Thunberg começo a ganhar notoriedade mundial em
agosto do ano passado
A ativista ambiental Greta Thunberg, de 16 anos,
foi escolhida como "personalidade do ano" pela revista
norta-americana Time. A imagem de capa da publicação traz a jovem perto do mar
junto da frase "o poder da juventude".
A ativista começou a ganhar atenção em agosto do
ano passado, quando iniciou um protesto solitário na frente do Parlamento
sueco. Todas as sextas-feiras, ela passou a faltar às aulas e, portando apenas
um cartaz com os dizeres “em greve escolar pelo clima”, distribuía folhetos com
uma lista de fatos científicos sobre as mudanças climáticas e explicações sobre
por qual motivo ela estava em greve.
O ato era simples, mas firme: ela estava decidida
a manter seu manifesto silencioso por todas as sextas-feiras até que o
governantes do seu país tomassem medidas concretas para reduzir suas emissões
de gases de efeito estufa. Sua reivindicação era que a Suécia se adequasse à
meta estabelecida pelo Acordo de Paris de conter o aumento da temperatura do
planeta a bem menos de 2ºC até o final do século.
Por algum desses motivos difíceis de entender,
visto que a adolescente sueca não foi a primeira jovem bem articulada a
protestar pelo clima, o protesto de Greta ganhou o mundo e foi o início de um
movimento chamado “Fridays for Future” - sextas pelo futuro, que mobiliza
milhões de pessoas, em sua maioria jovens, em todo o planeta.
Um resultado inesperado visto que, quando teve a
ideia da greve escolar, Greta conta que buscou a adesão de outros colegas, mas
sem sucesso. Poucos meses depois, porém, no final do ano passado, ela já tinha
ganhado tanta projeção que foi convidada a se dirigir a diplomatas, ministros e
chefes de Estados na Conferência do Clima da ONU, na Polônia.
Em janeiro deste ano, discursou no Fórum
Econômico Mundial, em Davos: “Os adultos continuam dizendo: ‘Devemos dar aos
jovens esperança’, mas eu não quero sua esperança. Eu não quero que você seja
esperançoso. Eu quero que você entre em pânico. Eu quero que você sinta o medo
que sinto todos os dias. E então eu quero que você aja.”
As Sextas
pelo Futuro continuaram atraindo cada vez mais gente. Em março, ela foi
indicada por um deputado do Partido Socialista norueguês ao prêmio Nobel da
Paz. “Se não fizermos nada para conter a mudança do clima, ela será a causa de
guerras, conflitos e refugiados”, disse o deputado Freddy André Øvstegård.
“Greta Thunberg lançou um movimento em massa que eu vejo como a maior
contribuição para a paz.”
Liderança
Sua figura magrinha, diminuta, séria, serena e
decidida influenciou pessoas com mais força e rapidez do que qualquer outra
tentativa anterior de manifestação ambientalista. A menina se transformou em
uma liderança climática e um símbolo de esperança. Diagnosticada com a síndrome
de Asperger, um tipo leve dentro do espectro do autismo, Greta tem uma clareza
impressionante. Seus discursos baseados no melhor conhecimento científico sobre
o problema são precisos, duros, diretos, convincentes. E ela não poupa ninguém.
Neste ano, na marcha pelo clima em Nova Iorque
que antecedeu a Cúpula do Clima da ONU, ela falou: “As pessoas que têm poder em
todo o mundo são iguais em promessas vazias, em mentiras, em inação. A gente
não tomou as ruas, não sacrificou nossa educação para fazer selfies com
políticos que dizem que nos admiram. O que queremos é um futuro seguro. Estamos
aqui para acordá-los”, disse a ativista. “Somos uma onda de mudanças”,
acrescentou na ocasião.
Três dias depois, ela abria a cúpula convocada
pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, para que os países
apresentassem planos mais ambiciosos para conter a crise climática. Greta
proferiu seu discurso mais emotivo desde o início da sua jornada. Suas feições
deram a impressão que ela estava sofrendo ao dizer tudo aquilo.
“Isto está completamente errado. Eu não deveria
estar aqui. Eu deveria estar na minha escola, do outro lado do oceano. E vocês
vêm até nós, jovens, para pedir esperança. Como vocês ousam?”, afirmou. “As
pessoas estão sofrendo e estão morrendo. Os nossos ecossistemas estão morrendo.
Nós estamos vivenciando o começo de uma extinção em massa. E tudo o que vocês
fazem é falar de dinheiro e de contos de fadas sobre um crescimento econômico
eterno. Como vocês se atrevem?”, continuou.
Brasil
O Brasil também já esteve em pauta nos discursos
de Thunberg. Ela afirmou no último domingo, que os povos indígenas do Brasil
estão sendo assassinados por proteger as florestas. "Os povos indígenas
estão sendo literalmente assassinados por tentar proteger as florestas do
desmatamento. Repetidamente. É vergonhoso que o mundo permaneça calado sobre
isso", escreveu Greta, que compartilhou nas redes sociais uma notícia da
Al-Jazeera sobre as mortes no país.
Questionado nessa terça-feira sobre o assassinato
de dois indígenas no Maranhão, o presidente
Jair Bolsonaro respondeu que a ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos, é uma
"pirralha". "Qual o nome daquela menina lá, lá de fora? Tabata,
como é? Greta. Já falou que índios estão morrendo porque estão defendendo a
Amazônia. Impressionante a imprensa dar espaço para uma pirralha dessa aí, uma
pirralha", disse o mandatário. Em um ato de ironia após a declaração do
Chefe de Estado, Thunberg mudou no mesmo dia sua descrição no perfil oficial do
Twitter para "pirralha".
Em entrevista ao Estado concedida em março. por
email, quando as “sextas pelo futuro” já atraíam milhares de pessoas no mundo,
Greta contou que realmente a consciência da crise do clima era algo que a
atormenta desde muito cedo. “Acho que eu tinha uns 9 anos. Pensei como era
estranho que uma coisa que parecia tão importante não estava sendo levada a
sério por ninguém. Os professores diziam uma coisa e ainda assim todo mundo
estava fazendo exatamente o oposto”, disse.
Por Estadão
Conteúdo e AE
Correio do Povo
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