mil quilômetros de linhas de transmissão e 28,5% da geração de energia elétrica, além de atender a 1,6 milhão de clientes em sua área de distribuição.

Ciente da importância estratégica das duas companhias e da polêmica que a abertura de capital da Corsan ou a privatização de mais uma fatia da CEEE envolve, o governo do Estado tenta encaminhar os estudos a respeito das vendas de ativos com discrição. Mas as declarações pontuais do governador José Ivo Sartori (PMDB) e do vice, José Paulo Cairoli (PSD), a respeito do tema, instalaram o debate entre partidos da base aliada, investidores e entidades de classe.

“Todos os setores de infraestrutura interessam. Isso inclui saneamento, gás, energia elétrica, transporte e irrigação. O que não adianta é abrir capital de um mercado para o qual não há horizonte. Ou o Estado querer se desonerar daquilo que não funciona. Aí o melhor é extinguir”, resume o presidente do Fórum de Infraestrutura da Agenda 2020 e vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral (Sicepot/RS), Cylon Rosa Neto. 

“No nosso entendimento, o que vai solucionar os problemas do Estado não é a venda de empresas que atuam em áreas estratégicas, e sim a melhoria da gestão e da fiscalização. A Corsan e o Grupo CEEE desenvolvem políticas públicas. O investidor privado vai fazer isso?”, questiona o diretor-presidente do Sindicato dos Engenheiros do RS (Senge), Alexandre Wollmann. 


Divisão por regiões agrada a mercado

A possibilidade de abertura de capital da Corsan é apontada como polêmica não apenas porque a companhia atua na captação e distribuição de água potável, um bem que, cada vez mais, interessa a investidores no mundo inteiro. O debate ocorre também em função do formato como está estruturado o serviço no RS, que permite a pequenos municípios terem acesso a abastecimento de água e esgotamento a preços compatíveis com seus tamanhos. Isso ocorre porque a Corsan trabalha com o chamado subsídio cruzado: sua atuação em grandes cidades compensa aquela nas pequenas evitando que os preços disparem e, ao mesmo tempo, mantendo a companhia superavitária.

Os especialistas contrários à abertura de capital da companhia avaliam que os investidores privados não têm interesse em manter o sistema de subsídio cruzado. Citam as cidades de Uruguaiana, São Paulo e Paris como exemplos de lugares onde a iniciativa privada fez os sistemas naufragarem. E que as empresas, apesar de argumentarem que possuem maior capacidade de investimento do que o poder público, também buscam recursos no BNDES. 
 
Já empresários e especialistas que defendem a abertura de capital assinalam que ela já foi adotada em outros estados brasileiros, que o programa de saneamento conquistado pela companhia ainda está muito aquém das necessidades da sociedade e que há preconceito ideológico por trás da manutenção do atual modelo. 

“É evidente que o que não tem capacidade de se autossustentar não fica em pé. Quando não há atratividade, o Estado deve usar um sistema misto ou um outro tipo de mecanismo. No caso da Corsan, para estes municípios que não são atrativos, podem ser feitos consórcios por regiões, com eles agregados a outros de grande atratividade, de forma a atingir escala”, adianta o representante da Agenda 2020, Cylon Rosa Neto.

“Essa proposta de dividir a Corsan em regionais, a iniciativa privada ficar com o filé e o Estado com o abacaxi, é a mesma da época do governo Britto. Queremos uma discussão técnica, com a publicização dos números e investimentos”, rebate o diretor de Negociações do Senge, Tadeu Rodrigues.

Corsan:

• Criada em 1965, tem capital 100% público e possui contratos com prefeituras para abastecimento de água e esgotamento em 324 cidades gaúchas, atendendo aproximadamente a 7 milhões de pessoas. No ano passado, a companhia apresentou superávit superior a R$ 200 milhões e sua capacidade de endividamento é de cerca de R$ 600 milhões.

Por que interessa aos investidores privados?

• Além de ser superavitária, a Corsan atua em um setor que passou a ser cobiçado mundialmente: a captação e distribuição de água. Como a água potável tende a ser recurso cada vez mais escasso, a estimativa é de que o retorno financeiro do negócio seja não apenas crescente, mas garantido. O esgotamento está vinculado à mesma questão. As cidades terão cada vez mais necessidade de sistemas eficientes de tratamento, de forma a não extinguir suas fontes de recursos. 

• Seu valor projetado para venda é de, no mínimo, R$ 1,5 bilhão


CEEE: 

•  Abriga a Companhia Estadual de Geração e Transmissão de Energia Elétrica (CEEE-GT) e a Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE-D). É a terceira maior indústria do Estado, com orçamento de R$ 5 bilhões/ano. Na composição societária, o Estado detém 65,92% das ações e a Eletrobras outros 32,59%. A empresa passou por processo de privatização nos anos 1990.

Por que interessa aos investidores privados?

• A CEEE-GT possui o domínio de linhas de transmissão em todo o RS, que inclui o cabeamento de redes de fibra ótica. Já a CEEE-D detém o controle sobre os postes onde está o sistema de TV a cabo, sendo apontados como fatores localizados de interesse. Os chamados fatores “macro” incluem a divisão do mercado nacional, onde grandes grupos projetam incrementar sua atuação. Hoje, no Brasil, 12 empresas sob controle público respondem por 91% do mercado físico de distribuição de energia.


Flávia Bemfica
Correio do Povo

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