Um baile funk em Paraisópolis, uma das maiores
comunidades da cidade de São Paulo, terminou com ao menos com nove pessoas
morta na madrugada deste domingo. Um tumulto ocorreu depois de uma perseguição
policial seguida de troca de tiros, segundo a Polícia Civil, e as vítimas foram
pisoteadas. Policiais do 16º Batalhão Metropolitano que participavam da
Operação Pancadão no bairro reagiram após dois homens em uma moto efetuarem
disparos de arma de fogo e os seguiram até o local da festa. Os agentes foram
recebidos com pedras e garrafas, e usaram “munição química” para dispersar a
multidão.
Por volta das 4h, cerca cinco mil pessoas
participavam do baile. Ao todo, nove pessoas pisoteadas foram levadas ao
pronto-socorro do Hospital do Campo Limpo, onde os médicos constataram as
mortes. As identidades das vítimas – uma mulher, sete homens e um
adolescente de 14 anos – ainda não foram divulgadas. Outras sete foram
socorridas com lesões e encaminhadas ao AMA Paraisópolis. A polícia diz
que não houve disparo de arma de fogo pelos policiais e nenhum dos dois
suspeitos foi preso depois da perseguição.
"Eles usaram as pessoas como escudos humanos
para tentar impedir a ação da polícia. As pessoas foram na direção (dos
policiais) arremessando pedras e garrafas. Houve a necessidade de munição
química. Foram quatro granadas, duas de efeito moral e duas de gás
lacrimogêneo, além de oito disparos de bala de borracha para dispersar as
pessoas que estavam no local colocando a vida dos policiais e dos frequentadores",
diz o porta-voz da PM, o tenente-coronel Emerson Massera.
Ao todo, 38 policiais participaram da ação.
"Não houve tentativa de dispersar toda aquela multidão, tanto que o baile
permaneceu até 10 horas. (As pessoas) não foram encurraladas, não havia
objetivo de encurralar. Uma pessoa tropeçou e caiu. Outras estavam tentando
sair e pisotearam", completou. O tenente-coronel defendeu o uso de bala de
borracha na operação. Segundo ele, em ocasiões como essa, a recomendação é o
uso progressivo da força "Começa com a verbalização, depois a contenção
com munições químicas e, se necessário for, o elastômero. É claro que é um dos
últimos recursos. Ali é possível que tenha sido empregada de maneira
correta", afirmou.
Massera afirma que a investigação ainda vai
apontar se houve falhas na ação. Segundo ele, vídeos reunidos pela
corporação ainda serão analisados, durante o inquérito
policial-militar, para apontar se as gravações realmente se referem a esse
baile funk e se houve excessos. Algumas imagens, de acordo com Massera,
"sugerem abusos e ação desproporcional por parte da polícia", mas
ainda não é possível apontar responsabilidades. "O rigor na apuração
vai responsabilizar quem cometeu algum excesso, quem cometeu algum abuso."
O governador de São Paulo, João Doria,
manifestou-se pelas redes sociais e lamentou o ocorrido. "Lamento
profundamente as mortes ocorridas no baile funk em Paraisópolis nesta noite.
Determinei ao Secretário de Segurança Pública, General Campos, apuração
rigorosa dos fatos para esclarecer quais foram as circunstâncias e
responsabilidades deste triste episódio", escreveu pelas redes sociais.
Comunidade
reage
O advogado e membro do Conselho Estadual de
Direitos Humanos (Condepe ) Ariel de Castro Alves afirma que
"aparentemente, foi uma ação desastrosa da PM que gerou tumulto e mortes”.
"Todas as circunstâncias precisam ser apuradas, se de fato houve uma
perseguição policial contra suspeitos ou se isso foi inventado como um álibi
dos policiais", afirmou o advogado Ariel de Castro Alves, membro do
Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe). "Mas, mesmo tendo
perseguição, não se justifica esse tipo de ação. Deveria ter um planejamento
maior, já que ali estavam cinco mil pessoas. A polícia precisa estar
preparada para evitar tragédias, desastres, mortes, tumultos, como esse que
ocorreu em Paraisópolis", disse.
Líder comunitário em Paraisópolis, Gilson
Rodrigues conta que "é comum que a polícia jogue bombas durante os
bailes" que acontecem nos fins de semana na comunidade. "É uma
enorme irresponsabilidade da PM fazer isso. Afinal, são jovens que querem se
divertir, que não têm acesso à cultura e arrumaram um jeito de se divertir. O
bairro ficou famoso, tem pobres, mas também tem ricos que frequentam (o
baile)."Ele acrescenta que ainda não tem informações se as vítimas são
moradores do bairro, já que esse eventos costumam atrair público de fora.
A Secretaria Municipal da Saúde, por meio da
Autarquia Hospitalar Municipal, informou que 10 pessoas, que estavam nesta
ocorrência, deram entrada na Unidade de Pronto Atendimento e no Pronto Socorro
do Hospital do Campo Limpo. Uma permanece sendo atendida.
Por Correio
do Povo, R7 e AE
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